Sábios aprendem com a História, a êmula do tempo, repositório de fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro (Miguel de Cervantes).
Em homenagem ao Sócrates, Platão escreveu um diálogo na obra A República (Politeia), abordando temas sobre a imortalidade da alma, educação, política, etc. Nela há o Mito da Caverna, metáfora ainda útil, pois ensina sobre a importância de sair do comodismo, refletir sobre a realidade, buscar a luz (conhecimento) para se livrar das correntes (preconceitos, mitos, falsos moralismos) e sombras projetadas (aparências, fake news, distrações).
Diante do exposto, o que podemos refletir sobre os fatos e números descritos abaixo, envolvendo os 848 dias (2,32 anos) de Gestão do Governo Bolsonaro?
1) Índice de Competitividade Global: apesar de pequenos avanços, continuamos entre os menos competitivos, na 56a posição em 2020, entre 63 países estudados pela Escola Suíça IMD <https://bit.ly/2S3WPMz>. Frisa-se que em 2008 estávamos na 43a posição, em 2010, na 38a, em 2012 na 46a, em 2013 na 51a, em 2014 na 54a, em 2015 na 56a, 2016 na 57a, 2017 na 61a, 2018 na 60o, 2019 no 59o lugar. Neste ranking os 5 países mais competitivos são Cingapura, Dinamarca, Suíça, Holanda e Hong Kong;
2) Índice Global de Inovação: enquanto Suíça, Suécia, EUA, RU e Holanda estão entre os mais inovadores, o Brasil tem desempenho abaixo do seu potencial, obtendo 31,94 pontos em 2020, ficando na 62a posição global, entre 131 países avaliados pela Global Innovation Index <https://bit.ly/2xVJ4FU>, a pior nota obtida em uma década;
3) IDH: enquanto Noruega, Irlanda, Suíça, HK e Islândia foram os melhores em IDH no ano de 2020 <https://bit.ly/2PqcAwm>, o Brasil perdeu 5 posições, caindo do 79o lugar para 84o lugar (0.765), atrás de Chile, Argentina e Cuba;
4) Índice de Qualidade de Vida: este ano estagnamos na 62a posição (104.75 pontos), atrás de Paquistão, Ukrânia, Argentina, Equador, México, etc <https://bit.ly/2QY1sHe>. Segundo o NUMBEO, em 2012, quando iniciou a avaliação, o Brasil estava na 44a posição e de lá não conseguiu melhorar esse patamar (2013=53a; 2014=56a; 2015=70a; 2016=45a; 2017=53a; 2018=54a; 2019=64);
5) Índice de Liberdade de Imprensa Mundial: enquanto Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Costa Rica são os países exemplares, o Brasil regrediu, entrou na zona vermelha, pois caiu 4 posições, ficando na posição 111 (36.25), entre 180 países analisados pela Repórteres Sem Fronteiras <https://rsf.org/en/ranking#>. Insultos, estigmatização e orquestração de humilhações públicas de jornalistas se tornam a marca registrada do Presidente Bolsonaro, de sua família e de pessoas próximas a ele, diz o relatório, o qual também condenou as atitudes de Bolsonaro e de Maduro em promover medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid19;
6) Índice de Percepção da Corrupção (IPC): em 2019, o Brasil (35 pontos=106a) caiu pelo 5o ano consecutivo, não avançando no combate à corrupção, a percepção de corrupção no setor público era a mesma do fim do governo Temer (2018). Para a Transparência Internacional<https://bit.ly/3tTkBIW> o retrocesso no combate à corrupção se deu pela atuação de personagens conhecidos do PT, MDB, PP, PR, PC do B, PTB, PSDB, Presidente Bolsonaro, parcela dos membros do Congresso e do STF.
Em 2020, o Brasil subiu 3 pontos, mas a variação não é estatisticamente significativa, já que a margem de erro é de + – 4,1 pontos. A nota de 2020 (38) foi a mesma registrada em 2015, representando o 3o pior resultado da série histórica com país estagnado no IPC.
Pelos ataques e retrocessos que a Lava Jato vem sofrendo, soltura do criminoso Lula (PT), bem como as constantes interferências do Presidente Bolsonaro na PF, no MPF, na PF, na RF, STJ e STF, é bem provável que o IPC de 2021 seja pior. Ressalto que a OCDE já adotou medida inédita contra o Brasil, criando um grupo permanente de trabalho para monitorar o assunto. Por outro lado, os países mais “íntegros” são Dinamarca, NZ, Finlândia, Cingapura e Suécia. Não é à toa que eles superam o Brasil em vários rankings.
7) PIB: enquanto China, Taiwan e Turquia tiveram PIB positivo, o do Brasil sofreu redução de 4,1% em 2020 ante 2019, o pior resultado medido pelo IBGE <https://bit.ly/3tQQdPn>. O país saiu da lista das dez maiores economias do globo <https://bit.ly/3aBAuMC>;
8) Dívida Bruta do Setor Público: seu aumento vem batendo recordes, o último foi de 90% do PIB, registrado em Fev/21 <https://bit.ly/3gzpV0t>;
9) Controle do Câmbio: o valor do Real tem derretido, ficando entre as moedas mais desvalorizadas em relação ao dólar. De 2018 até o dia 05/03/21, o real desvalorizou 42,5%, enquanto que as moedas de 16 países emergentes (EM16C) se desvalorizaram em média apenas 8,8%. E não há sinais de melhora sustentável, pois até mar/21, o Real foi a 4a moeda que mais se desvalorizou este ano quando comparado com outras de 119 nações <https://bit.ly/32T1PFH>;
10) Índice de Atratividade dos Países: enquanto China e Índia conseguiram atrair investidores internacionais, os investidores estrangeiros retiraram US$ 51bi líquidos em investimentos do Brasil em 2020, o 8o ano consecutivo de fuga de recursos <https://bit.ly/3xo7RMM>. Segundo o Índice de Atratividade dos Países <https://bit.ly/3nkzWzP>, o Brasil está perdendo atratividade, em 2020, ficou na 55a posição (em 2018 estava na 54a) com 45.1 pontos, atrás da Argentina, Vietnã, México, etc. Além disso, o ranking mostra que há estagnação ou piora em vários indicadores econômicos;
11) Taxa Média Anual de Desemprego: o Brasil bateu recorde da taxa média anual de desemprego em 2020 (13,5%), a maior desde 2012 <https://bit.ly/3nmysFy>;
12) Número de focos de queimadas: Brasil encerrou 2020 com o maior número de focos de queimadas em uma década: 222.798 focos contra 197.632 em 2019, aumento de 12,7%. Este desastre ambiental foi pior em 2010, quando houve 319 mil focos. No Amazonas, o número de queimadas em 2020 bateu recorde, pois até 11/10/20, o Estado registrou 15700 focos ativos, enquanto em 2005 o acumulado anual foi de 15644 <https://bit.ly/3dQJOy9; https://glo.bo/3xne63s>;
13) Taxa de desmatamento: entre 01/08/19 e 31/07/20, 11.088 Km2 foram desmatados apenas na Amazônia Legal, um recorde em relação aos últimos 12 anos, a maior taxa para o mesmo período desde 2008 (12911 Km2). Recordemos que: 1o) os Estados mais vitimados são: Pará (41,9%), Mato Grosso (16,8%), Am. (13,93%), Rondônia (11,86%) e Acre (6,29%) <https://bit.ly/2S25BL0>; 2o) esses fatos ocorrem na melhor das hipóteses como efeito da má gestão ambiental do Governo Federal, com cortes de recursos do IBAMA, substituição dos seus veteranos por militares que não entendem quase nada sobre a pasta; 3o) houve retirada e retaliação contra funcionários do IBAMA que combateram os criminosos ambientais; 4o) houve represamento no BNDES das doações internacionais destinadas para proteger nossas florestas;
14) Número de Mortos por Covid19: no início de jan/21, entre 98 países analisados pelo Lowy Institute <https://bit.ly/30CRcpE> o Brasil foi considerado o pior no combate à pandemia, enquanto que os melhores foram Nova Zelândia, Vietnã, Taiwan e Tailândia. Essas informações não são novidades para o leitor assíduo do JCAM, já que tenho disponibilizado essas informações desde 01/04/20 <https://bit.ly/2ScY60U; https://bit.ly/3gEY4Mb>. Se tivéssemos adotado as boas práticas <https://bit.ly/3lMIcrE, https://bit.ly/3gIt8L9> de gestão e comportamento exemplar desde o início de jan/20, teríamos salvado mais de 300 mil vidas preciosas em nosso país.
Finalmente, teria muito mais para mostrar, mas esses fatos e números são luzes de alertas para abandonarmos o mito da caverna em que o país está preso, pois nos advertem que se continuarmos nesse ritmo, a História não nos perdoará, pois não entregaremos um futuro melhor para nossos filhos e netos.