Há séculos registramos pandemias com ondas mortais e do jeito como as coisas andam, logo teremos a 3a onda no Brasil.
Para o Centre for Evidence-Based Medicine (Oxford – https://bit.ly/2SnwB7R), o termo “ondas” iniciou desde uma epidemia na Rússia (1889-92) e que segunda ou terceira ondas são frequentemente retratadas como muito prováveis. Assim, no início de uma pandemia, é preciso rapidez na implementação de medidas não farmacêuticas para isolar e reduzir o impacto mortal das sucessivas ondas sobre a população, enquanto as vacinas estão sendo desenvolvidas. Neste sentido, Taiwan <https://bit.ly/3lMIcrE>, Vietnã <https://bit.ly/3xG2Z5N>, Tailândia <https://bit.ly/3gIt8L9> e NZ <https://bit.ly/3usB3Q9> são modelos de eficiência e integração nacional para salvar vidas contra a Covid-19.
A experiência exitosa desses países mostra que antes da OMS declarar a Covid-19 uma pandemia (11/03/20), as autoridades do Brasil deveriam ter atuado de forma ágil e integrada, a fim de gerir um plano estratégico para prevenir, preparar e enfrentar a pandemia, a partir de cenários ou níveis de alertas que permitissem a população ser reeducada com novos hábitos e amparada financeira, emocional e sanitariamente. Como isso não aconteceu, sofremos com 2155 mortes por milhão de habitantes, sem contar a subnotificação.
A convicção de que um desastre estaria a caminho do Brasil começou quando cheguei no Reino Unido em 02/03/20, não passei nem 3 semanas na Universidade de Manchester, houve lockdown, quase tudo fechou, exceto os serviços essenciais. Como morava perto de um hospital, não demorou muito para ouvir a cada 15 min., sirenes de ambulâncias levando doentes de Covid-19, o dia todo e por semanas, com muitos casos fatais em ab/20. Logo imaginei, se aqui está assim, região com um dos melhores sistemas de saúde do planeta <https://bit.ly/3i1omce p. 20>, no Brasil será um desastre.
No dia 29/03/20, entre os 25 países mais críticos, nosso país estava na 19a posição global com um total de 4065 casos. Após coletar e analisar dados sobre a evolução do número de casos de Covid-19 no Brasil e em outros 15 países, foi publicado um artigo científico <https://bit.ly/2ScY60U> contendo cenários de curto prazo, recomendações e explicações sobre os motivos pelos quais antes do final de maio/20 o Brasil estaria entre os 5 piores países do planeta, previsão efetivada em 16/05/20. Passados 697 dias desde 31/12/19, quando o “primeiro caso” foi reportado na China, o Brasil é o pior país em combater a Covid19, sendo o 2o pior do planeta em número total de mortos. E os motivos abaixo apontam que poderemos ter a ascensão de uma 3a onda entre junho e julho/21, mais perigosa para nossos jovens:
Primeiro motivo) Estratégia institucional de disseminar a Covid-19 sob a liderança do Presidente Bolsonaro
Neste Boletim técnico assinado por doutores da USP <https://bit.ly/3i3ib7K> os autores explicam como chegaram a essa conclusão. Essa estratégia também é observada:
a) pela impunidade e contínua quebra de protocolos sanitários <https://bit.ly/3wEwW4X>, visível no estímulo à realização/participação de eventos <https://bit.ly/3rqj8If, https://glo.bo/3uxXWRZ, https://bit.ly/3p5MWdF>, com registro de mortes de participantes envolvidos com as aglomerações, tais como do publicitário Weyne Vasconcelos, do professor universitário Angelo Antônio C. Martins, da cozinheira Geni Francisca de Melo, do cantor gospel e vereador irmão Lázaro, do Senador Major Olímpio e mais recentemente da servidora aposentada do TJMT, senhora Jane Toniazzo <https://bit.ly/3fxOpGz>, 5 dias após retornar de Brasília, quando participou da manifestação de apoio ao Mito em 15/05/21, evento organizado por produtores rurais. Para complicar, irresponsáveis do outro extremo da politicalha (PT, PC do B, PSOL, CUT, MST, etc) iniciaram manifestações, gerando aglomerações que aumentarão o número de infectados ao longo do tempo;
b) pelo negacionismo, disseminação de fake news e notícias distorcidas espalhadas pelo presidente <https://bit.ly/3mZY3ny, https://bit.ly/3aJvaWx, https://bit.ly/3d7mieL> e sua tropa, levando diariamente para o cemitério centenas de simpatizantes.
Neste artigo científico <https://bit.ly/34ujCUH> os Doutores Sandro Cabral, Nobuiuki Ito e Leandro Pongeluppe apontam que nas primeiras 52 semanas da pandemia, os municípios nos quais Jair Bolsonaro recebeu maioria dos votos em 2018, são os mais afetados por infecção e mortes de Covid19. Em locais onde ele teve mais de 50% de votos no 2o turno, o risco de infecção foi de 299% e o de mortes, 415% maior do que nos municípios onde perdeu a eleição. O estudo mostra os efeitos nefastos do negacionismo dos líderes sobre os próprios apoiadores e seguidores.
Segundo motivo) retorno das atividades de forma precoce
O último Boletim do InfoGripe da Fiocruz (28/05/21), alerta para a tendência de crescimento dos casos de SRAG na maioria dos Estados, capitais e DF, onde 96% dos casos são da Covid19. O cenário está associado à retomada das atividades de maneira precoce, o que manterá o número de hospitalização e óbitos em patamares altos, com tendência de agravamento nas próximas semanas.
Terceiro motivo) aumento da taxa de transmissão
Para o Imperial College (Londres) essa taxa em 10/05/21 era de 0,96 e saltou para 1,02 no dia 24/5/21 <https://bit.ly/3c3Egz2>, indicando o aumento da velocidade de transmissão do vírus no Brasil.
Quarto motivo) queda do nível de isolamento social
Datafolha <https://bit.ly/3bZNvAk> ouviu 2071 pessoas, entre 11 e 12 de maio/21, e revelou que 3 em cada 10 adultos (30%) estão totalmente isolados ou saem de casa somente quando inevitável. É o nível mais baixo de isolamento desde o início das restrições. Ressalto que antes da crise do oxigênio em Manaus e a descoberta da sua cepa (variante P1) no início de 2021, o Datafolha também revelou piora do isolamento no Brasil em dez/20.
Quinto motivo) ataques, atraso e lentidão da vacinação
Desde o dia 17/03/20 a Pfizer buscou o Executivo 34 vezes <https://bit.ly/2RVqtUr> para tratar sobre sua vacina. Segundo o Gerente geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, em 26/08/20, a Pfizer ofertou vacinas, mas o Governo Bolsonaro recusou <https://bit.ly/3hZRxfW, https://bit.ly/2R3basm>. Segundo o Dimas Covas, Diretor do Instituto Butantan, o Governo Bolsonaro rejeitou três ofertas de compra da Coronavac, com a 1a em julho/20, sendo que a compra foi aceita em jan/21. De um modo geral, houve ataque à vacina chinesa <https://bit.ly/3wGgHnU, https://glo.bo/34szreD>, desinteresse desde março/20 para dialogar, negociar e acelerar a compra de milhões de doses da CoronaVac e da Pfizer, bem como recusas para participar do Consórcio da Covax Facility <https://glo.bo/2SJ0P5a>.
Além de ter começado tarde, há lentidão e atraso na vacinação, com apenas 21% da população vacinada com a 1a dose até o dia 29/05/21, muito atrás de países como Malta (71%), Israel (63%), Inglaterra (57,8%), Canadá (55,5%), Chile (54%), Uruguai (50,2%), EUA (49,8%), etc. Sem o avanço na vacinação, o Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington (EUA), indica que o Brasil pode chegar a trágica marca de 751 mil mortes por Covid19 até 27/08/21 em um cenário em que 95% da população use máscaras, sendo que no pior cenário, quando até vacinados abandonem o uso delas, o país poderá ter 3.300 mortes/dia em 21/07, alcançando 941 mil mortes em 21/09/21 <https://bit.ly/3fwDCwf>.
Sexto ao nono motivos) variantes, inverno e jovens
Para o epidemiologista e Dr. Pedro Hallal a 3a onda está vindo antes do esperado e tem o potencial de ser devastadora se o Brasil não levá-la a sério, especialmente se não controlarmos a disseminação da variante indiana, que é mais transmissível <https://glo.bo/3yML5in>. A situação pode também se agravar com outras variantes (como a P1 de Manaus) e a chegada do inverno no Brasil (20/06 a 23/09/21), época propícia para aumento de doenças respiratórias.
Por último, tudo isso somado à redução do uso de máscaras e ao aumento das aglomerações, festas, cultos e eventos presenciais, temos um caldeirão infernal perfeito para a terceira onda mostrar uma cara mais rejuvenescida da pandemia, com mais jovens vítimas da doença.