7 de outubro de 2024

O “x” da questão aos militares e à maçonaria (parte final)

Em 2018, uma população de 57 milhões votou no discurso bolsonariano de “menos Brasília, mais Brasil”. Passados dois anos no poder, entre tantas decepções, vimos o “comandante e banqueiro” Castello Branco, agora, ex-presidente da “PETROBRAX”, reproduzir a forma deselegante de decisões estratégicas da empresa, comandada mais pelo sistema financeiro e pressão especulativa do preço das ações, que pelos interesses do Estado brasileiro.

A ironia “PETROBRAX” vem da era Fernando Henrique, onde o então presidente da PETROBRAS, Henri Philippe Reichstul, justificava a mudança do nome da empresa, pois, a marca era/estava “muito associada ao Brasil”.

Os atuais preços dos combustíveis e o peso deles na segurança alimentar e social nacional retratam o mais cruel destino àqueles governos, como o de Guedes/Bolsonaro, e populações guiados pela “mão invisível do mercado”. Caíram as máscaras obscuras do discurso eleitoral e vimos a “PETROBRAX” tornar-se um país dentro do Brasil. 

Castello Branco vendeu Urucu sem conversar com seus funcionários da Amazônia, nem, com as autoridades do Amazonas, reproduzindo os privilégios da “Corte” em detrimento da “Periferia”: mais, Brasília, ou Rio de Janeiro, menos, Amazonas, ou Amazônia. 

Afinal, o que somos? Continuamos/Somos “poucos” e moramos “longe” … 

A pouca transparência da “PETROBRAX” legitimou, na gestão Castello Branco, nossa “república das bananas”, mais interessada em fragmentar a empresa para privatizá-la, vendendo seus pedaços a “preço de banana”, “filés mignon” do patrimônio nacional (Urucu, campos do pré-Sal, plataformas, refinarias, gasodutos…), com a anuência do Supremo Tribunal Federal, e, talvez, sustentados por interesses difusos dos ministérios da Economia, das Minas e Energia, das Relações Exteriores ou, de elites financistas nacionais e multinacionais…

O Brasil torce para uma guinada de 180º nos destinos da Petróleo Brasileiro S.A. a partir da futura gestão de Joaquim Silva e Luna. Espera-se, inclusive, a revogação de alguns atos entreguistas e inescrupulosos da gestão anterior, como, por exemplo, o destrato do negócio recém anunciado da venda das reservas de óleo e gás natural amazonenses, na Bacia Sedimentar Solimões.

E, o que a PETROBRAS deveria vender, continua prevaricando…

Lembro quando, na primeira reunião do Conselho Administrativo da SUFRAMA (2019), Jair Bolsonaro, em seu discurso, anunciava, de forma pejorativa, que governos anteriores haviam “vendido reservas nacionais de potássio aos canadenses”. Falava o presidente sobre a venda dos depósitos de silvinita das jazidas de Fazendinha e Arari, concessões sob a responsabilidade da PETROBRAS, localizadas nos municípios de Nova Olinda do Norte e Itacoatiara. Ele exaltava seu comportamento, como parlamentar do Congresso Nacional, de haver pressionado o Governo Lula a reverter à compra, classificada por Bolsonaro, de “criminosa”.

Desconhecia o “pobre” parlamentar, hoje, “pobre” presidente da República, que, mesmo sem acesso às reservas do lado direito do rio Madeira (as mesmas permanecem concedidas pela União à Petróleo Brasileiro S.A., não havendo quaisquer operações de pesquisa e/ou movimento de investimentos exploratórios até hoje), os tais mineradores canadenses, captados pelo trabalho e planejamento estratégico do Governo do Amazonas, nunca foram “criminosos, nem especuladores”. 

Ao contrário, a partir do investimento em pesquisa mineral – que injetou na economia local, em municípios do interior (Autazes, Itapiranga, Itacoatiara), mais de R$ 200 milhões de dólares (entre 2008 e 2014) -, foram descobertas, pela empresa Potássio do Brasil, novas reservas fertilizantes de potássio (silvinita) na margem esquerda do rio Madeira, no município de Autazes. Resultaram do investimento em geocientistas do Setor Mineral, nacionais e internacionais, especialistas na engenharia da segurança de operações em minas subterrâneas no Brasil, Alemanha e Canadá, e na captação de novos investidores, empresas locais (Grupo Simões, Grupo FOGÁS, entre outros), que, na história da Zona Franca de Manaus, construíram uma necessária governança socioambiental amazônida, em prol da sustentabilidade de suas atividades econômicas/logísticas na Amazônia.

E olha o destino: tais reservas da margem esquerda tornaram-se mais atrativas que àquelas negligenciadas pela PETROBRAS, da margem direita do rio Madeira, mais antigas, que, por estarem em maior profundidade, continuaram (e continuam) com valor, mas, perderam o interesse e prioridade de investimentos.

Se tais reservas minerais deixaram de ser prioridades à PETROBRAS, por que não as licitar, primeiro, considerando as condições estratégicas do usufruto das jazidas fertilizantes pelo Estado nacional e produtores brasileiros? Por que não promover um diálogo entre a PETROBRAS e a Potássio do Brasil, despertando a compartilha de interesses/experiências corporativas no desenvolvimento seguro de uma proposta de mina subterrânea, na forma de “joint venture”? Não seria/é esse o “carro chefe” do Governo Bolsonaro – o agronegócio “pop”, “high tech” -, global, “salvador da pátria” da balança comercial brasileira?

Ressalto a importância estratégica do uso dos minérios fertilizantes pelo agronegócio nacional e sua condição, sine qua non, concomitantemente, de fortalecer/promover parcerias econômicas necessárias, nacionais e internacionais, público e privadas, à preservação das pobres ricas populações indígenas lindeiras às tais reservas do rio Madeira e da nossa Floresta Amazônica, frente ao avanço criminoso da fronteira agropecuária e seu movimento de grilagem e especulação fundiária. 

Podemos ser mais produtivos e competitivos do que já somos, oferecendo fertilizante mineral nacional, tecnológico, amazônico, mais barato, pela posição geopolítica das reservas minerais nas margens do rio Madeira, uma importante hidrovia “ao lado” do Cerrado brasileiro produtor.

Como, então, acreditar e investir num Brasil sem rumo, sem planejamento estratégico, sem prioridades?

O “X” da questão.

Os erros dos governos Lula e Dilma se perpetuam até hoje – tais reservas de potássio fertilizante agrícola permanecem paradas e concedidas pela União à Petróleo Brasileiro S.A. -, na obscuridade de interesses lobistas vigentes no Palácio do Planalto, um governo “sem corrupção”, nas palavras do presidente Bolsonaro; e da ineficiente ação regulatória da pobre, cada vez mais incapaz, e omissa Agência Nacional de Mineração (ANM), frente à “especulação praticada pelo próprio Estado brasileiro”, há décadas. 

O Governo Bolsonaro/Guedes, mesmo com seus “palpiteiros militares”, nos decepciona ao perpetuar os erros dos governos passados, importando e isentando de tributação os minérios fertilizantes, vindos de longe, muito longe (Canadá, Rússia, Alemanha, Israel), com fretes marítimos e terrestres cada vez mais caros, pagos pelos produtores rurais, grandes e/ou familiares e pelo nosso bolso, dos consumidores.

Que o Grande Arquiteto do Universo nos proteja e proteja o Brasil do presidencialismo de coalização, de novo com o Centrão, de presidentes negacionistas e de instituições que rasgam seus estatutos. 

Tanto aos militares, quanto aos Irmãos, conscientes, haverá a oportunidade da renúncia aos valores onde faltem respeito e honra às tradições e à ética, que devem/deveriam funcionar como uma “espinha dorsal” das sociedades. 

Ao se afastar da “espinha dorsal” da Ordem – formar livres-pensadores e sábios elevando-os acima da condição comum, contemporânea -, entendo e reforço que, no julgamento político, constitucionalmente, a Maçonaria e as Forças Armadas não deveriam apoiar governos… pois, com a falta da “espinha”, dobramo-nos, facilmente, a mercê de quem tem menos escrúpulos. 

E me desculpem, erram os que defendem/toleram os meios, inconstitucionais, que nunca, jamais, devem/deverão justificar os fins, quaisquer que sejam os fins. 

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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