Este período de pandemia foi bastante complicado e bastante cheio de controvérsias em relação às decisões e ansiedades tanto do sistema político quanto da sociedade em geral. O sistema político transitou entre a necessidade de mostrar realidades completamente diversas da verdade, como se adiantasse esta mentira social e doentia para melhorar o sofrimento das pessoas. Ao mesmo tempo as decisões que seriam necessárias para diminuir o impacto destruidor da pandemia, iam sendo “empurrados com a barriga”, pelo medo de provocarem perdas políticas, independente de provocarem as tantas milhares de mortes que estamos vivenciando.
Ainda não aceito de forma alguma o fato de ter sido permitido o carnaval deste ano, quando já se tinha o conhecimento da existência do vírus. Muito menos aceito as desculpas que alguns governadores apresentaram, junto com as perdas econômicas do setor hoteleiro, justificando que “as costureiras das escolas de samba ficariam na miséria”. Será que estas costureiras estão vivas, mesmo com o carnaval tendo detonado esta pandemia em nosso país?
Quando as mortes ficaram incontroláveis, foram iniciadas as conhecidas picuinhas políticas conhecidas em nosso sistema político brasileiro, com as responsabilidades sendo jogadas do setor federal para o estadual e vice-versa. Nestas horas ninguém quer assumir a responsabilidade, pois só brigam para ser o “pai da criança” quando acontecem fatos positivos.
Pior de tudo é que depois de mais de sessenta mil mortes por conta deste vírus, a ansiedade tanto dos gestores quanto da irresponsável sociedade está levando à busca de uma abertura às atividades econômicas que pode ser um verdadeiro suicídio social e econômico. A sociedade já vem desde o início não dando a menor bola para as suas responsabilidades, deixando de usar suas máscaras, insistindo nas aglomerações e não aceitando a quarentena.
Esta semana por exemplo, o governo resolveu liberar os eventos sociais, fazendo as exigências formais de “cuidados” sanitários. Vamos analisar algumas coisas em um evento como um casamento ou mesmo uma festa de quinze anos, que tecnicamente estão liberadas pelas autoridades: será que os convidados de uma festa deste tipo, principalmente as mulheres, que fazem todo um processo de maquiagem, cabelo e tratamento para brilhar no evento, vão aceitar usar máscara durante o evento? Ou mesmo adentrar ao salão com a máscara cobrindo toda a produção que foi feita para aquele momento? Além deste fato, o decreto de liberação limita o horário dos eventos até a meia noite, quando estes eventos normalmente começam realmente a tomar corpo a partir das 23:00.
Temos que levar em conta nos interesses em fazer aberturas dos setores econômicos, citei aqui apenas um exemplo, e a racionalidade da vida real, as consequências sociais que podem advir. Os bares lotados que vemos em muitas esquinas de nossa cidade e de várias cidades do país, além da inevitável aglomeração que poderá acontecer após alguns drinks em qualquer tipo de festa, jogos, academias e outras atividades, levará INEVITAVELMENTE A NOVAS CONTAMINAÇÕES, o que nos leva a perguntas: VALE A PENA?
Esta pressa em voltar às atividades, que provoca o embate entre saúde e economia, acaba por deixar à mostra a total irresponsabilidade de uma equipe de gestores públicos completamente despreparada para exercer o cargo, pois não consegue analisar sua responsabilidade no momento de medir custo-benefício para a população de suas atitudes. Seria muito bom se tudo voltasse ao normal, se todos voltassem a trabalhar, com empregos e rendas recuperados, porém não podemos jamais esquecer que o custo de cadáveres espalhados por conta desta praga que é este vírus e que o aumento da quantidade de mortes por conta da incapacidade dos governantes é simplesmente INACEITÁVEL.
*Origenes Martins Jr é professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio