Para a nossa sociedade, de base utilitarista, o sociólogo alemão Max Weber, que viveu no século XIX, escreveu um livro bastante atual: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Nessa obra, o autor afirma que “para o homem crente a salvação está garantida por Deus independentemente do comportamento do sujeito”.
Em outra passagem, ainda mais instigante, ele escreve: “A riqueza é o sinal de salvação do homem crente, e consequentemente, a ética é a da produção da glória divina, a produção da prosperidade, da riqueza”. Ao contrário dessa ética, o evangelista Marcos (8,36) indaga: “De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Pensando sobre o assunto lembrei-me da história de um rico pai de família que levou seu pequeno filho para uma viagem pelo interior do Amazonas com o firme propósito de mostrar-lhe o quanto as pessoas podem ser pobres. O objetivo era claro: convencer o filho da necessidade de valorizar os bens materiais que possuía, o status, o prestígio social; queria desde cedo passar esses valores para seu herdeiro.
Quando eles chegaram ao destino final, depois de três dias de viagem pelos rios da Amazônia, passaram três dias e três noites numa pequena casa de taipa, de um morador da fazenda de seu primo. Em tudo o menino era atento, anotando em seu caderninho de bolso os mínimos detalhes, perguntando e conversando com todos.
Quando retornaram da viagem, o pai perguntou ao seu filho: – O que você achou da viagem? – Muito boa, papai! – Você viu a diferença entre viver com riqueza e viver na pobreza? – Sim. – E o que você aprendeu, meu filho? Depois de um breve silêncio, o filho abrindo o seu caderninho, respondeu:
– Eu vi que nós temos um cachorro em casa, e eles têm quatro. Nós temos uma piscina que alcança o meio do jardim; eles têm um riacho que não tem fim. Nós temos uma varanda coberta e iluminada com lâmpadas; eles têm as estrelas e a lua. Nosso quintal vai até o portão de entrada; eles têm uma floresta inteira.
Quando o pequeno garoto acabou de responder, seu pai estava perplexo. E para completar a sua resposta, o filho acrescentou: – Obrigado, papai, por me mostrar quão “pobres” somos!
Não é nenhuma avaliação negativa, mas quem é rico de verdade sabe que nem sempre a única maneira de explicar o mundo é pela via do materialismo. Ao contrário, quando somos solidários é que encontramos o verdadeiro sentido da riqueza. Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo são os maiores tesouros que uma pessoa pode ter.
Por tudo isso, tem razão o Evangelista Mateus (6, 19-20), quando diz que: “Não acumuleis para vós outros tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde ladrões arrombam para roubar. Mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde a traça nem a ferrugem podem destruir, e onde os ladrões não arrombam e roubam”.
Por fim, e não menos importante, o verdadeiro sentido da riqueza não está nos bens materiais, nas roupas, casas, fazendas, carros, livros, status, ou prestígio social, e sim no sentido que damos para os bens que possuímos e na forma como nos relacionamos com os outros, com os nossos irmãos!