9 de dezembro de 2024

Gestão fiscal e competitividade

Num ambiente de extremada instabilidade normativa, as estratégias de sobrevivência parecem sempre mal desenhadas. Ou então, e de modo aleatório, nasce uma suspeita de que o concorrente adotou práticas mais eficientes e lucrativas. Daí, surgem variados questionamentos sobre processos operacionais, produtividade, eficiência, gestão fiscal etc. Inclusive, dentro de um segmento, as fofocas circulam intensamente, de forma a instigar o espírito investigativo para copiar as melhores práticas de quem está na vanguarda. A dificuldade dessa leitura se dá pelo aspecto isolado das análises. Ou seja, despreza-se o contexto e a cultura que sustentam as grandes jogadas. Portanto, a investigação do concorrente bem sucedido deve contemplar o máximo de características possíveis de mapear. E depois disso, deve-se voltar para a própria realidade e assim montar uma pauta de itens passíveis de melhoria, com indicativos do que é possível fazer de imediato ou desenvolver no médio e longo prazo.

Uma das questões mais críticas e urgentes tem a ver com a gestão fiscal, que deve avaliar o peso do compliance tributário na gestão do negócio; e como reduzir tal pressão sem comprometer a eficiência. Parte da resposta está no uso inteligente da tecnologia e na capacitação do corpo produtivo. O grande entrave consiste na dificuldade de enxergar os benefícios que são obtidos após grandes investimentos, além de muita perseverança e firmeza de propósito, uma vez que não se modifica a cultura empresarial da noite para o dia. Mas a verdade irrefutável reside na máxima de que eficiência operacional está diretamente ligada a níveis elevados de capacitação profissional. Ou seja, não se pode ter qualidade superior com baixa qualificação dos funcionários. Se o empresário quer robustecer sua máquina produtiva, ele deve investir em quem faz acontecer. 

O empresário Fredy Abi Jumaa e sua contadora Antonete Osório mergulharam nas profundezas do sistema de gestão ERP Protheus (atualmente, Sankhya). Essa dupla dinâmica tem como lema automatizar, automatizar e automatizar até o extremo do extremo. Essas duas pessoas têm um profundo conhecimento do próprio ERP, como também de contabilidade, tributação, finanças, informática, gestão empresarial etc. A Antonete já fez numerosos cursos em instituições de ponta e o Fredy é obcecado por tecnologia desde que o computador era apenas uma espécie de teclado ligado a uma televisão com dados armazenados em cartucho. Hoje, ele discute tecnologia no mesmo nível de um grande programador. O resultado de tanto conhecimento está num processamento automático de quase tudo, onde o computador faz quase tudo, num processamento de mais de cem mil itens vendidos por mês. Detalhe curioso: Os funcionários do escritório se resumem a três pessoas que dão entrada nas notas de compra e a própria contadora, que ainda acumula funções de gerente administrativa e instrutora dos funcionários. Tempos atrás, eu acompanhei a geração do arquivo SPED que posteriormente foi validado no PVA da EFD contribuições, onde, para minha surpresa, não deu nenhum erro. 

Há muitos anos, trabalhei na empresa maranhense Taguatur, onde havia um contínuo programa de treinamento para motoristas e cobradores; as aulas nunca paravam de acontecer. O resultado dessa capacitação ininterrupta ficava nítida para os usuários do transporte coletivo como também para os órgãos reguladores. Tanto, que a prefeitura de Teresina/PI ofereceu o monopólio, que o principal sócio recusou. Foi nessa empresa que eu implantei uma contabilidade gerencial a partir de um poderoso software corporativo da época. Eu trabalhei oito meses somente no desenvolvimento da nova estrutura de gestão contábil, enquanto outro contador seguia trabalhando no modelo antigo. Quando viramos a chave de um sistema para o outro, a coisa toda funcionou como um relógio suíço: sem atropelos, sem surpresas e sem imprevistos porque testamos exaustivamente tudo que foi possível testar antes da entrada em produção. Detalhe: A contabilidade que vivia atrasada passou a ser fechada diariamente. E a quantidade de funcionários diminuiu de 11 para 4 pessoas. E a diretora administrativa acompanhava tudo pari passu pelos relatórios gerenciais produzidos diariamente. Mas também, minha patroa pagava todo tipo de treinamento que eu quisesse participar, não importando o preço. 

Portanto, investir pesado na melhoria dos processos internos e na gestão fiscal pode parecer desafiador e custoso, mas os resultados são extraordinários. No aspecto fiscal, o ponto de partida está no mapeamento fisco tributário de cada produto, onde, mesmo que o caminho possa parecer longo demais, a empresa deve encarar o desafio, como fez recentemente as empresas Casa dos Motores e MR Peças, que vêm investindo pesado em capacitação profissional, mapeamento de produtos e gestão fiscal. Curta e siga @doutorimposto. Outros 447 artigos estão disponíveis no site www.next.cnt.br

Reginaldo Oliveira

é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária

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