O Brasil já cresceu a taxas superiores a 10%, no governo Médici, sob o comando de Delfim Netto no que se convencionou chamar de “milagre brasileiro”. Foram anos dourados, reconhecidos até por Lula, que costuma lembrar que era difícil fazer política sindicalista com pleno emprego e leilão de salários na porta das fábricas.
Hoje, com os gastos da pandemia, que a demagogia e a irresponsabilidade prometem ampliar, só mesmo três anos “milagreiros” para recuperar as perdas, evidentemente agravadas pela crise na política e no confronto das instituições republicanas. Não se removeu ainda os entraves para captação de investimentos fixos, geradores de renda e empregos, que são a corrupção, a legislação trabalhista, a insegurança jurídica, a complexidade e a dimensão da carga fiscal. O governo mandou propostas ao Congresso, mas elas estão nas gavetas das mesas da Câmara e do Senado.
Outro problema, se deslanchar a retomada do crescimento, será a oferta de mão de obra qualificada, que é escassa entre nós, com o agravante do chamado sistema S estar em crise de gestão, com investimentos milionários fora de sua atividade fim. Além de sedes suntuosamente instaladas. E o TCU, CGU, área econômica do governo e segmentos independentes da sociedade lamentavelmente não pressionarem por mudanças, inclusive éticas e morais. Uma caixa preta que até hoje ninguém mexeu, num sistema cartorial de representação, que não resiste a mais simples auditoria. O chamado peleguismo patronal resiste, embora seja mais peleguista do que patronal, pois muitos sindicatos beiram a caricatura na composição de seus quadros de sócios.
A economia brasileira anda precisando de recorrer a sabedoria dos seus grandes economistas do passado, mais atuais do que nunca. Mesmo o ministro Paulo Guedes, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, discípulos do grande “guru” que foi Campos, e por esta via do patrono de todos, Eugênio Gudin, encontram dificuldades em vencer resistências, desde o ranço estatizante de alguns setores fora da esquerda, como do empresariado que não quer deixar de receber benesses da legislação para proteção de sua obsolescência. Temos de virar este jogo para competir num mundo cada vez mais racional na produção de qualidade com preço competitivo.
Vender ativos, inclusive o Banco do Brasil, ficando a Caixa Econômica como instrumento financeiro do governo. E liberar os bancos para manterem agências estratégicas abertas nos finais de semana, como aeroportos, rodoviárias, grandes espaços comerciais. Tudo isso geraria empregos.
O Brasil tem pressa, as licitações de concessões estão muito atrasadas, privatizações com pouca objetividade, perdidas em detalhes protelatórios. Falta vontade política para abrir frentes geradoras de empregos no curto prazo, como abertura de bingos e cassinos, reforçar a Zona Franca de Manaus, para exportação, criar mecanismos ousados de estimular subscrição de novas ações de empresas cotadas, via anistia fiscal, com retenção dos papéis por cinco anos e liberação de 20% ao ano. Assim se liquidaria passivos financeiros e abriria espaços para novos investimentos. Nem tudo depende de dinheiro, depende de determinação. Ou de milagre.
*Aristóteles Drummond é jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro