A eleição de um representante de bares, casas de show e restaurantes é uma novidade em Manaus. Primeiramente a coragem do candidato em se colocar abertamente como tal. Durante toda a campanha mostrou sua indignação com a discriminação histórica que passa o setor, agravada nesta pandemia.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) classifica o setor como “de alimentação fora do lar” que, na verdade é um eufemismo e parece restringir a associação aos restaurantes, como de fato, em algumas cidades acontece. Isto está mudando, graças a um trabalho continuado.
William Alemão cansou dessa discriminação e partiu para a luta. Num jogo de alto risco, quando viu as viseiras do governo novamente apontarem para sua atividade, ao ver que 22 anos de seu trabalho seriam sugados pelo ralo daqueles que legislam sobre dinheiro alheio. Aliás, legislam sobre seus próprios proventos quando é para auto aumentá-los, resolveu enfrentar seus algozes no campo deles.
Demonstrou que bar é um local de sociabilização com a família; bar é um lugar de encontros românticos; de encontro de colegas; de encontros homo afetivos; de encontros extraconjugais. Bar não é uma igreja, o que não impede que seu proprietário siga fielmente uma religião. Enfim, é uma atividade lícita que não progride na mão de quem a exerce por obrigação, mas de quem ama este trabalho. Trabalho digno. Precisa existir legalmente, senão a clandestinidade toma conta.
Tudo isso William gritou e deixou claro para os seus eleitores durante a campanha. Muitos dos seus colegas descobriram que não estavam sós e, ostensiva ou secretamente se juntaram a ele. Outros o evitaram, pela franqueza que usou porque o estigma dos bares ainda está grudado como carrapato.
Quem ganha com eleição do William? Todo o setor; ganham em dignidade os profissionais garçons; ganham os músicos “da noite”; ganham os cozinheiros, cozinheiras, churrasqueiros e chefs em geral; ganham todos os profissionais sem qualificação porque vislumbram reconhecimento de sua profissão; os pequenos bares e restaurantes que terão nele um defensor; Todos os empresários porque entenderão que o poder público não deve agir como chantagista nem permitir em sua equipe alguém que o seja.
Quem perde com a eleição dele? Perde a hipocrisia da necessidade de mascarar o setor; a excessiva carga burocrática; o fiscal corrupto que modifica as exigências em cada semana.
William não foi hipócrita em suas assertivas, prova que não é necessário mentir para se eleger. Mostrou o funcionamento da burocracia pública, onde ela favorece e onde prejudica o contribuinte e quando a pandemia é uma mera ferramenta de achaque.
Bares e restaurantes não são achacados somente pelo poder municipal e estadual. Casas de shows são perseguidas pelo Ministério Público que, não apenas quer cumprir as leis, mas como num estado eclesiástico, “combater demônios que se manifestam em tais antros”. Alguns membros deste ministério já afirmaram isso extra oficialmente. Não podemos ignorar que se pessoas bem empregados frequentam bares, sua dignidade não é maior que a do garçom que o serve e que poderia facilmente trocar de lado com ele, se este fosse capaz de fazer o serviço daquele. William não saiu detrás do balcão de serviços, mas sim mudou o balcão para outro ambiente para de lá continuar servindo.