14 de setembro de 2024

                                Nem tudo vale a pena

O poeta português Fernando Pessoa, em seus conhecidos poemas, escreveu versos memoráveis. Destaco aqui um dos meus preferidos: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Este verso, além de sua beleza estética, encerra um profundo significado filosófico e espiritual. Ao longo de décadas foi um referencial de sabedoria na minha vida. Mas hoje prefiro inverter o significado deste lema, afirmando, sem o mesmo toque poético: Nem tudo vale a pena.

Sim, na vida, por mais que nossa alma seja grande, há coisas que, para mim, não valem a pena mesmo. Nunca valeram. Pode até ser que Pessoa tenha buscado significado semelhante por via poética, mais belo do que meu resumo ético dos nãos que precisamos aprender, afirmar e sustentar, para que, de fato, nossa alma não se apequene.

Ganância por poder e por dinheiro, a qualquer custo, não me valem a pena. Difamar, mentir, enganar, ludibriar os outros, também não vale. Furtar, roubar, idem. Usar de violência desnecessária com os outros, então, se trata de um evidente e grave erro espiritual, não apenas moral… O ódio não é, como explica o provérbio popular, um bom conselheiro, salvo se for de uma justa ira contra os abusos; Mas sem esquecer o ensinamento cristão: odiar o pecado, mas sem odiar o pecador.

Reconheço aqui minha perplexidade com o que está acontecendo em nosso país, com nosso país. Emendas secretas escandalosas, sob o controle de políticos altamente suspeitos, é um dos maiores escárnios, diante da sofrida população brasileira. Um festival de absurdos se associa a esta repulsiva prática corruptora: gente que compra apoio político popular com dinheiro desviado do próprio povo! 

O uso abusivo de dinheiro público, dentro e fora dos períodos eleitorais é uma calamidade nacional, aparentemente mais evidente no eixo Norte-Nordeste. Práticas legais, pseudo legais e ilegais, todas imorais, se associam para promover e enriquecer uma minoria “esperta”, que se aproveita da boa fé de uns e da má fé de outros. Agora mesmo, nas “pré-campanhas eleitorais”, sob o “olhar” complacente das autoridades judiciais e judiciárias, um festival de abusos está sendo perpetrado… Dentre eles, os jatinhos alugados por não se sabe quem, sendo usados por políticos que subitamente se parecem mais com bilionários sheiks árabes do que representantes do povo.

Enquanto políticos de diferentes correntes ideológicas adotam o princípio ultra maquiavélico de usar qualquer meio para atingir seu fim, o clima de ódio entre adeptos de diferentes correntes, que se comportam com fanatismo exacerbado, serve para jogar muita cortina de fumaça sobre os desvios cada vez mais graves dos desonestos. Isso desestimula cada vez mais pessoas sérias de bons propósitos a se envolver nas atividades políticas e partidárias, ampliando o espaço para os picaretas.

Para mim -e certamente para muitas outras pessoas -é decepcionante observar a ambição desmedida, associada à vaidade hedonista pelo “poder” se sobrepor aos interesses coletivos da verdadeira Política. Lamento muito por meu país, por meu Estado, por meu povo. Não sei até onde poderei persistir nas atividades políticas como um cidadão que, ao longo de décadas de atividades públicas, buscou o bem comum acima das vantagens pessoais e dos luxos milionários. Para mim, certamente, nem tudo vale a pena. Com sinceridade gostaria que fosse diferente. Que o Brasil não fosse apenas um país de segundo ou de terceiro mundo, mas uma verdadeira Nação.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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