15 de outubro de 2024

Precisamos ser mais… (Parte 3)

“Precisamos ser mais” significa, em primeiro lugar, reconhecimento de nossa fragilidade, que ninguém é perfeito. Em segundo lugar, ressaltar no ser humano tudo aquilo que ele tem de grande e digno de valor. Em terceiro lugar, abrir o nosso coração, torná-lo livre para aquilo que amamos. Em quarto lugar, manter nossos ouvidos atentos ao chamamento da justiça. Em quinto lugar, desenvolvimento de nossas potencialidades, de nossos sonhos.

É nesse sentido que acreditamos que alguns seres humanos precisam ser mais… Alguns precisam ser mais humildes, corajosas, alegres, otimistas; outros, ainda, precisam ser mais honestos, solidários, sonhadores e tementes a Deus. Daí porque pensarmos que “Precisamos ser mais” é um imperativo que leva a pessoa acreditar mais nela mesma, na sua força interior, nos seus sonhos, nos seus valores, no amor, do que em qualquer outro projeto externo.

Pode ser que alguém pense assim: “Balela tudo isso. Eu tenho tudo na vida. Eu não preciso de ninguém”. Infelizmente, quem pensa assim se engana. Todos nós precisamos uns dos outros. Nenhum ser humano é autossuficiente. Sempre precisamos da companhia de alguém, seja para “jogar conversa fora” ou até mesmo para uma “acalorada discussão”. Somos seres sociais!

Por outro lado, alguma coisa me sugere que devemos ser mais pacientes, por várias razões, principalmente político-partidária. Estamos vivendo, no Brasil, uma época em que qualquer opinião contraria é motivo mais do quer suficiente para o conflito.

No entanto, o contraditório deve ser sempre o combustível para o diálogo e não para o conflito. Como é bonito ver duas pessoas, adultas ou não, conversando. O diálogo maduro, inteligente, onde ambos se respeitam, contribui para à paz e a harmonia social.

Pesquisas apontam que de 2016 para cá, as discussões que se davam apenas no campo virtual, nas redes sociais, ganharam terreno na vida real. Pasmem, o número de casos de agressões físicas e verbais saltou dos 12,8% para 42,3% nos dois últimos anos. E a causa de tudo isso? Intolerância à opinião alheia. E quando a discussão é sobre política ou religião os ânimos ficam ainda mais exaltados.

Parece que “Ninguém tolera mais ninguém”. É o “clima” do Brasil atual. Tudo é motivo para discursões, agressões, xingamentos, brigas. E isso tudo, infelizmente, pode ser percebido no trânsito, na fila do banco, no açougue, no supermercado, na farmácia, na escola, na igreja, na família… Parece que estamos perdendo à capacidade de convivência humana, ou eu estou sendo pessimista?

  Por falta de empatia, quantas amizades não foram desfeitas durante esses dois últimos anos no Brasil? Quantos parentes não deixaram de se falar? Quantos amigos nunca mais se viram? Quantos irmãos nunca mais se abraçaram? Quantos negócios desfeitos? Quantas mágoas? Quantas dores?

Não podemos generalizar, mas a mim parece que à intolerância chegou de vez no Brasil e por aqui fincou sua morada. É impressionante observar como algumas pessoas agem, sem qualquer pretexto, de forma preconceituosa. Não vou citar exemplos porque o espaço é pequeno, mas vou apenas lembrar aqui que quem age assim, com preconceito, só pode ser uma pessoa bruta, vulgar, descontrolada, doente.

É preciso aprender a ser tolerante, ser paciência, saber ouvir, ser amoroso. A capacidade de aceitar as pessoas com amor nos protege de nossas precipitações, de nossos erros. Quem ama de verdade não nutre em seu coração o preconceito; é sempre cuidadoso no falar e no agir; vai de vagar em sua forma de ver e interpretar as coisas porque não quer ferir ninguém e nem ser ferido. Como diz São Paulo: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.” (1 Coríntios 13:4)

Por fim, precisamos aprender a ser mais… Precisamos aprender a ser mais humildes, éticos, justos, cavalheiros, pacientes, gentis, acolhedores, pacíficos, solidários, amorosos… O mundo pede isso. O Brasil pede isso. Manaus pede isso. Eu peço isso. E você, em que precisa ser mais? Precisa ser mais em alguma coisa? Ou você se acha completo\a? Não precisa de nada? Lembre-se, foi o próprio Jesus Cristo que disse: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.” (Mateus, 5:5)

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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