Nesses tempos, dessa terrível pandemia, que afetou a todos de uma forma absolutamente repentina, provocou mudanças de comportamento na sociedade como um todo. Comportamentos esses mais extremos, outros nem tanto. Não é o propósito aqui fazer juízo de valor.
O instinto de sobrevivência poderia levar ao individualismo e ao egoísmo, mas a boa referencia é que um esforço coletivo muito positivo vem mudando isso e ajudando muitas pessoas a passarem por esses momentos bastantes delicados.
É claro que sabemos que existe um dualismo de pensamentos entre o isolamento social e a flexibilização para segmentos produtivos que alguns consideram de menor risco.
Tudo bem, com o tempo, saberemos quais foram as decisões corretas e as não apropriadas, e o preço dessas decisões certamente estarão presentes.
É interessante perceber, em situações de crise, a microeconomia define alguns comportamentos, entre eles, o “free rider” como sendo aquele em que um ou mais agentes econômicos acabam usufruindo de um determinado benefício proveniente de uma situação ou bem, sem que tenha havido uma contribuição para a obtenção de tal.
Esse problema surge na provisão de um bem público, já que o mesmo tem como características a não-rivalidade e a não-exclusividade, ou seja, a ele não pode ser atribuído um direito de propriedade.
Para facilitar a compreensão desse tema tão relevante, apresento por analogia: a grande concentração de esforços no combate à pandemia do novo coronavírus pela sociedade, iniciativa privada e governo, e paralelo a isso o aumento em cerca de 51% no desmatamento em nossa região nos primeiros meses do ano.
Nesse caso, “alguns” estariam pegando carona, ou seja, tendo um comportamento “free rider“ em face da atenção dispensada ao controle da pandemia, tendo em vista que quem desmata em uma situação dessas não estaria contribuindo de nenhuma forma para obter o benefício da redução da pandemia.
Provavelmente expectativas em relação a fiscalização não ser tão efetiva durante o momento de crescimento do coronavírus, como consequência, os custos para ofertar serviços de fiscalização se transferem para os demais indivíduos, gerando um preço maior a eles, ou mesmo a impossibilidade em fornecê-lo.
É certo que a economia, embora considerada por muitos como uma ciência fascinante, também apresenta suas falhas, e por que não afirmar que é isso que a torna tão surpreendente, comparativamente com outras ciências.
Os números relacionados ao desmatamento não se trata de uma situação essencialmente nova, mas em um clima em que a saúde da sociedade deve ser considerada como um bem maior, chega a ser inacreditável esses números.
Neste contexto, é possível ainda a presença de comportamento definidos como “rent seeking”, ou seja, onde determinado indivíduo ou grupo se utiliza de benefícios ligados a seus respectivos ambientes, cargos ou poder de influência para assim tirarem vantagens que atendam seus interesses.
A solução para essas problemáticas em ambientes de fragilidades não é simples, tendo em vista que a percepção de utilidade envolvida por parte das pessoas envolvidas pode ser diferente, de modo que uma determinada pessoa pode atribuir um valor maior a uma situação do que outra, de forma inacreditável.
*Sérgio Gonçalves é doutor em Ciências do Ambiente / Economia Ambiental – Universidade Federal do Amazonas
Fonte: Sérgio Gonçalves