Conheça o hidrogênio verde, fonte de energia que tem chamado a atenção da academia, dos governos e investidores, pois está emergindo como uma das apostas mais promissoras para a descarbonização da economia global.
O Hidrogênio Verde é uma forma de hidrogênio produzida a partir da eletrólise da água, utilizando eletricidade proveniente de fontes renováveis como energia solar, eólica e hidrelétrica. Diferentemente do hidrogênio convencional, sua produção não gera emissões de gases de efeito estufa. Entre as aplicações do Hidrogênio Verde pode-se citar vários projetos concretos que estão ocorrendo em países mais responsáveis com o meio ambiente, mas aqui será focado o Transporte limpo, pois o hidrogênio pode abastecer veículos como ônibus, caminhões, trens e até aviões, com emissões zero durante a operação. Isso melhora a qualidade do ar em cidades e reduz a poluição sonora.
Entre os exemplos de projetos que utilizam essa fonte de energia estão:
1ª) Carro Mirai, lançado pela Toyota em 2014, o primeiro sedã de passageiros movido à célula de combustível de hidrogênio produzido em massa.
Com os aperfeiçoamentos, este formidável veículo bateu seu próprio recorde mundial em 2021, entrando para o livro do Guinness dos Recordes, ao percorrer o Sul da Califórnia, cerca de 1360 km com apenas uma carga, valendo lembrar que é um veículo que não gera poluição sonora, no lugar de CO2 e outros gases poluentes, sua descarga libera vapor de água, sem contar que o recarregamento deste veículo não demora nem 5 minutos.
2º) Frota de ônibus verde usada para o transporte público em cidades como Londres ou Manchester, no Reino Unido. Em Londres, no mês de maio de 2019, a prefeitura de Londres anunciou o pedido de 20 ônibus de dois andares movidos a hidrogênio que seriam introduzidos no ano de 2020 em três rotas de ônibus de Londres, a fim de reduzir a poluição do ar na capital.
O Transport for London (TfL) anunciou que iria investir cerca de 12 milhões de Libras nestes novos ônibus e na infraestrutura de abastecimento. A empresa responsável pela manufatura é a Wrightbus localizada no Nordeste da Irlanda, resultando em receita e novos postos de trabalho. Além disso, mais de 5 milhões de libras seriam fundos vindos de órgãos europeus e um milhão do Escritório de Veículos de Baixa Emissão.
Aqui vale lembrar que esse investimento faz parte do plano do prefeito de Londres apresentado em 2019, que tem como uma de suas metas, lançar 2000 ônibus com zero emissão até 2037. E neste site há documentos com números mais atualizados sobre os investimentos nesse tipo de tecnologia para beneficiar a população e o meio ambiente de Londres <https://tinyurl.com/3c7y9r98>. Além disso, já escrevi no JCAM sobre a frota de ônibus verdes da Grande Manchester < https://tinyurl.com/53r45krp>, tive a oportunidade de andar nesses ônibus e não dá nem para comparar a sensação de conforto e outros benefícios quando ando em qualquer ônibus aqui de Manaus.
Outro exemplo concreto vem da China, um trem de passageiros movido a hidrogênio mais rápido do mundo foi lançado no início de 2023, fruto de parceria entre a estatal CRRC e a Chengdu Rail Transit, ele tem quatro vagões e pode atingir até 160 km/h, emite apenas água e pode percorrer até 600 km com uma carga. Este veículo também conta com tecnologia 5G, podendo até partir ou parar sozinho, se locomover sem ajuda de condutores dentro dele. Segundo a CRRC, este veículo tem o potencial de reduzir cerca de 10 toneladas por ano de dióxido de carbono.
Outras aplicações do Hidrogênio Verde são plantas de manufatura de hidrogênio, projetos para aquecimento residencial, estabilização de redes elétricas, fertilizantes verdes, combustível para regiões isoladas e até exportação, tudo isso gerando receitas e empregos.
Para dar mais um exemplo, a convite do Governo japonês, tive a oportunidade de conhecer no ano passado, em uma conferência pública, a Fukushima Hydrogen Energy Research Field (FH2R), uma unidade fabril inaugurada em 7 de março de 2020, a partir de investimentos vindos da Toshiba, da NEDO e outros parceiros, cuja planta na época tinha a capacidade de produzir, armazenar e distribuir até 900 toneladas de hidrogênio por ano. Mais detalhes podem ser obtidos no relatório eletrônico que disponibilizei em meu site jgsilva.org opção Net0SmartCity e Japan.
Na academia, o hidrogênio verde vem despontando interesse, com aumento significativo de publicações a partir de 2019, pois já são cerca de 601 artigos, livros, dissertações, relatórios e outras publicações com título e abstract contendo este termo. E neste link < https://tinyurl.com/49ak2zun> preparei um relatório digital com um dashboard interativo para os que têm interesse em estudar o estado da arte sobre o assunto.
Em termos de governos, vários países já saíram na frente, cada um desenvolvendo um plano, estratégia ou roadmap de longo prazo, incluindo o Japão, a China, a União Europeia, a Índia, o Reino Unido, os EUA e até a Namíbia.
Neste sentido, recomendo ao leitor estudar esta página <https://tinyurl.com/3db47tby> da Agência internacional de Energia (IEA) dedicada apenas ao Hidrogênio, nela saberás que até o final de 2022, cerca de 32 governos já possuem uma estratégia para o Hidrogênio, sendo que o Brasil lamentavelmente está fora deste seleto grupo.
Outro recurso interessante é o Mapa do Hidrogênio publicado digitalmente < https://www.thehydrogenmap.com/> pela Pillsbury, contendo um compêndio de projetos relacionados ao hidrogênio de baixa emissão. Quem acessa esta página percebe que a Europa é a região que mais está investindo em projetos desta natureza, seguido por EUA e China.
Em relação às empresas, gigantes energéticas como Shell, BP e Total Energies redirecionaram bilhões em investimentos para projetos de hidrogênio verde. A Shell anunciou planos de gastar até US$ 2 bilhões por ano em hidrogênio até 2025, dentro de uma estratégia mais ampla de atingir emissões líquidas zero até 2050. A Total Energies planeja investir até US$ 1,5 bilhão em hidrogênio renovável até 2025.
Para que esse potencial se torne realidade, porém, será necessário reduzir drasticamente o custo de produção do hidrogênio verde, que ainda é elevado quando comparado a combustíveis fósseis. Parte substancial dos investimentos precisará ser destinada ao desenvolvimento de eletrólises mais eficientes e baratas.
Felizmente, em países que já saíram na frente, os custos de produção estão caindo rapidamente à medida que a tecnologia amadurece e os projetos ganham escala. Então diante do exposto, o que está faltando para o Brasil entrar na era descarbonização de sua economia por meio do Hidrogênio Verde?