11 de dezembro de 2024

Na beira do caos

   Qualquer governante de inteligência mediana, com certo grau de civilidade, patriotismo e bom senso, que pensasse no coletivo, constataria com antecedência mínima de dois anos que o momento é de colocar todas as energias, recursos, tempo e esforços para uma verdadeira operação de salvamento (de vidas, de patrimônio, de empregos, do moral da população), pra evitar que esse país afunde cada vez mais, evitando o caos e a anarquia. 

   Claramente não temos um planejamento para o Brasil (como mostra a atual crise energética, a desvalorização da nossa moeda, a inflação galopante e a ausência de metas e objetivos). Perdemos muito mais tempo com o “populismo” e interesses pessoais e familiares dos mandatários do que com as reais necessidades do nosso povo. 

   Estadistas lideram para todos de uma Nação com olhos voltados para o futuro, não para passado sombrio que deve ser rigorosamente rechaçado, para que jamais se repita. São muitas as ameaças à Democracia, com rompimento das regras, fechamento do Congresso e dos Tribunais e agressões ao Estado Democrático de Direito, com graves atentados à Constituição.   

   Quais foram as razões para as manifestações? Se as pessoas saíram de suas casas num calor terrível para protestar contra o desemprego, contra os quase 600 mil mortos na pandemia, contra a alta tarifa da energia elétrica, têm razão. Assim como tem razão quem luta por aumento salarial, mais empregos e fim da violência e das drogas, que estão acabando com as famílias. 

   Eis mais uma fortíssima razão para ir às ruas: em 12 meses até julho, a inflação oficial medida pelo IPCA avançou 8,99%. A gasolina subiu 19,5% em 2021 e o óleo diesel, 18%. O gás de cozinha 13,75% no ano e 29,3% em 12 meses. A energia elétrica acumula alta de 14,2% em 12 meses. Estes itens encarecem toda a cadeia de produção e de consumo do país.  

   Segundo o DIEESE, a inflação da cesta básica foi de 22,18% em 12 meses. Em julho, o valor da cesta básica na capital paulista para uma família de quatro pessoas quase empatou com o salário mínimo. O IGP-M, índice que reajusta os contratos de aluguel, acumula inacreditáveis 33,83% de aumento em 12 meses. A inflação para as famílias mais pobres foi de 10% em 12 meses e para as famílias mais ricas, 7%. E o seu salário, aumentou? 

   O cidadão não deve comprar uma briga que não lhe pertence e nem abraçar a balbúrdia, o caos e as crises fabricadas semanalmente. A quem interessa fechar o Congresso, acabar com o STF, brecar as diversas investigações em curso e parar a CPI da Covid? 

   Os brasileiros precisam de paz e harmonia, de desenvolvimento e esperança por dias melhores. Precisamos reconstruir essa Nação e isso não passa por massas insufladas, excitadas, raivosas. 

   A pacificação e a reconstrução não começam pela divisão dos brasileiros, agora classificados por grupos, uns contra os outros nas redes sociais, nas desavenças familiares, nas diferenças de opinião, e entre religiões (sem nenhuma religião em especial, até mesmo na escolha dos cargos). 

   Basta de inversão de valores! Investigados recebem publicamente, em rede nacional, status de celebridade ou de símbolos de uma “luta” que não é a do povo. 

   Alguém por lá se lembrou da preservação dos nossos ecossistemas, de mais vacinas para evitar mortes? De pedir empregos para a juventude, de exigir fortalecimento do SUS, por mais verbas para as universidades e para pesquisas que salvem vidas? Tudo isso ajudaria diretamente na recuperação da nossa economia. Um povo doente ou morto não produz, não vende, não compra, só nos faz sofrer. 

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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