18 de setembro de 2024

Induções Regionais Presque Bizarras

A cultura regional, bem se sabe, reflete influências nordestinas, indígenas e portugueses. E entre os ditos que circulam figura a pitoresca narração no falar pondo-se o tema a estrutura e a trama da história construída de geração em geração, fatos que acabaram se tornando causos, como a propósitoé rico o repertório, de onde se colheu muito do que ora segue.

Sucede, palanque desta estação de escritos semanais, ora por conta dos embates políticos oferecidos pelos candidatos ao redor da campanha municipal eleitoral, e bem pouco sobre as eleições presidenciais norte-americanas, debruçamo-nos sobre o que nos parecia acontecer e traçamos alguns textos sob o título Das Eleições Nas Casas do Tio San e Mãe Joana, constando no primeiro artigo publicado o compromisso de que justificaríamos o porquê desta última alcunha, ainda que bem conhecida, tanto quanto a de origem gringa, mas sem remarcar.

Já a nossa atrai o saboroso regionalismo guardado pela tradição por vezes presque bizarra.  É o que se pensa. O certo é que Casa da Mãe Joana tem a indução do nosso tempero. A propósito, indução é um importante termo que constou naqueles artigos citados acolá, quando da interpretação do episódio do queijo, um regalo oferecido ao novo Prefeito pelo que terminava o mandato. Segue, a alcunha alude a um lugar em que tudo pode acontecer; onde todos falam o que lhes convier, como se tomados por inaudita certeza. São discursos da lavra política, esforçados, pensados como emocionantes e persuasivos. Mas não conduzindo por vezes algo proveitoso.

Quer dizer, certo candidato, em outra campanha e não nesta, onde quedou-se pouco falante, foi então autor da marcante palavra “costumaz”, muito mais palatável que a correta “contumaz”, sentido que perseguia, quando aqui mereceu um comentário daqueles, mas desta vez nada disse, nem lhe foi perguntado…

Portanto, esta abordagem tem inspiração naqueles pegas havidos entre os candidatos voltados para o pleito municipal,quando alguns se mostraram conscientes de que o negócio era ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, sempre sabendo que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe, cuidando para a comida não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais, pois afinal não é possível fazer um bom omelete sem antes quebrar os ovos, da galinha, bem entendido.

Além de tudo, nem que a mula manque, ter em conta que só depois de algum tempo no batente é que a coisa dá crepe e não logo como se fosse sopa no mel, mamão com açúcar, pois então pode arriscar de comer gato por lebre e ficar com uma batata quente na mãos, pensando que a rapadura é muito doce mas não é mole, já que nem sempre se tem ideias, e para descascar um abacaxi só metendo a mão na massa e, olha só, não adiante chorar as pitangas que seja, ou quem sabe, mandar tudo às favas.

Enquanto outros, pensando que eleição é como tirar doce da boca de criança, foram com muita sede ao pote, não tendo em conta que o apressado como cru e acabaram falando muita abobrinha, como notáveis de meia tigela, trocando alhos por bugalhos, pirando na batatinha, viajando na maionese, achando que beleza põe mesa, pisando no tomate, enfiando o pé na jaca, mas quedaram como arroz de festa, só porque com a faca e o queijo na mão se perderam em devaneios, como se fosse tudo farinha do mesmo saco, quando diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo, basta oferecer um discurso de se comer literalmente com os olhos, mas cuidando para não tê-los maiores que a barriga senão o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço.

Chega a um ponto que não adianta chorar pelo leite derramado, porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, duvida-se. Fique com o pepino que é só seu, o máximo é ganhar uma banana, e olhe lá, desde que pimenta nos olhos dos outros é refresco, apesar de que a carne é fraca e aí dá mesmo vontade de largar tudo e ir plantar batatas, ou mandioca, lá em Iranduba. Tudo bem, é verdade que quem não arrisca não petisca, e acaba depois quando se junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.

Até admitamos que se embananar de vez em quando é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar, e aí é só puxar a brasa para a sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando, sem bafo de onça, daí com água na boca é só saborear, porque o que não mata engorda, melhor é ficar de bubuia que nem carapanã, dar chibata no balde, dar na mão cortar e aparar a curica, pois é cada macaco no seu galho, e filho de pai conhecido, filho de boto, não. Sai pra lá! Ufa!

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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