19 de setembro de 2024

O “x” da questão aos militares e à maçonaria (parte 1)

Todos somos conhecedores do apoio da Maçonaria e das Forças Armadas no movimento de disrupção política que levou a eleição democrática e legítima do presidente da República Jair Messias Bolsonaro.

O canto hilário do General Heleno numa convenção partidária – “se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão…” – elegia o papel principal da participação dos militares no ecossistema político: o combate à corrupção. 

Lula, da mesma forma em 2002, era eleito, com essa mesma bandeira.

A corrupção está no imaginário das sociedades, tal como um câncer silencioso: não notamos a presença em nós mesmos, até que os sintomas aparecem e um especialista, médico, nos traz o diagnóstico, muitas vezes, através de análises e aparelhos ainda mais especializados.

Os mais velhos lembram de um comercial que gerou a chamada “lei do Gérson”: você não gosta de levar vantagem em tudo?  Vivenciamos tanto o comercial nacional que acabamos por naturalizar o “levar vantagem em tudo”, deteriorando o conceito positivista da moralidade de troca, do causa e efeito, do Ordem e Progresso.

O ato de corromper implica na deterioração, na depravação de hábitos e costumes. Há corrompedores e corrompidos, e mortos pela corrupção. 

O Século XX morreu, não nos mostrando caminhos virtuosos. Quando o muro caiu em Berlim sinalizava, como fato portador de futuro, que as guerras, frias ou quentes, não foram, nem são/seriam estratégias viáveis. Colocamos no horário nobre das televisões uma guerra em tempo real, jogamos aviões contra prédios privados e públicos, assinamos tratados nucleares de paz, e continuamos a investir trilhões de dólares na indústria de armamentos. 

Precisamos de um novo Renascimento.

Na década de 70, Alziro Zarur (1914-1979) publicava na saudosa revista Manchete, que “Satanás é a soma das maldades humanas”. Eu, criança, não entendia muito. Afinal, o que seria aquela figura horrenda, de chifres, rabo e tridente que reconhecia como diabo?

Cresci e, hoje, acompanhando nossa dura realidade pandêmica – que nos tem exposto nas redes sociais e noticiários, as mazelas interiores de seres humanos, com “s” e “h” minúsculos – passei, definitivamente, a entender o recado dado por Zarur aos brasileiros naquele periódico impresso nacional. 

O lobo bom, ou mau, interno, em cada um de nós, é alimentado por nossos pensamentos, palavras, ações e escolhas. 

Permanecer no erro foi, é e será sempre uma escolha pessoal, coletiva e corporativa/institucional. 

O Brasil não é e nunca será Mianmar. 

Possui instituições que até poderiam estar melhor representadas, mas, conforme nossa Constituição Federal, formam a República Federativa do Brasil, pela união indissolúvel de Estados e Municípios e do Distrito Federal, pelo princípio do Estado Democrático de Direito, e pelo trabalho dos Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Nossa Lei Maior, de 1988, é clara em seus artigos iniciais. 

Qualquer depreciação de sua interpretação, ou ato que a degenere, é corrupção.

De que valeu, ou vale, tantos recursos financeiros desviados ao interesse pessoal, ou de perpetuação no poder, se o corrupto, numa pandemia, é tão pobre quanto a sociedade corrompida, ou lesada pela corrupção? 

Dizem que Aristóteles Onassis, quando perdeu seu herdeiro, aos 23 anos de idade, num acidente aéreo, expressou, naquela ocasião, que daria toda a sua fortuna para ter o seu filho de volta.

Ao acompanhar o comportamento corrupto dos “fura-filas”, não só no Brasil, como em vários outros países, desenvolvidos, ou não; o status do mapeamento das campanhas globais de vacinação e os pedidos de clemência da Cruz Vermelha Internacional, percebemos que ainda existe um longo caminho civilizatório para que possamos alimentar o lobo bom que existe em cada um de nós, e nas Nações, formadas por um conjunto de Seres Humanos, igual a cada um de nós.

Ressalto, como reflexão, a leitura do Artigo nº142, Capítulo II, da Constituição Federal, das Forças Armadas:

“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. (Grifo meu).

Quando o Governo Federal se associa à representantes políticos do Congresso Nacional, denominados pelo General Heleno de criminosos, me pergunto: qual será o papel das Forças Armadas neste momento do Governo Bolsonaro?

Não seria hora de desembarcarem dos primeiros escalões, no sentido de tentarem ainda preservar a Instituição Nacional, nossas respeitadas Forças Armadas, permanentes, regulares, na defesa do Estado e não de governos?

Assim como na Maçonaria, os ritos, símbolos e hierarquias são pedras fundamentais aos seus trabalhos, um General é e será um General, estando ele na ativa, reserva, ou reformado. Portanto, será que tapinhas nas costas e abraços “sem máscaras”, numa festa de comemoração em Brasília, “privada” e paga por empresário desconhecido, provavelmente lobista, criminosa pelo momento pandêmico brasileiro, se constitui e se constituirá no papel atual de trabalho dos verdes-olivas desbotados no Governo?

Reforço, não deveriam os militares das Forças Armadas defenderem o Estado brasileiro?      

Como disse nosso presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, talvez, já não haja necessidade dos atuais “palpiteiros”… nosso “civil e atleta” já comanda o Congresso Nacional, sabe-se lá a que preço? … E, em seu Governo, “não existe mais corrupção…”, justificando-se quanto a finalização do trabalho da Lava Jato. 

Portanto, caros leitores, a corrupção, na sua elaboração, articulação e prática, já pode ser percebida e sentida pela população. Então, não é tão escondida assim. Aliás, a diferença é que hoje ela é feita às claras, de forma seletiva e sem punição, ao contrário de décadas passadas, quando se dava, integralmente, nos bastidores entre elites e governos.  (Continua)

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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