15 de setembro de 2024

Ensino profissionalizante – estamos em uma nova era?

Há alguns dias vem ressurgindo a discussão sobre o ensino profissionalizante no Brasil, a partir da fala do ministro de Educação Milton Ribeiro no último dia 09 de agosto, quando ele citou como bem-sucedido o modelo alemão de “universidade para poucos”.

Como me formei no segundo grau profissionalizante no Colégio Cruzeiro (uma escola alemã – Sociedade de Beneficência Humboldt) no Rio de Janeiro (RJ), agucei-me em me atualizar sobre o tema lendo o artigo do Deutsche Welle (27 de agosto), assinado por Bruno Lupion, intitulado “Como funciona o sistema educacional na Alemanha” (https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-sistema-educacional-na-alemanha/a-59002478). 

Não satisfeito, aproveitei um encontro com a Professora Dra. Jussará Gonçalves Lummertz e, no cafezinho, instiguei-a a trazer o seu olhar calejado sobre o tema a partir da experiência de vida na Educação no Amazonas, com quem convivi desde 1997. 

Passo a compartilhar com nossos leitores, de forma resumida, sua análise que comungo em grau, número e gênero.

A proposta de ensino profissionalizante tem muitos pontos positivos se não formos copiar o modelo alemão, que é muito bom, mas, não para a nossa cultura.

O Brasil já ofereceu ensino profissionalizante na década de 1980, mas, o modelo era diferente. 

Havia duas modalidades: o aluno concluía o curso como ‘Técnico’, ou, como ‘Auxiliar técnico’. Além do conteúdo, o que representava a diferença na formação era a carga horária. Ou seja, o tempo em que a profissionalização era oferecida.

Os alunos que deixavam o curso como ‘Técnicos’ tinham três anos de profissionalização no segundo grau. Os que saiam ‘Auxiliares técnicos’ cumpriam a sua carga horária ao longo do segundo ano do segundo grau.

Penso que o ensino profissionalizante seja interessante para o aluno que busca o emprego logo após a conclusão do segundo grau (atual ensino médio), mas, tem toda a liberdade para entrar na universidade.

Não podemos esquecer que não tem sentido pensarmos determinismos com a formação de nossos alunos. Não há necessidade de fazer uma opção pela escola A, ou B. Todos devem oferecer a oportunidade para profissionalização, se os órgãos controladores acharem por bem.

Por outro lado, se o aluno não quiser seguir estudos da universidade, ele é quem deve optar na hora que isso lhe for conveniente, sem escolhas precoces.

Outra questão importante é que este tipo de ensino deve ter bons laboratórios e professores com formação adequada. Deviam ser buscadas empresas parceiras, outras instituições como hospitais e clínicas, onde os alunos pudessem desenvolver um certo trabalho, muito próximo daquele que desenvolverá em algum tempo, em sua realidade profissional.

Não devemos ter medo de oferecer estas oportunidades aos nossos alunos. O que não podemos é determinar o tempo dos alunos para vencerem algumas etapas, ou, algumas tarefas de ensino, pois, cada aluno tem seu ritmo para aprender.

No cerne desta conclusão, a professora ressalta a principal crítica ao modelo alemão: a separação precoce das crianças (aos 10 anos de idade) em três tipos de escola, de acordo com suas habilidades acadêmicas. As “escolhidas” para escolas menos exigentes serão preparadas na educação profissional para o sucesso de empresas de engenharia e serviços. Nas escolas de alto nível poderão tentar uma vaga na universidade.

Como pupilo da Dra. Lummertz apreendi, com ela, o desejo de ensinar com o cuidado indispensável de se respeitar o aluno em sua maturidade cognitiva e integralidade, mesmo quando o desafio estiver na formação de adultos. 

Nos desafios impostos pela pandemia, entre discussões sobre investir em educação profissional, ou, em universidades, lembrei-me da sentença do ex-senador pelo Distrito Federal, Prof. Dr. Cristovão Buarque: “educação é trabalho”. 

Urge transformarmos, às várias mãos, a Educação no Brasil num projeto de Estado. Para tanto, nestas discussões deveríamos envolver educadores experientes. 

Atender ao mercado de trabalho como técnico não deve ser o limite para o jovem brasileiro. 

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

Veja também

Pesquisar