11 de dezembro de 2024

Os verdes dólares do navio Ocean Explores e a Virgem Verde de Bolsonaro

O saudoso Bebé a bordo do barco regional de turismo da sua Amazon Explores declamava o poema do Encontro das Águas quando lá chegava, e no retorno do passeio para Manaus saltava do piso superior da embarcação e mergulhava nas águas do Rio Negro, no que o acompanhavam alguns turistas mais afoitos. Alguns de seus filhos já andavam naquelas aventuras diárias de 45 anos atrás.

A temporada 2021/2022 de transatlânticos de turismo internacional vai trazer para o Amazonas também o Ocean Explores e seus milhares de dólares.

Um dos principais atrativos para Manaus estar na rota da viagem é ainda o mesmo Encontro das Águas, composto das mesmas águas negras do Bebé mergulhador, acrescido das amarelas do Solimões. São águas orgulhosas que não se misturam ali.

O poeta Adelson Santos pediu em sua canção “Não Mate a Mata”, porque, segundo o próprio, “A virgem verde bem que merece, consideração”. Emendou ainda que “Em questões de Solimões, fundamental / É saber que o negro não se mistura, com amarelo”. 

Hoje, os competentes Eury Barros e seus irmãos, filhos do Bebé, continuam à frente da Amazon Explores e o Encontro das Águas continua no roteiro.

Os turistas continuam aportando milhares de dólares também chamados de “verdinhos” (dada a cor de sua tinta) na “Virgem Verde”, que até merece consideração, mas que em última instância têm mesmo é ajudado o turismo do estado.

O valor econômico da inércia da Amazônia, neste caso, estranhamente, parece potencialmente ser mais representativo do que pontes, estradas e sua urbanização.

Paris sabe o que significa turismo, e por isso investiu no Louvre e na Torre Eiffel.

Por aqui, e sem custo, a floresta e o Encontro das Águas já estavam prontos quando aqui chegaram os homens.

Caso ainda se concretize a negociação dos chamados “serviços ambientais”, se forem de fato monetizados, mais dólares surgirão para a Amazônia.

O Brasil talvez por isto planeje menos remoção de floresta e mais proteção dela, como prometeu oficialmente em abril passado o presidente Bolsonaro no evento Cúpula do Clima, junto com Joe Biden dos EUA, Xi Jinping da China e Macron da França, entre outros. Mais dólares se espera aparecerão a partir desta postura.

O agronegócio do Centro Oeste tem dado aval para esta política, e com isto, os números ascenderiam a patamares ainda não calculados.

Resta saber qual estratégia teria mais valor, e o Planalto parece que fez a conta.

A Virgem Verde mais valorizada por Bolsonaro vai se transformando num ativo econômico cada dia mais expressivo, mesmo sem estar no Louvre. A vantagem do Louvre é que ele tem porta, fechadura e vigilância efetiva, equivalente ao seu valor.

Juarez Baldoino da Costa

Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós- Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

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