2 de novembro de 2024

Era uma vez

Era uma vez um país, uma colônia que se tornou monarquia e passou a viver o sonho de ser o país de um povo diferente, um povo formado de várias raças e credos. Este país de sonhos possuía todas as riquezas que os outros países do mundo desejavam, a nível florestal e mineral e sua história foi uma sequência de mudanças de todas as formas.

Depois de ser monarquia nosso país se tornou uma república com o povo orgulhoso a bater no peito e vaidoso pela nova pátria que se instalava. Os movimentos nacionalistas tinham vencido os movimentos tradicionalistas e uma Constituição foi aprovada para o povo seguir novas leis dentro de um novo conceito de pátria.

Este país passou por fases distintas, com governantes carismáticos que levaram o povo a aprovar ditaduras e em outros momentos ditaduras serem implantadas para atender a pedido popular que não aceitava um governo que se mostrava decidido a mudar a orientação ideológica da nação. Depois de um tempo, o povo deste país resolveu tomar novamente o rumo de sua história e a mudança foi inevitável.

Quando se fez a grande mudança constitucional, com o povo sendo responsabilizado pela nova constituição que na verdade buscava um misto de renovação e revanchismo, o país do nosso conto de fadas começou a escrever a história de sua derrota. Com tão pouco tempo de vida em relação aos mais tradicionais países do mundo, tantas mudanças deixaram este país sem uma identidade coerente e específica;

A diversidade passou a ser uma característica utilizada por vezes como um trunfo outras vezes como histeria de militância sem causa. As raízes coloniais insistiram em se manter em um sistema de exploração trabalhista principalmente concentrado no Nordeste. As lutas sociais insistem em buscar igualdade na diversidade que é a principal e mais bela característica do país.

Este país acaba de passar por mais um capítulo de sua história que trata de uma eleição municipal, parte do sistema democrático que foi pensado como o ideal de liberdade e de modernidade par este país que tanto buscou ser moderno e sempre caiu nos enredos da antiguidade da fraqueza dos interesses e da força dos clãs políticos.

O enredo de democracia com dezenas de partidos sem representatividade, tornando o sistema político uma verdadeira feira política onde o voto no parlamento vira um “Quem Dá Mais?”.O final da eleição e a definição dos prefeitos acaba confirmando o poder das oligarquias familiares que há tanto tempo dominam seus “pedaços de território”.

E o povo continua participando sem entender o que está fazendo, pois afinal o voto é obrigatório e, que saco, ele tem de ir votar senão estará praticando um crime. Em quem vai votar? Bem, pode ser naquele que roube menos, ou no menos pior! Esta é a democracia que foi criada a partir da constituição de 1988, que chegaram a comemorar como a melhor que o país já teve, porém trouxe ao nosso povo absurdo institucional pior do que a Constituição da monarquia.

Esta história certamente não tem um final feliz, onde tudo acaba com as coisas todas agradando a todo mundo. Infelizmente nosso sistema eleitoral continua deformado e nosso congresso continua longe de representar os verdadeiros interesses do nosso povo. Ter um Congresso Nacional onde os representantes, aqueles que formulam e analisam as leis do país podem ser eleitos sem nenhuma formação acadêmica, já diz por sí só o nível do nosso legislativo.

Vamos continuar como em um conto de fadas aguardando uma mudança de enredo, uma guinada nas relações dos personagens, para que daqui a algum tempo a gente possa dizer sobre este mesmo país? ERA UMA VEZ UM PAÍS QUE CONSEGUIU SER UM VERDADEIRO PAÍS.       

Orígenes Martins

É professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio

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