Com a chegada da pandemia várias foram as vezes que passou pela minha cabeça, diante dos meus quase 90 anos, que jamais voltaria ao meu torrão amado, a minha Ilha Tupinambarana, a minha Parintins.
Foram quase três anos de distância, isolamento e saudade de tudo e de todos. Fugindo do inevitável, do vírus, que me pegou recentemente, felizmente após as quatro doses de vacina. Ainda estou escrevendo com COVID, mas graças a ciência, que alguns ignoram, com sintomas leves. Devo ter pego na Ilha, mas mesmo positivado voltei feliz e realizado.
Passar quase três anos longe de Parintins foi um sofrimento inigualável, como diz Israel Paulaim quando se refere à torcida do Garantido.
Sofri calado, a espera do tão sonhado retorno, do tão sonhado regresso, mas felizmente o dia chegou e fui assistir, de perto, o maior festival do mundo feito pelos bumbás Garantido e Caprichoso.
Percorri Parintins de Norte a Sul, de leste a oeste, da Francesa ao Parananema. Caminhei pelas ruas, abracei amigos, parentes, conhecidos.
Matei as saudades escondidas no meu coração, mas muita dor no peito em razão dos amigos que perdi nesses dois anos.
Apreciei os pratos prediletos, bodó, pirarucu, pimenta murupi, tucupi e tantos outros.
Fui no Canta Galo, apreciei as lindas árvores lombrigueiras, que não dão frutos para comer, mas com sombras que dá vontade de passar horas embaixo.
O por do sol visto da minha casa na praça Judith Prestes é outro item inigualável. Tudo devidamente registrado nos celulares e na alma do sobrinho Geraldo Lucio e do compadre Roberto Figliuolo. Que dias felizes!
Na praça, debaixo da mangueira, plantada pela minha esposa Nazaré e minha irmã Edda, denominada de meu escritório, fico vendo o vai e vem de navios, barcos, rabetas e canoas desafiando o gigante Rio Amazonas. Em época de festival, esses barcos passam tremulando as bandeiras azuis e vermelhas, de Caprichoso e Garantido. Um espetáculo gratuito!
O som alto dos bares vizinhos incomoda, mas depois de 2 anos de pandemia, ver a festa na praça lotada é algo que emociona, pois não nascemos para viver isolados, vivemos para nos abraçar, cumprimentar, beijar, tocar, dançar, enfim, comemorar a vida.
Bom ver o Comuna´s, Coroas, Buteco do Verçosa e o Extra Gole, Kuiu, Pastel da Thaís/Diquinha, Pedaço de Paz lotados e faturando.
Saborear o tacacá na subida do porto, junto a parede da casa dos “Maranhão/Nina”, o pastel e a empada da Diquinha, os filés de peixe do frigorífico do Dejanilton, as iscas dos bares da praça Judith Prestes, o sanduiche ao lado da casa do Filipe e da Vilma, o açaí, os vendedores ambulantes, o novo Baratão da Ilha, o açougue do Bigode, as feiras de produtores, isso tudo não tem preço.
Bater papo com os produtores rurais da Ilha na presença do meu filho, especialista no setor, é outro encontro que valorizo muito.
Não fui ao Bumbódromo, a idade já não permite, mas assisti pela televisão esse belo espetáculo que vi nascer antes de deixar Parintins com meus 13 anos de idade. Que nunca acabe, pois além de bonito, é fato gerador de renda e de alegria na Ilha.
Que o festival não tenha o destino da Fabriljuta e da serraria dos italianos.
Recebi a visita do prefeito Bi Garcia que afirmou o início das obras para a reconstrução do muro de arrimo. Que excelente notícia!
Não poderia esquecer do queijo coalho da fazenda do meu amigo Osvaldo que é vendido na padaria do Toinho, no bairro de Palmares.
Foram dias agradáveis, ao lado da minha família e amigos.
Que venha 2023, com muita alegria, com a vitória do Garantido e com o muro de arrimo devidamente construído e forte, e o amigo Ruy levando e trazendo meu carro Corolla em sua balsa por mais um ano. Nessa brincadeira, já temos quase 15 anos de idas e vindas singrando os rios Amazonas e Negro.
Obrigado Nossa Senhora do Carmo!
Obrigado à minha esposa Nazaré pela companhia de 60 anos.
08.07.2022
Ubaldino Meirelles da Silva, parintinense, servidor público federal aposentado.