12 de dezembro de 2024

O Surpreendente Bolsonaro

 O presidente Bolsonaro vai virar um case na história do Brasil. Desafio para historiadores, analistas políticos, psicólogos e psiquiatras. E sua equipe mais próxima deve viver momentos de perplexidade e tensão permanente.

Foi eleito de maneira espetacular, com votação inédita, cercado de grandes esperanças. Discurso econômico, que é o que mais interessa a população sofredora, impecável. Montou um ministério de bons quadros nos postos relevantes, embora tenha se equivocado demais na Educação, por detalhes irrelevantes. Deveria ter recrutado no setor privado ou nos militares. O General Ruben Ludwig, ministro da Educação de Figueiredo, é lembrado como um dos melhores da pasta.

No entanto, apesar de tanto prestígio e expectativa tão positiva, foi levado por maus conselheiros a imaginar conspirações contra ele e colocar gente sua nas ruas. As manifestações que assistimos, em 2019, são próprias de oposicionistas e não de governistas. Tratou logo de brigar com os demais poderes, prejudicando o andamento dos seus projetos modernizadores do país. E não soube lidar com a mídia, que em todo mundo, e aqui não seria diferente, sofre forte presença das esquerdas. Isolado ou defendido no mesmo estilo agressivo. Política com agressões não funciona. Nunca funcionou.

Surpreendido pela pandemia, quando as coisas começavam a dar certo, reagiu negando a dimensão da tragédia que se abate sobre o mundo. Errou ao entregar aos estados e municípios grandes somas para equipar o setor de saúde, quando deveria ter mandado o material. Acabou vendo o dinheiro sumir na corrupção, sendo exemplo maior o Rio de Janeiro.

Uma avaliação isenta do governo constata mais acertos do que erros. Trabalho silencioso na desburocratização – apesar da perda do eficiente Paulo Uebel –, nas rodovias, ferrovias e nos portos, além do show na agricultura. As estatais deixaram de dar prejuízos e ser foco de corrupção. E, agora, está melhorando politicamente com as boas relações com as mesas do Congresso Nacional. Um grande avanço para obter reformas que gerem empregos e aumente a arrecadação. A PEC emergencial, tão badalada nestes dias, é, na verdade, tóxica, pois se trata de gastos, de endividamento, de emissão de moeda. O Brasil precisa é de empregos, e não de mesadas. Tudo passa pela imunização que está lenta e restrita ao PNI.

Mas a imprevisibilidade e inabilidade presidencial confunde tudo. O caso Petrobras é emblemático. Passada a fase de arrumação, venda de ativos, nada mais natural do que houvesse uma mudança. E o indicado tem as melhores referências. O problema foi a maneira, dando um tiro no pé quando fala mal da direção que foi colocada lá pelo governo. Os salários, fruto de um contrato de gestão do governo FHC, que não se mexeu, deveria ser de conhecimento do presidente e ter sido revisto há muito tempo. Mas diante da reação dos mercados e da pessoas bem educadas, que reagiram a forma com que mexeu na grande empresa, correu para reafirmar o compromisso liberal e começou os processos da ELETROBRAS e dos Correios. Mas é preciso mais, inclusive desidratar a Petrobras que ainda atua em setores em que é controladora ou monopolista. 

A compra de imóvel de alto luxo pelo Senador Bolsonaro  parece ter sido uma operação normal, mas convenhamos que inoportuna, imprudente, já prevista pelo próprio que seria  polemica. Homem publico tem de abrir mão de sua privacidade . Negrão de Lima dizia que no Poder, direta ou indiretamente, não se compra nem se vende nada. E os adeptos foram defender a compra pelo lado da origem do dinheiro, até aqui não questionada. Não entendem de politica mesmo.

Os brasileiros de bom senso, sem ideologia e sem ódio no coração terão, nestes dois anos, de conviver com um presidente que é mal-educado, imprudente, mas bem-intencionado.

A conclusão que se chega, com realismo e patriotismo, é do velho dito popular que diz que “ruim com ele, pior sem ele”. Mas que Bolsonaro, pelo menos, no caso das vacinas, libere para o setor privado, sendo mais racional a doação ao SUS da metade importada, e venda para a população em geral, clínicas privadas, laboratórios e hospitais, vetando restrições a liberdade de quem compra e paga faz com o que compra o que e quando bem entender. E temos pressa.  Sem burocracia e com velocidade. Muitas empresas querem vacinar trabalhadores e estão dispostos a pagar.

Aristóteles Drummond

É jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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