Há mais de 54 anos estamos falando de “futuro” no Amazonas, mas para a metade da população, em especial a que vive no interior, esse “futuro” ainda não chegou, pois continuam vivendo na extrema pobreza segundo dados oficiais, inclusive divulgados, recentemente, pela deputada estadual, e atual secretária de ação social, Alessandra Campelo, durante solenidade do lançamento do auxílio estadual do governo Wilson Lima. O setor primário do Amazonas sempre foi e continuará sendo parceiro e defensor do Polo Industrial de Manaus. Não somente por conhecer sua importância econômica e social, mas também pelo comprometimento, conhecimento, dedicação e defesa das pessoas que conduziram e ainda conduzem o setor industrial no estado. Contudo, como afirmou em seu recente artigo o presidente da FIEAM, meu amigo Antonio Silva: “…não faz sentido estar no topo do ranking dos contribuintes da Receita Federal e ser um estado com 11 dos 50 piores IDH municipais do Brasil…”.
Concordo, plenamente, com o presidente da FIEAM, pois não faz sentido viver num estado 97% preservado, de vital importância ao mundo, mas, lamentavelmente, com a expressiva maioria de seu povo sem ter o que comer diariamente. O nosso setor primário (agricultura e pecuária sustentáveis) é o único caminho para ajudar o atual modelo econômico (PIM/ZFM) que não conseguiu interiorizar o desenvolvimento e tem a capital com quase 500 mil pessoas na pobreza. Nos últimos anos, uma ótima ideia que surgiu no estado foi a criação do Comitê de Apoio ao Desenvolvimento do Agronegócio no Amazonas- CADAAM que aproximou, formalmente, indústria e a agropecuária local, ou seja, aproximou, ainda mais, FAEA e FIEAM com vários e nobres objetivos, entre eles, a troca de conhecimento e a busca de parceria entre os setores. Sempre prestigiei esse fórum de debates, pela indústria a presença mais ativa sempre foi do amigo Nelson Azevedo, portanto, posso afirmar que ampliei meu conhecimento sobre questões que envolvem a indústria e, também, sobre o próprio setor que trabalho há quase 40 anos, o setor agropecuário local.
Pelo auditório da Fieam, justamente nas reuniões do CADAAM, já tivemos a palestra de renomados pesquisadores, cientistas, entre eles, o ex e o atual chefe da Embrapa Amazônia Ocidental, Everton Rebelo, mostrando, demonstrando com toda clareza que é possível fazer agricultura e pecuária no Amazonas respeitando, mantendo a floresta em pé. Não existe só o crescimento da tecnologia na área industrial, a cada dia a tecnologia no setor primário também avança em sustentabilidade econômica, social e, logicamente, ambiental. Poderia citar vários exemplos, mas vou mencionar apenas o ILPF que está no site da Embrapa com o seguinte conteúdo: …Há várias possibilidades de combinação entre os componentes agrícola, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponível, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuária (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF)…”. Precisamos respeitar a ciência, pois é possível fazer pecuária no Amazonas seguindo tais orientações, e a ministra da agricultura sabe disso. Respeitando a ciência, os pesquisadores, também é possível fazer agricultura sustentável no Amazonas. Esse o único caminho para ajudar o modelo econômico do Polo Industrial de Manaus a reduzir a inaceitável pobreza no Amazonas. Hoje, conseguimos manter a floresta em pé, e assim vai continuar, mas não protegemos o homem que nela vive em péssimas condições.
No Amazonas, nem o acesso aos financiamentos dos programas agroecológicos avançam, nem os voltados para o extrativismo como a política da PGPMBio que nasceu em 2009. Tudo isso já foi dito nas reuniões do CADAAM. Espero, também, que o Vaticano fique sabendo do tamanho da extrema pobreza no estado mais preservado do mundo. E que também fique sabendo que os manejadores do pirarucu (estes os verdadeiros defensores da floresta em pé) venderam sua produção anual abaixo do custo de produção e deixaram de receber mais de um milhão em subvenção federal. A Conab tem o CPF de todos os manejadores, é só solicitar. Portanto, toda vez que falarmos em ecologia, sociobiodiversidade, santuário, queimadas, avanço de fronteira, realizar novos seminários e congressos sobre a Amazônia, faço questão de lembrar que já temos uma política criada em 2009 (PGPMBio) cujo recurso financeiro ainda não chegou como deveria no bolso do extrativista. Por fim, quando falarmos em desmatamento é sempre bom lembrar as palavras do ex-superintendente da PF/AM que afirmou não ser o produtor rural o maior responsável pelo que acontece de errado na floresta. Isso precisa ficar muito claro, temos que punir os verdadeiros culpados, mas não criminalizar, não direcionar indiscriminadamente a responsabilidade ao produtor rural e às algumas atividades que a ciência já mostrou ser possível implementar em nosso estado.
Acertamos na proteção ambiental, mas há décadas só prometemos dias melhores a essa população que preservou. Esse “futuro” promissor ainda não chegou e não chegará a essa população se não contarmos com a agropecuária sustentável que nossos pesquisadores já sabem como fazer. Por favor, vamos defender o PIM/ZFM, mas não vamos ignorar, desprezar as tecnologias já existentes em nosso setor rural. O Amazonas, a fome, as famílias que estão na pobreza clamam por agilidade no ZEE, na regularização fundiária, no licenciamento ambiental e na agropecuária sustentável.