Os esforços de monitoramento têm dois objetivos primordiais: a garantia da qualidade do produto e a redução do desperdício ao mínimo possível. A qualidade diz respeito à correspondência entre o que é desejado pelos clientes e usuários demandantes da tecnologia e o que lhes é efetivamente entregue, de maneira que quanto mais próximo o desejado estiver do recebido, maior a qualidade alcançada. Por outro lado, a redução do desperdício está relacionada com o nível de eficiência do processo de produção.
Quanto menor o desperdício, maior a otimização do aproveitamento dos recursos utilizados pelo sistema, de forma que a eficiência passa a ser um dos indicadores da qualidade, não do produto, mas do processo de produção. Assim, a qualidade diz respeito ao produto, enquanto a eficiência é intrínseca ao processo de produção. Ao se criarem mecanismos eficazes de monitoramento está-se produzindo produtos com qualidade e processos de produção eficientes.
Os sistemas de monitoramento são esquemas especializados na detectação de falhas ou possibilidades de elas ocorrerem. Esses sistemas estão vinculados, portanto, aos esquemas de manutenção do processo de produção, de forma que o tipo de monitoramento faz emergir o tipo de manutenção que nele deve ser realizado. Vale anotar, mais uma vez, que no processo de geração de tecnologias o produto que se está produzindo é justamente as etapas do processo.
Isso significa que o processo ainda não existe, ainda está sendo criado, tanto que nenhum produto ainda foi materializado. Como é algo inovador, as etapas vão sendo descobertas e validadas, se consideradas adequadas ao que delas é esperado; se não são validadas, precisam ser reinventadas. O caminho vai sendo, então, construído aos poucos, etapa por etapa, passo a passo. E nesse caminhar, as possibilidades de falhas vão sendo mapeadas, dando origem aos tipos de monitoramento necessários ao futuro processo de produção em pequena ou larga escala da tecnologia.
Um processo de produção é uma combinação de homens, máquinas, equipamentos, matérias-primas, tecnologias, inteligências e demais recursos para produzir alguma coisa. No nosso caso, a produção é a tecnologia e, mais precisamente, o passo a passo para produzi-la. O monitoramento visa a identificar a forma mais adequada de combinar esses recursos para gerar o produto com os atributos e funcionalidades requeridas. Por essa razão, há pelo menos seis possibilidades de falhas mapeadas pela ciência em suas causas: mão de obra, medidas, material, método, máquinas e meio ambiente. Dessa forma, diferente do que é tradicionalmente ensinado nas engenharias, o esquema de monitoramento deve focar não apenas máquinas, equipamentos, métodos e matéria-prima, como normalmente é feito, mas toda a combinação de recursos.
Ainda que o sistema de monitoramento seja eficiente, há falhas que acontecem. Não eram para acontecer, mas acontecem. São raras, mas são possíveis. É aqui que entram os esquemas corretivos de monitoramento. Há o monitoramento programado, em que um ou mais elementos da combinação são inspecionados e detectada a falha, que não é corrigida imediatamente, mas em uma data posterior, e os não programados, em que a inspeção é realizada apenas depois da ocorrência. É preciso calcular tanto uma quanto a outra possibilidade e documentar a forma apropriada de atuação.
Os monitoramentos preventivos são todos aqueles agendados. São feitos com base nas probabilidades de ocorrências de falhas e podem ser feitos de duas formas. A primeira é a sistemática, que segue algum tipo de cálculo de degradação, como o tempo de desgaste de material de determinado equipamento ou máquina, e a segunda é a periódica, em que o fator tempo é o determinante, quase sempre como decorrência de combinação com o fornecedor do recurso da combinação.
Os monitoramentos preditivos seguem uma lógica um pouco diferente. São realizados a partir da probabilidade calculada com metodologias diferentes e específicas para o recurso dentro de possibilidades de falhas do sistema de operação. São os principais agentes alteradores das etapas (por acréscimo ou por redução) do processo de produção. É preciso fazer a alteração antes que a probabilidade se torne efetiva.
Os monitoramentos detectivos, por serem ainda mais raros, exigem o uso de métodos e equipamentos sofisticados na busca de possíveis probabilidades de falhas, com o perdão do pleonasmo. A razão disso é que poderão ocorrer falhas no produto e no comprometimento da eficiência não detectadas pelos outros mecanismos de monitoramento. Provavelmente a causa pode estar justamente na combinação, interseção e conexão dos recursos que compõem o processo de produção.
Pode acontecer, finalmente, que as causas das falhas no produto e/ou no processo de produção esteja alhures, em outras unidades organizacionais, fora do ambiente de produção. É aqui que entra a ideia de monitoramento total, em que as interfaces entre atividades meio e o processo de produção são analisadas, assim como, por extensão, toda a cadeia de valor, que começa no cliente final e termina no fornecedor de última camada que seja possível averiguar. Neste caso, o processo de produção é visto como um elo de uma cadeia de valor que sofre e produz consequências tanto a montante quanto a jusante do fluxo de informação, de produção e financeiro.
O monitoramento do processo de inovação, portanto, é um esforço que os gestores e cientistas fazem para calcular a probabilidade de falhas no produto e no aumento da eficiência do esquema de produção. Em última análise, a intenção é garantir a satisfação dos usuários da tecnologia porque os atributos e funcionalidades desejadas lhes são entregues a um custo que está dentro de suas expectativas. Por isso, na atualidade, os cientistas não raciocinam apenas com o que está circunscrito no processo de invenção, mas também com as consequências de suas decisões ao validarem ou não cada etapa do futuro processo de produção da tecnologia que estão inventando.
*Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)