11 de dezembro de 2024

Espiritualidade e governança

Às vésperas da COP-21, Conferência Mundial sobre o Clima, ocorrida em Paris (2015), escrevi artigo intitulado Meio Ambiente e Profecias para a Revista Boa Vontade. Passados seis anos, retomo o tema, recuperando parágrafos inteiros, oportunos, pela COP-26 vigente em Glasgow (Escócia) e desafios que se apresentam aos acordos globais em discussão.

O último Livro das Escrituras Sagradas, o Apocalipse e suas Profecias, em seu Versículo 1º do Capítulo 21, nos intui a busca e a visão permanente da construção e reconstrução de um mundo novo: “E vi novo céu e nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra já passaram, e o mar já não existe”.

Vivemos um mundo enfermo, com sinais de fragilidade do modelo e dos blocos econômicos vigentes; de intolerância cultural e religiosa; e de graves desigualdades sociais, retratadas nos fluxos migratórios de milhares de seres humanos em regiões do Mediterrâneo, África, Ásia, América Central e Caribe, agravadas pela pandemia da COVID-19 e seus mais de cinco milhões de mortos, até agora, além do ressurgimento de doenças tidas como erradicadas. 

Em um planeta e universo dinâmicos, as dificuldades impostas pelos períodos de mudanças climáticas, que estamos atravessando, são agravadas por atitudes humanas de desrespeito à conservação da natureza: exploração predatória dos recursos naturais; uso de processos produtivos contribuintes ao aquecimento global; assoreamento, poluição e contaminação dos mananciais hídricos; desmatamentos ilegais. 

Ao tempo em que nos esquecemos que conservar implica em usar de forma sustentável os recursos da natureza, ainda não nos “caiu a ficha”, coletivamente, sobre as consequências dos atos humanos anunciados no Livro das Profecias, através de flagelos (o segundo e terceiro flagelos no Apocalipse sinalizam a poluição dos oceanos e rios; o quarto flagelo, o aquecimento global).

É sempre tempo, e os períodos de conferências globais nos mostram o claro retrato da iniquidade planetária, de reagir, mobilizar, discutir, empreender, inovar, construir e/ou reconstruir o conceito e o desejo pela vivência da sustentabilidade. 

Na Rio+20 (2012), numa reflexão de boa vontade, ainda guardo as palavras e proposta de Paiva Netto sob o título – Enquanto há tempo: “Preconizamos a harmonia de todos para o bem de todos, enquanto há tempo, pois, compartilhamos uma única morada, a Terra, e os abusos de seus habitantes vêm exigindo providência imperativa: ou integra, ou desintegra (…), razão por que devemos trabalhar estrategicamente em parcerias que promovam prosperidade efetiva para as massas populares”.

Passadas mais de duas décadas de negociações, a falta de resultados e de compromisso político de parte dos países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), já nos oferece o presente e o futuro de catástrofes e “desintegrações”… 

Se os resultados das ações humanas têm agravado os efeitos e impactos das mudanças climáticas nos diversos ambientes do Planeta, o conhecimento e tecnologia compartilhados globalmente podem, e devem, constituir-se num grande movimento de extensão planetária de solidariedade, moldado pelo conceito de governança e pelos indicadores e metas pactuados. 

As discussões da COP-26 não podem estar dissociadas do debate das necessidades globais por Segurança Hídrica, Alimentar e de Energia às populações; do combate contínuo às diversas formas de pobreza, das desigualdades, da corrupção e dos atos discriminatórios raciais e de gênero.

A falência da moralidade de troca e o nascimento da moralidade de consciência exigem a construção de instituições eficazes, responsáveis, inclusivas, em todos os níveis; e o fortalecimento dos mecanismos, parcerias e estratégias multilaterais que caracterizam a governança no Século XXI. 

Antes de culpar nações e governos, somos nós e nossas escolhas que formam um país. Sejam multinacionais, ou nacionais, as organizações são constituídas por pessoas, seres humanos, com histórias e livres-arbítrios.

A governança exigida e urgente não é uma decisão unilateral, mas, coletiva, começando pelo que eu posso fazer. Está na mão do homem evitar o pior.

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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