4 de outubro de 2024

Demonização do lúdico continua

A recente ameaça de aumento de casos de Covid19 fez com que o governo tomasse medidas “drásticas”: proibiu os grandes eventos e até os pequenos com concentração maior que 200 pessoas. Com isso mostrou que a falta de criatividade que tem sido a marca no combate à pandemia que resiste a todas as vacinas e medidas continua existindo. 

Para traçar uma analogia entre estas medidas e outras, poderíamos dizer que o vírus só sente desafiado em aglomerações festivas e descontraídas e ataca. Ônibus lotados ou outras concentrações não merecem a atenção do vírus. Assim como falamos em anos anteriores o fato das bactérias só estarem em restaurantes e supermercados que cumprem as leis, jamais em estabelecimentos menores ou em comida de rua. O vírus e as bactérias não mudam de atitude, assim como os governos. Para o estado do Amazonas, até a posição em que está colocado o CNAE no contrato social influencia o comportamento do vírus. 

Ironias à parte, é lamentável que o setor de diversão sempre seja tratado como vilão. Isso encontra respaldo naquele que veem na diversão a presença do mal. O homem desde a mais tenra idade é ensinado a brincar. Contudo, na fase adulta, a primeira coisa que se restringe é o lúdico. É uma necessidade humana como é a da sentir-se valorizado em seu trabalho, por exemplo. No entanto, a demonização do lúdico encontra apoiadores naqueles que não participam de determinada brincadeira. Há quem goste de futebol, mas não vê necessidade de ir ao estádio para vibrar. Ou que não precisa ir a um determinado show para gostar do artista que lá se apresenta. Porém, alguém tem o direito de proibir a quem quer ver in loco?

Prova está em uma determinada rede de televisão que trocou parte do lúdico pelo lúgubre. Perdeu audiência porque ninguém gosta de notícia triste. A reação natural do homem é tentar substituir a tristeza por alguma coisa alegre. Esse fator natural não parece ser levado em conta por nossos governantes. A dose de abstinência já foi servida para a população. É sempre mais prazeroso estar entre pessoas alegres que entre aquelas que lamentam a vida o tempo todo. 

Enfim, entre muitos erros e poucos acertos no tratamento da pandemia até agora, uma sequela ficou: o pânico que tudo volte. Os governos estaduais estão administrando este pânico a seu favor. Afinal, o governo federal nada faz, e as vacinas que ninguém comprou, foram aplicadas com efeito duvidoso. Em outras palavras: não tem a confiança de ninguém, porque ao menor sinal, todo o medo volta. Ninguém, de nenhum lado político tem coragem de defender a vacina “que é 100% eficaz depois da segunda dose”. Políticos, jornalistas e fofoqueiros de toda sorte viraram médicos especialistas. Isso num momento em que cientistas estudiosos e humildes não certeza de eficiência de nenhum tratamento.

No entanto, não se olha para o histórico todo. É mais fácil culpar os divertimentos. Se não for suficiente, culpem os bares e restaurantes por todo o mal que acontece na pandemia. Isto já foi feito e a reação foi pífia. Porque não outra vez? Antes a proibição era por fata de vacina. Se esta, segundo alguns, não combate no todo, mas faz com que o vírus se manifeste de forma branda, então o serviço público de saúde conseguirá atender a todos. Caso contrário, não será a proibição de encontros que salvará a humanidade. Procurar evitar mortes é trabalho do poder público. Como fazer isso, é trabalho da ciência e do bom senso. Oxalá o bom senso vença esta batalha.

Luiz Lauschner

é empresário

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