4 de outubro de 2024

O bom senso na CPI

 Como é bom ter gratas surpresas na avaliação de políticos brasileiros nestes dias. O senador Eduardo Girão, do Ceará, foi uma boa revelação. Membro da CPI da Pandemia, tem sido exemplar na correta observação do que deve ser a CPI no que toca ao momento que vivemos.

Desprovido de conceitos preconcebidos, ele estranha a maneira com que o presidente e o relator tratam depoentes, transmitindo que as conclusões deles estão prontas. E na direção de condenação do presidente da República.

O senador cearense vem se manifestando como que convencido de que o presidente negligenciou no trato da questão da vacina, no apoio às medidas recomendadas pelo mundo quanto ao isolamento e ao uso de máscaras. Ainda assim, lamenta que a CPI se limite a isso. 

Está patente que o governo levou seis meses para alterar a legislação que impedia as compras. Essa indiferença fez o nosso país levar meses dependente de duas vacinas, uma das quais claramente sabotada em sua fabricação pelo presidente, a Corovac, que acabou sendo a de uso majoritário na população. Estamos muito mal na vacinação pela insistente omissão do alto escalão do governo em providenciar vacinas, numa pandemia, alegando questões legais  facilmente removíveis, como, aliás, foram quando  não deu mais para empurrar com a barriga.

Girão cobra, e terminou por conseguir, que seja feita apuração rigorosa do uso dos vultosos recursos repassados pela União a estados e municípios. Estranha a demora com que a CPI procurou saber sobre os mais de 60 inquéritos abertos na Polícia Federal para apurar desvios. Cheira até a cumplicidade ou blindagem.

A CPI não pode ignorar a farra do dinheiro para salvar vidas. Teve estados que colocou a folha em dia, outros compraram respiradores, pagaram e eles não foram entregues. Outros compraram por preços, muitas vezes, superior ao de mercado. E ainda teve quem comprasse respiradores de uso apenas em ambulâncias. E ainda teve os fantásticos, e de passagem meteórica, hospitais de campanha. Cômico, não fosse trágico!

Pena que outros parlamentares representem esse espetáculo de radicalismo, defendendo o indefensável ou exagerando nas acusações e exorbitando no trato com depoentes. E fatos de conhecimento público não provoquem a ação do Ministério Público, do TCU e dos estaduais.

Vergonha internacional é termos admirável condição de vacinar até dois milhões de brasileiros por dia e estarmos sem vacinas. E com 60 países com melhor relação de vacinados por cem mil habitantes. Imperdoável!

A sociedade hoje não se deixa levar por esse tipo de comportamento. Mas, infelizmente, os homens que dominam a cena, no governo e na oposição, ainda não perceberam isso. Podem ter surpresas desagradáveis mais adiante.

O senador Eduardo Girão, sem procurar ser, se tornou um exemplo de equilíbrio e bom senso. Enquanto Renan Calheiros destila ódio e Fernando Bezerra tenta tapar o sol com a peneira.

Aristóteles Drummond

É jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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