De que Amazônia se fala quando o assunto é desmatamento, bioeconomia, região remota, etnias indígenas, aquecimento global, rios voadores, nióbio, soberania nacional, eldorado dos espanhóis ou de Carajás? Nunca se falou tanto em Amazônia, como nunca veio à tona tanta demonstração inequívoca de que pouco ou quase nada se sabe das peculiaridades desta região que o mundo inteiro cobiça e o Brasil insiste em jogar para o futuro, posto que não sabe como fazer com seu presente.
Trancos e barrancos
E qual o projeto subjacente a essa falação tão prolixa? Como é possível elaborar e materializar um projeto com os disparates permanentes quando se fala em Amazônia? Não há projetos para a região por parte de um país que, visivelmente, não tem definições claras para sua floresta e segue dividido e atormentado pelo acúmulo de dilemas e problemas ignorados por tantos governantes desprovidos de qualificação para o tema. O Brasil não conhece o Brasil Amazônia, este pedaço colossal que o Governo Federal “…ainda não teve tempo de cuidar”, como disse recentemente um dos grandes Comandantes Militares que a Amazônia já teve, General Augusto Heleno. E não foi só este governo que não teve tempo de olhar para compreender e poder desenhar um formato inteligente de gestão da Amazônia. Seus sucessores até o tentaram aos trancos e desconectados barrancos.
Soberania e dinâmica digital
A quem caberia, prioritariamente, desenhar um modelo de gestão para a Amazônia? Aos militares? Sob diversos pontos de vista, teríamos razões para concordar, desconheço, entre as Instituições que aqui atuam, alguma que se comprometa com a Amazônia, muito além de seus atributos constitucionais, notadamente quando se fala em segurança e soberania nacional. Acontece que esta Amazônia tem outras configurações e outras exigências para serem planejadas. Ela não se esgota na segurança nacional, muito menos na soberania, um conceito sob tiroteio na dinâmica das comunicações instantâneas e da pirataria digital.
Mocinhos e bandidos?
Temos impulso de unidade para encarar essa questão? Infelizmente, vivemos num país onde as pessoas passaram a olhar umas para as outras como aliado ou como inimigo, numa divisão perigosa e estéril. Se espremêsssemos com questionamentos lógicos e práticos a razão desses confrontos, descobriríamos como não teríamos conteúdo para justificar a insensatez que eles traduzem. E isso tem levado o País a uma divisão empobrecedora e reduzido a nação brasileira a um universo de mocinhos e bandidos num filme de bangue-bangue.
Elucidar divergências e convergências
A rigor, a competência não é das Forças Armadas, do Poder Executivo, da OAB, do Congresso Nacional, da Igreja ou dos grupos de Ateísmo. A tarefa é de todos nós, de quem se dispõe a conhecer, debater e operacionalizar bons encaminhamentos. Precisamos aclarar divergências e convergências para fugir do pensamento linear sem contestação. Longe de uniformizar a narrativa, mas enriquecê-la com visões diferentes e competentes, é preciso querer e estar disposto a esboçar um projeto nacional, integral e integrado para a Amazônia.
Juntos e misturados
Obviamente, o maior interessado nessa movimentação somos todos nós, que aqui vivemos e trabalhamos. E exatamente por isso, precisamos, com base em um eventual projeto político e institucional, assegurar um marco regulatório para permitir o empreendedorismo com regularização flexível, dentro da clara distinção entre preservação e conservação, aqui entendidas como proteção e reposição de estoques naturais, baseadas no conhecimento sobre fragilidades e potencialidades do território, em normas propositivas, não proibicionistas, na gestão de negócios rumo a tão sonhada prosperidade. Numa palavra, precisamos de projetos, qualificação de recursos humanos, investimentos, infraestrutura e, principalmente, definição dos marcos regulatórios de construção de uma modelagem sócioeconômica e ambiental, de modo a contribuir para a construção de um País único e consciente da sua porção florestal.