No dia 02 de maio é celebrado o Dia Nacional da Ética, mais uma data que anda esquecida na sociedade brasileira. Apesar disso, ela nos lembra sobre a importância da prática do bem, em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade, uma vez que contribui para a construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida. Então se é próprio do homem bom pôr em prática o bem (Aristóteles), que lições podemos aprender com sábios desconhecidos no Brasil que inspiram gerações?
O termo Ética vem do grego Ethos, podendo significar modo de ser, costume, caráter. Segundo o dicionário de Cambridge, a Ética é um conjunto de crenças morais, ideias, hábitos que são características de uma pessoa ou grupo. Do ponto de vista corporativo, Ética estaria associada à Responsabilidade Social, um conjunto de crenças, ideias, valores associados ao comportamento e relações da corporação.
De um modo geral, na sociedade brasileira, as palavras Ética e Moral caminham juntas, sendo que a moral está ligada ao atendimento das normas, enquanto que ética foca na prática do bem. Nesse sentido, muitos sábios (Sócrates, Aristóteles, Jesus, Agostinho, etc) deixaram legados inspiradores sobre a Ética ao mundo ocidental, porém, neste artigo, adiciono reflexões de três sábios que deveriam ser mais estudados em nossas casas, igrejas, escolas e locais de trabalho:
1. O Indiano Siddhartha Gautama
Líder religioso que viveu na Índia no século VI antes de Cristo, cuja bondade e sabedoria lhe condecoraram como Buda, o iluminado. Ele deixou uma vida rica para se dedicar ao pensamento filosófico e espiritual, a partir de um choque de realidade vivenciado quando saiu do seu palácio para passear pela cidade e constatar a existência da doença, da miséria, da velhice, e da morte na população.
Após décadas meditando, passou a disseminar sua doutrina sobre as quatro verdades: v1) a vida é cheia de sofrimentos, dor e miséria; v2) a origem do sofrimento está no desejo; v3) a extinção do sofrimento pode ser obtida a partir da extinção do desejo; v4) e a maneira para extinguir o desejo é seguir o Nobre Caminho Óctuplo, o qual consiste em desenvolver a compreensão correta, o pensamento correto, a palavra correta, a ação correta, o modo de vida correto, o esforço correto, a atenção correta e a concentração correta, cujos detalhes desta rica abordagem podem ser estudados juntos aos budistas da nossa região.
Em grande síntese, Buda contribuiu no campo ético ao orientar a humanidade sobre a necessidade de cada um discernir sobre o que é benéfico e o que não é, a fim de evitar o sofrimento, a partir da eliminação de suas causas. Nesse sentido, é recomendado pensar várias vezes antes de agir, pois se a atitude for incorreta, trará sofrimento não somente para o(a) errante, mas para os demais. Por outro lado, se o comportamento for correto, construtivo, o resultado será bom tanto para quem pratica quanto para os demais. Assim, a escolha de evitar ou não os comportamentos aéticos, depende do quando o indivíduo leva a sério o possível sofrimento que poderá causar, tando para si quanto para a coletividade.
2. O Chinês Lao Tzu (Laozi)
Sábio Chinês do século VI a.C, o fundador do Taoismo, Laozi escreveu o Tao te Ching, uma espécie de livro sobre o caminho e seu poder, o qual se tornou parte da filosofia chinesa. Uma das melhores partes dessa obra pode ser resumida na seguinte frase “Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se é a verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se é o verdadeiro poder”.
Em grande síntese, os ensinamentos de Laozi no campo da ética estão ligados ao respeito à liberdade, paz, natureza e a busca da sabedoria e virtudes internas. Para ele, a sociedade ideal seria aquela onde as pessoas pudessem viver de maneira simples, harmoniosa, não sendo incomodadas por ambição, desejo competitivo, uma vez que tais desejos provocam relações nocivas levando o homem a se apropriar das coisas para sua própria satisfação.
3. O Islâmico Avicena
Sábio Persa nascido por volta do ano 980 d.C, na região hoje conhecida como Uzbequistão, Avicena exerceu notável influência no mundo Islâmico e Ocidental (Europa), valendo a pena estudar sua contribuição para a ética nas áreas da tecnologia e ciência, em especial para a Medicina e Meio Ambiente. Aqui há duas obras interessantes, uma publicada pela Unesco <https://bit.ly/3y5HfTy> e outra <https://bit.ly/3OP6Q9c> por Heydari e Azmand (2016).
Segundo essas fontes, como trabalhador, Avicena publicou cerca de 450 livros, em vários campos do conhecimento, dos quais, 240 estão disponíveis e aqui o leitor acessa algumas dessas obras originais <https://bit.ly/3ypOpSX>. Cerca de 150 livros versam sobre filosofia e 40 sobre Medicina.
Para a medicina, suas recomendações médicas estão classificadas em três pontos: o interesse do paciente, as habilidades de comunicação e a aderência para as características da excelência profissional.
Basicamente, Avicena dá a entender que o comportamento ético do médico é assunto relevante. Por exemplo, em relação ao interesse do paciente, Avicena recomenda a confidencialidade como uma das responsabilidades do médico “O médico deve proteger os segredos do paciente e não expressar suas doenças, como hemorroidas e doenças da mulher, exceto em casos de necessidade e (somente) para as pessoas que devem saber”. Além disso, sugere que o médico não deve prescrever terapias inacessíveis para o paciente, bem como evitar qualquer ação que possa causar danos a ele(a).
Em termos de comunicação, Avicena recomenda que “ao visitar um paciente, o médico deve sentar-se ao lado dele de maneira que fique à sua frente para que possa ver seu rosto e ouvi-lo bem. Deve fazer apenas perguntas que forneçam as informações necessárias para seu diagnóstico e tratamento”.
Em relação a excelência profissional, para Avicena, o médico deve aderir ao processo de melhoria contínua em seu conhecimento, comportamento e ética. Além disso, o filósofo recomenda que o médico preste bastante atenção a sua própria saúde, já que se ficar doente, levantará dúvidas entre as pessoas sobre a sua capacidade de se prevenir contra as doenças.Finalmente, à ética tem muitas facetas, Buda nos ensina a ter empatia e adotar oito atitudes para evitar o sofrimento individual e coletivo, já Laozi nos ensina a simplicidade, a se aproximar da natureza, a defender a liberdade, o cultivo à paz, enquanto que Avicena nos recomenda a valorizar a ciência e a melhoria contínua, colocando-a à serviço da vida.