7 de outubro de 2024

Fraternidade e Educação

Semana passada participei do seminário “Panorama da Educação no Amazonas: Sucesso ou Fracasso?” organizado pela Arquidiocese de Manaus em preparação para a Campanha da Fraternidade (CF) de 2022, cujo tema será: “Fraternidade e Educação” e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26).

Na ocasião, apresentei um panorama da educação no Amazonas a partir de minha experiência pessoal, destacando quatro aspectos do lema da CF 2022: “Fala com sabedoria, ensina com amor”, que aqui, por questão de espaço, resumirei em dois pontos centrais: “fala com sabedoria” e “ensina com amor”. 

O primeiro ponto reverbera sobre a essência humana. Sim, o ser humano é um ser que fala. E nós professores, como falamos! Não conheço nenhum professor que não goste de falar. Mas não falamos sobre qualquer coisa. Falamos de nós mesmos, das nossas lutas, de nossos sonhos, dos nossos medos, das nossas angústias, das nossas conquistas…

Isso mesmo. Não falamos por falar. Falamos porque queremos o melhor para nós e para os nossos alunos. Falamos porque gostamos do que é bom, justo e belo. Falamos porque amamos a educação, porque sabemos que a educação transforma a vida dos estudantes. 

Falar com sabedoria significa, em primeiro lugar, romper com a clausura do eu; em segundo lugar, compreender a necessidade do outro; em terceiro lugar, envolver-se com a comunidade escolar e colaborar para que a educação transforme à realidade dos estudantes. 

Por fim, ensinar com sabedoria significa deixar que os estudantes falem, que os jovens falem, que as crianças falem, que as mulheres falem, que os indígenas falem, que os idosos falem… Uma fala que acolhe e inclui. Uma fala que transforma o presente e constrói pontes para o futuro.

O segundo ponto abordado por mim no seminário “Panorama da Educação no Amazonas: Sucesso ou Fracasso? foi sobre “ensinar com amor”. E aqui, mais uma vez, falei a partir de minha experiência pessoal como professor de escola pública com mais de vinte anos de atuação no Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio. Ensinar com amor significa realizar-se enquanto pessoa.  

Outrossim, no momento em que vivemos, no Mundo e no Brasil, estamos passando por tempos difíceis. Estudantes teimam em desafiar a autoridade do professor em sala de aula, uma vez que em casa a figura paterna é ausente e\ou não existe, por isso, eles acham que podem tudo. Uma geração sem limites está crescendo na sociedade! Como impor limites aos jovens? É necessário por limites aos jovens? Qual é o papel da escola? Em quem devemos confiar? Onde procurar ajuda? Como educar os jovens?

Sabemos que a situação de hoje é resultado da relação do homem consigo mesmo, com a natureza, com o outro e com Deus, e que não é nova. Vem de longe. Mas é preciso continuar lutando, continuar acreditando que dias melhores virão, principalmente quando se tem amor. O amor é a saída para muitos dos problemas humanos. 

Em outras palavras, “ensinar com amor” significa fazer o que Jesus fez, agir como Jesus agiu, viver como Jesus viveu. Mas quem é capaz de tamanha sabedoria? De tamanho amor? Jesus deu o exemplo. No Evangelho de João (8, 10-11), Ele mostra como é ensinar com amor: “Erguendo-se, Jesus lhe disse: Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor! Jesus, então, lhe disse: Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante, não peques mais”.

A sociedade em geral, os professores, os estudantes, os educadores, os pais, as mães, precisam praticar a empatia para que a educação se torne verdadeiramente libertadora. E a população precisa aprender que a educação não é por acaso. Ela é fruto do processo histórico de luta por direitos que tornam a vida humana mais digna. 

O que hoje vejo e reconheço como belo na educação é a dedicação, o empenho e o compromisso de muitos professores em ensinar com amor, em ajudar o seu aluno, em imitar os passos de Jesus, apesar das inúmeras dificuldades que enfrentam referende à realidade econômica, política, social e de saúde, que atingem a maioria dos professores no Brasil.

Por fim, devo dizer que não estava sozinho no evento, estavam comigo a professora Helma Sampaio, que falou sobre a luta sindical; o professor Jonas Araújo que explanou sobre as políticas públicas, o Pe. Geraldo Bendaham, coordenador arquidiocesano de pastoral e a mediadora do debate, Rosana Barbosa. 

Observando os comentários na página do Facebook (https://www.facebook.com/arquidiocesedemanaus/), por onde o evento foi transmitido, o seminário atingiu o seu objetivo. Como resultado, novos debates virão. Os professores precisam engajar-se nessa campanha. Uma excelente oportunidade para demonstrarmos se a educação tem mais sucesso ou fracasso. Eu aposto no primeiro, e você?

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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