10 de dezembro de 2024

Luz da vida

Era apenas um ponto de luz. Brilhava. Iluminava o infinito. 

Momento único. Visão de criança. Voou distante.

Ficou perdido no tempo. Nos escaninhos da memória. 

Mas não se apagou. Permaneceu vivo. 

Em tua mente. Em tua mão. Em teus sonhos. Em teu coração.

Impregnou o teu ser. Em cada partícula. Humana. E espiritual. 

Eternizou uma visão. Um sentimento de criança. 

Singelo. Único. Indescritível momento. 

Eras bem pequenino. Apontavas a luz. Tu a vias no infinito. 

Solitária. Como tu. Propriedade particular. Somente tua. 

Onde para nós nada existia. Absolutamente nada percebíamos. 

Éramos práticos. Tua mãe e eu. Cegos adultos.

Donos da razão. Doutores do saber. Senhores do poder.

Imaginas coisas. Dizíamos solenes. Imaginar coisas é normal.

Próprio de uma criança. Pobres adultos. Iludidos pais.

O amor constrói. A ignorância poda. A prepotência destrói. 

A crença te fez forte. Guardião do teu sonho. 

Tolhido sem explicações. Desprezado sem pesquisa. 

Abandonado sem compaixão. 

Não há culpados. Quem poderá dizer. 

Ofertamos o que temos. Não o que desejamos. 

A vida criou seu rumo. Deixou marcas. Cicatrizes. 

Abriu estradas. Atalhos. O tempo curou a dor. 

E te formou. Hoje, tu és doutor. Fez ressurgir tua infância. 

Os velhos tempos felizes. Fez reviver o teu sonho. 

Um sonho desejado. Perseguido. Intensamente. Com ternura. 

Não há mais o que fazer. Dizer que imaginas o irreal. 

Falar que são coisas de criança. Miragens. Delírios. 

Tu és homem. Adulto. Único. Indivisível. Vacinado.

Obra completa de Deus. Capaz de plantar teus cravos. 

Tuas rosas. Teus lírios-do-campo. 

Sonhar os teus sonhos. A tua verdade. 

A pequenina luz ali está. Aquela mesma. Logo ali. 

Logo adiante. Nos labirintos de tua mente.

Emaranhado de tuas lembranças. Refulgente. Brilhante.

Ela é tua. Somente tua. De mais ninguém.

Da árvore que se podou brotaram novos ramos. 

Eles vingaram fortes. Viçosos. Vistosos.

Não há mais que se podar. Há mais que frutificar. 

Aplaudir. Recomendar. Cultivar a humildade. 

Viver a vida. Curar de vez a ferida. Crescer. 

Multiplicar os dons. Manter o amor no coração. 

Fazer da vida uma bela canção.

Vai, criança de luz. No adulto do corpo e da mente. 

Sonhar. Ser semente. Invadir corações. 

Entrega o calor da tua voz. Vai dizer que é possível. 

Viver. Um sonho guardar. Vai cantar o amor. 

A gratidão. O dom que Deus em ti plantou. 

Vai cantar a esperança. Viver o sonho de criança. 

Abraçar teus irmãos. Vai a eles ofertar.

A cada um. Um a um. A todos de uma só vez. 

Procura a tua alegria. Encontra tua paz.  

Voa. Sonha. Liberta o imaginário. 

Descobre a tua luz. Mistérios do teu pensar. 

Abriga essa luz nas palmas de tuas mãos.

Entrega a luz aos amigos. Ao teu coração. 

Faz dela a realidade do teu caminho.

Ela será luz do sol. Cintilar de estrelas. 

Calor dos enamorados. Noites de luar. 

Rebento. Fermento. Criança. Esperança. 

Redenção dos teus pais. Palco iluminado.

Canção em tua vida. Solitária conquista. 

Será a própria vida. Arte. Poesia. Emoção. 

Ninho da felicidade. Segredo do teu coração.                                                          

Homenagem ao meu filho, escrita em 2002, quando ele se formou em Medicina. Aos três anos, ele “enxergava” uma luz brilhando no infinito e nos apresentava como seu amigo. Nós, seus pais, não entendíamos o porquê da visão e o repreendíamos. A você, meu filho, Doutor Vinícius Suzano que, também sem entendermos, partiu para a casa do PAI, ontem, hoje e sempre, o NOSSO AMOR MAIOR. 

João Suzano

é escritor

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