10 de dezembro de 2024

Intolerância e violência

*Augusto Bernardo Cecílio

   Vivemos tempos de violência, apesar de pensarmos que após a pandemia o ser humano seria outro bem melhor. Dá pra notar até no trânsito, quando se vê alguém dirigindo com agressividade, levando perigo a motoristas e pedestres. Diariamente vemos mulheres assediadas, agredidas ou mortas. Crianças sendo abusadas.

    Até no futebol, nosso esporte mais praticado, a coisa começa pelos jogadores nas suas comemorações, com gestos agressivos de ceifadores, ou com caras e bocas que transmitem ódio. E os torcedores vão atrás, com barras de ferro e armas, para confrontos, agressões e mortes. A sociedade não pode achar isso normal.

   Até as escolas – locais sagrados para a prática do saber – são atacadas, e os alunos indefesos assassinados. O pior disso tudo é saber que lá na frente os malfeitores poderão estar usando apenas tornozeleiras eletrônicas.

   É complicado viver sobressaltado, com medo, e sem saber em qual ambiente muito frequentado ocorrerá um atentado, onde uma pessoa desequilibrada, fraca de espírito ou cooptada por alguém ou por um grupo, recalcada ou traumatizada, matará inocentes.

   Hoje vivemos dias de incertezas. Uma crise econômica que atinge a todos – devido à globalização – e a violência em patamares inaceitáveis.

Mesmo sabendo que muitos países travam conflitos, não precisamos sair do Brasil para enfrentarmos essa triste realidade. Basta você analisar o que acontece no seu município ou no seu estado. A insegurança é muito grande.

   As drogas consomem os jovens e desagregam famílias. A legislação frágil e a impunidade permitem que cidadãos sejam assassinados em acidentes de trânsito provocados por bêbados e por praticantes de “pegas”. Comerciantes são obrigados a fechar suas portas e a desempregar pessoas após muitos assaltos.

   A vida continua a ser uma chama, que a qualquer momento pode ser apagada por um assaltante. E sequer se discute a questão da redução da maioridade penal, num país onde o jovem com 16 anos pode votar, pode roubar e matar, mas criminalmente é tratado como uma criança.

   Sabemos que tudo que for exagerado, extremado, que envolva o fanatismo em qualquer atividade humana é um caminho aberto para a violência, para mortes, para o terror. Isso serve para a religião, política, esporte, enfim, para tudo.

   Se no Brasil, que é considerado um país pacato, atualmente já virou rotina vermos ônibus incendiados, mortes encomendadas e verdadeiras guerras urbanas, imaginem o que poderá acontecer em países onde é tensa e grave a situação, por pensamentos, costumes, escolhas e crenças diferentes, onde essas desavenças ocorrem há séculos e as crianças já crescem odiando o lado oposto.

   A intolerância demonstra falta de habilidade ou até de vontade em reconhecer que somos diferentes e que essas diferenças são naturais. Ela pode ser preconcebida, podendo caminhar para a discriminação e para ações extremamente violentas.

   O ruim de tudo isso é que justamente no século XXI, quando imaginávamos que o homem havia aprendido as lições de guerras e conflitos dos séculos passados que vitimaram milhares de pessoas, nos encontramos novamente ameaçados pelo terror e pela discriminação.

   Este século deveria ser um período de conquistas e avanços humanitários, com a inteligência sendo utilizada para novas descobertas de medicamentos, para o combate às doenças que persistem. Seria um período de intercâmbio tecnológico, para parcerias e entendimentos visando o fortalecimento das nações perante as crises econômicas e de abastecimento.

   Justamente no momento em que a ONU dá sinais de fragilidade, é hora de a comunidade internacional parar de agir por espasmos. A situação da insegurança diante da escalada da violência e da guerra exige comprometimento e posições firmes dos grandes líderes mundiais, sob pena de continuarmos a ver as democracias sendo atacadas e os seus filhos aliciados e recrutados por linhas inimigas.

*Auditor fiscal e professor

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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