19 de setembro de 2024

Computação Sustentável

Que tal refletir sobre como a computação sustentável está revolucionando os Data Centers (DC)? Descubra as tendências que estão tornando esses centros neurálgicos da era digital mais ecológicos e livres de carbono. Com insights exclusivos sobre pesquisas recentes e cases de sucesso com energia limpa.

Um DC é o coração pulsante da infraestrutura digital. É onde se armazena e processa os dados computacionais de uma organização. Ele abriga uma concentração de servidores e equipamentos de computação que permitem o funcionamento de sistemas, aplicativos e bancos de dados de uma empresa ou instituição.

O primeiro DC foi criado no final da segunda guerra mundial, pelos militares americanos e desenvolvido na Universidade da Pensilvânia. Ele serviu de “abrigo” para o famoso Electronic Numerical Integrator and Computer (ENIAC), o primeiro supercomputador que custou cerca de US$ 400K, ocupou cerca de 140m2, tinha 30 toneladas, 70K resistores, 17,5K válvulas, 10K capacitores e consumia uma quantidade enorme de energia, entre 140kW e 150kW, capaz de iluminar uma pequena cidade.

De lá para cá muita coisa evoluiu e já estamos na quarta geração de DC, altamente virtualizados e orientados a serviços, hoje operados por gigantes como Amazon, Google, Facebook, Microsoft, sendo que em 2022, os EUA (2701), a Alemanha (487), o Reino Unido (456), China (443) e o Canadá (328) foram os países com o maior número de DC no planeta, enquanto o Brasil ocupou a 12ª posição com cerca de 150 <https://bit.ly/440tRfQ>.

Para quem deseja ler publicações científicas sobre os DC, preparei um relatório < https://link.lens.org/aEt7Gvzn4lj> contendo um dashboard interativo que permite visualizar as estatísticas, bem como ter acesso a 11158 publicações sobre o assunto.

Há várias tendências que estão remodelando esse coração pulsante, algumas das quais envolvem:

1ª) A virtualização do(s) servidor(es)

Ela consiste na criação de máquinas virtuais que emulam servidores físicos completos, executando sistemas operacionais e aplicativos como se fossem máquinas dedicadas, gerando economia de espaço, energia e custo, bem como segurança, estabilidade e otimização de carga, com máquinas virtuais podendo ser distribuídas estrategicamente para equilibrar a carga computacional dos computadores.

2ª) Edge Computing

Esta é uma arquitetura de DC que utiliza o poder de processamento dos dispositivos, ajudando a processar dados perto da “borda” da rede, ou seja, próximo da origem dos dados, ajudando a reduzir a latência, melhorando o desempenho e melhor custo-benefício.

3ª) Nuvem Híbrida (Hybrid Cloud)

A nuvem híbrida combina a nuvem pública e privada, permitindo que dados e aplicativos sejam compartilhados entre elas. Ela traz flexibilidade pois os aplicativos podem ser movimentados entre nuvens públicas ou privadas de acordo com requisitos que envolvem custo, escala e segurança. Outro benefício é a inovação já que permite construir e testar novos aplicativos na nuvem pública antes de integrar o ambiente local.

4ª) Inteligência Artificial (AI)

A AI tem o potencial de revolucionar os DC, pois vem sendo utilizada para aprimorá-los na Gestão de Energia e Refrigeração, otimizando o consumo e a redistribuição de energia em tempo real, bem como ajudando a fazer um resfriamento inteligente. Também está ajudando na manutenção preditiva a partir da análise de dados dos componentes do DC para prever falhas antes que elas ocorram. 

Outra aplicação foca a Segurança e o Monitoramento, em que sistemas de IA podem monitorar o tráfego de rede e identificar comportamentos anômalos, alertando os gestores sobre possíveis ameaças. 

A IA também tem melhorado a autenticação, por meio do reconhecimento facial, de voz ou outros mecanismos biométricos.

5ª) 5G

A 5G não está apenas moldando o futuro da comunicação móvel, mas está redefinindo a arquitetura, operação e serviços dos DC.

A 5G impulsiona aprimoramentos nos DC devido ao aumento na demanda por capacidade resultante das velocidades mais rápidas e do maior volume de dados. Isso requer melhorias na capacidade de processamento e armazenamento desses centros.

Outro impacto da 5G é a latência reduzida, essencial para aplicações em jogos, veículos autônomos, realidade aumentada, realidade virtual etc. Assim, para aproveitar essa latência, os DC precisarão se descentralizar, levando a computação para mais próximo da fonte de dados, o que poderá gerar “Micro Data Centers” ou “Data Centers de Borda”

6ª) Net-Zero Energy DC

Este é um conceito novo, em português seria algo como DC com consumo líquido zero de energia, cujo objetivo é eliminar o impacto ambiental da operação do DC por meio da eficiência energética e uso de energia renovável. O estado da arte envolve:

6.1) Empregos de servidores, armazenamento, redes de resfriamento com alta eficiência energética;

6.2) Utilização extensiva de energia solar, eólica, biomassa ou outras fontes renováveis no local para suprir a energia do DC;

6.3) Reutilização do calor com sistemas de reaproveitamento do calor dissipado pelos servidores para aquecimento ambiental do prédio e da água;

6.4) Arquitetura com design cuidadoso do prédio e de sua infraestrutura de modo a aproveitar ventilação e luz naturais e minimizar o uso de resfriamento artificial;

6.5) Medição e análise em tempo real da geração renovável, do consumo, das condições ambientais e carga computacional para otimizar o uso da energia;

6.6) Compensação com uso de créditos de energia renovável para compensar qualquer consumo residual de fontes não renováveis. 

Exemplos de DC sustentáveis incluem: 1) Apple, com energia 100% renovável desde 2014; 2) Microsoft em Cheyenne, movido a energia eólica desde 2018; 3) QTS em Atlanta, usando painéis solares e atingindo consumo líquido zero em 2020. Em 2022, firmou parceria de 20 anos com a Georgia Power, adicionando 350 Megawatts de energia renovável; 4) Dubai Moro Hub, maior DC solar do mundo (100Mw).

Finalmente, diante de um rico manancial de recursos naturais (sol e água em abundância), aliado a pesquisadores talentosos e a um expressivo número de empresas de TI ou eletroeletrônico, muitas delas com robustos investimentos em P&D, Manaus parece um algoritmo perfeito para se tornar um Hub de desenvolvimento computacional sustentável. Então, qual linha de código está faltando para ativar essa equação?

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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