11 de dezembro de 2024

O Brasil do meu tempo

Sinto saudades, sim. Final dos anos 50, início dos anos 60, quando eu nasci. Bons tempos. Naquela época a minha geração era formada por filhos de jovens trabalhadores esperançosos de um mundo melhor, cerca  de 10 anos após a Segunda Guerra Mundial.  Eu, negro, filho de um negro porteiro de  edifício e de uma branca, empregada doméstica. Ambos nordestinos e analfabetos. Mas muito honrados, honestos e trabalhadores, muito trabalhadores.

Não é como parcela dessa geraçãozinha de hoje que só reclama e fuma maconha. Muitos, a maioria, uns inúteis, de porcelana. Aos meus cinco anos de vida, morando no Catete, no Rio de Janeiro, assisti multidões pedindo a intervenção militar, pois o meu Brasil estava em uma verdadeira baderna política, e os militaras atenderam aos anseios da população e nos livrou do regime totalitário dos comunistas. Eu vi e vivi o período contrarrevolucionário todo, até 1985.

Não foi uma ditadura, como em Cuba, pois aqui o período militar terminou com eleições indiretas para presidente. Ganhou Tancredo Neves, disputando com Paulo Maluf, mas não exerceu o cargo, sendo substituído por José Sarney. Já viram ditaduras terminarem em paz e com  eleições na história da humanidade? Mas, voltando um pouco, em 1969 eu assisti, não lembro se foi na TV Excelsior, Tupi ou Globo, mas foi em TV preto e branco, a válvulas, que assisti a chegada do homem à Lua. Fantástico! Daí, me recordo e muito bem, também, em 1970, onde assisti a nossa Seleção Brasileira de Futebol conquistar o tricampeonato mundial de futebol. E fiquei 24 anos esperando a próxima vitória: o tetra, de 1994.

Interessante que naquele tempo todo moleque sabia o nome de todos os jogadores da Seleção e hoje a molecada sabe o nome de todos os ministros  do Supremo Tribunal Federal. Tempos modernos e a força da TV. Nos anos do Rock-and-roll e das músicas de James Brown, íamos às festas e às discotecas, a pé, de madrugada pela zona norte do Rio e Janeiro, pois minha adolescência foi em Olaria. Não existia tanta violência, como hoje, na minha linda cidade natal. Pena mesmo. Aliás, se comparar, eu vivia no paraíso. E os anos 70 foram incríveis para uns e dramáticos para outros. É a vida.

Vi, muitos anos depois, a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. A Guerra das Malvinas, aqui ao lado do nosso território. Antes disso, nos anos 80, no início mesmo, fui com meu pai em uma loja de departamentos para ele comprar um revólver calibre 38. Era fácil, simples e muito propagandeada a venda de armas de fogo ao povo, de maneira geral e, claro, com alguns cuidados. Nessa época aprendi e confirmei, e confirmo, e vou confirmar sempre: armas não matam, pessoas que usam erradamente armas, matam. Se fosse ao contrário, um carro também mata. Mas, o meu amado país sobreviveu a muitas coisas, desde que vim ao mundo. E sempre fomos um país que o mundo olha com atenção. Qual o país do hemisfério sul que atrai tantas atenções como o nosso?

Voltando, de novo, no tempo, eu vi e vivi um policial ser respeitado na rua e admirado, pelo simples fato de ser um policial. Eram bons tempos. Mas, a coisa degringolou no final dos anos 80 e até hoje não sei se devido aos governos que tivemos ou ao movimento das luas de Júpiter. Tenho minhas dúvidas. E não posso dizer que sabia de tudo, na época,  porque muito conhecimento me era transmitido pela imprensa nas TV, o que, de fato, nem sempre corresponde ao que realmente aconteceu, seguindo a dúvida do copo meio cheio ou meio vazio. Se eu pudesse dar um conselho  aos donos de TV por aí eu diria: cuidado, vocês têm muito poder e quanto mais poder, mais responsabilidades. Só isso. Hoje, o meu Brasil está um país maduro. E as manifestações da semana passada me levaram a acreditar que voltamos aos bons tempos. Claro que com as devidas proporções históricas. E viva o Brasil !

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

Veja também

Pesquisar