18 de setembro de 2024

Como proteger e se desenvolver com as Florestas: P2

Os elementos básicos para proteger e se desenvolver com as nossas florestas.

Nos últimos artigos abordamos sobre inúmeros fatos/eventos que apontam que o nosso planeta está apresentando dificuldade para recuperar ecossistemas que estão sendo degradados pela humanidade, com impactos perigosos para a sobrevivência por conta do desequilíbrio irreversível do clima. 

Vimos também que em 01/03/2019, a ONU, em Assembleia Geral, lançou a Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas <https://undocs.org/A/RES/73/284>, um chamado para no período de 2021 a 2030, proteger e recuperar milhões de hectares de ecossistemas ao redor do planeta. 

Esse movimento global é liderado pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), sendo que essa restauração envolve desde ajudar na recuperação de ecossistemas degradados até na conservação dos que ainda estão intactos. 

E entre os ecossistemas que demandam atenção urgente, estão as florestas, em especial a Amazônica, uma vez que ela vem sofrendo com a exploração irracional e predatória, com recordes seguidos de aumento de queimadas e desflorestamento. Então como podemos reverter essa situação?

A resposta não é simples, mas uma abordagem seria a adoção de um Plano de Estado, de longo prazo, com uso de princípios, metas e as melhores práticas de gestão, a fim de recuperar áreas degradadas, evitar novas degradações, bem como promover o desenvolvimento sustentável, aproveitando as florestas que ainda estão em pé. Assim, este artigo aborda sobre o plano e os princípios, enquanto que o próximo focará nas boas práticas adotadas no Brasil e em países considerados modelos em desenvolvimento sustentável.

1) Plano de Estado e de Longo Prazo

O melhor Plano de Estado é aquele construído com a população, envolvendo representantes de várias classes: política, empresarial, religiosa, científica, governamental, ONGs, militar, indígena, estudantil e até internacional. Não adianta um grupo de empresários sonhar com planos para a Cidade ou Estado, se eles não são construídos com o coletivo, o mesmo serve para militares, religiosos, cientistas, ecologistas, partidos políticos, Ongs, ou governantes, pois esses planos refletem apenas percepções ou interesses paroquiais, dificilmente são absorvidos ou causam algum impacto positivo na sociedade.

Um Plano de Estado tem visão de longo prazo, geralmente de 10, 20 ou até 30 anos, podendo ser revisado e aperfeiçoado a cada 4 ou 5 anos. Por exemplo, qual a visão que temos da Floresta Amazônica em 2030? ou 2040? ou 2050? e como podemos chegar lá? 

Essas são perguntas que estadistas fazem e estimulam a população a pensar, em parceria com profissionais experientes em planejamento estratégico e em metodologias participativas. Se a iniciativa partir de um potencial candidato ao cargo de governante, que ela seja iniciada antes, e em caso de ser eleito (a), que seja continuada no início de seu governo, pois tentar fazer algo dessa natureza no último ano de mandato, geralmente soa eleitoreiro, corre-se o risco de não obter apoio de diversos segmentos da sociedade, sem contar que, em caso de não ser eleito, todo o trabalho pode ser arquivado ou colocado em “banho Maria” pelo próximo governante, gerando desperdício de dinheiro público e desmotivação daqueles que tanto se esforçaram.

Uma das abordagens para ajudar a construir a base de um Plano de Estado, chama-se SMART FORESIGHT, metodologia utilizada pelo Dr. Rafael Popper <https://rafaelpopper.wordpress.com/>, um profissional respeitado internacionalmente, a quem tive a honra de conhecer durante três cursos organizados pela Universidade de Manchester <https://bit.ly/2TAVEFo>.

A SMART Foresight é uma metodologia que permite, de forma participativa, fazer previsões e recomendar roteiros de ações de curto, médio e longo prazos, por meio das etapas chamadas de Scoping (S), Mobilising (M), Antecipating (A), Recommending (R) and Transforming (T), sendo que em cada uma delas é possível utilizar uma farta combinação de métodos. 

E para mostrar um caso concreto envolvendo previsões de longo prazo para Florestas, neste link <https://bit.ly/3BJilIU> o leitor tem acesso a um documento com 269 páginas, publicado em 2020, intitulado “The Future of  Forest-based Bioeconomy Areas – Strategic opening in Uruguai and World by 2050” referente a um projeto solicitado pelo Governo do Uruguai e que foi liderado pelo Dr. Rafael, para apresentar um Roteiro de Ações Estratégicas para cadeias de valor florestais consideradas chaves para o Desenvolvimento Estratégico Nacional do Uruguai até 2050. 

Em grande síntese, essa experiência no Uruguai gerou: 

a) uma visão geral de longo prazo, apoiada por cinco visões focadas em: a1) gestão sustentável das florestas: a2) processamento mecânico da madeira; a3) processamento de biomateriais à base de fibra; a4) biorefinamento para produtos químicos e energéticos; a5) bioenergia;

b) 15 oportunidades e 511 recomendações, as quais foram alocadas da seguinte forma: 100 para gestão sustentável das florestas; 107 para processamento mecânico da madeira; 114 para processamento de biomateriais à base de fibra; 109 para biorefinamento para produtos químicos e energéticos; e 81 para bioenergia.

Agora resta saber se todo o trabalho primoroso de base realizado pela equipe do Dr. Rafael, entre 2018 e 2019, em parceria com profissionais do Uruguai e da Finlândia, vai encontrar eco dentro de um Plano de Estado a ser adotado pelos governos seguintes, já que uma nova gestão assumiu o país em 2020.

2) Princípios para construir e implementar um Plano

Princípios são valores considerados chaves para a tomada de decisão. Neste caso, há a necessidade de se discutir quais princípios nortearão a construção e a implementação do Plano de Estado. Recomendo no máximo 5 princípios chaves, eis alguns antenados com as boas práticas de desenvolvimento sustentável das florestas:

2.1) Transparência: agir de forma honesta, disponibilizando para a população todo o processo de gerenciamento do plano;

2.2) Eficiência: combater desperdícios, reduzir burocracia, otimizando a contribuição das florestas e do setor florestal para o desenvolvimento rural e urbano, com geração de emprego e renda;

2.3) Sustentabilidade: florestas devem ser gerenciadas com as melhores práticas de gestão disponíveis, a fim de atender as necessidades sociais, econômicas, ecológicas, culturais e espirituais das gerações atuais e futuras;

2.4) Cooperação global: promover acordos de cooperação com organizações interessadas em apoiar o desenvolvimento da região, especialmente com ações que ajudem a cumprir as metas de Acordos internacionais e da Agenda 2030.

2.5) Continuidade: manter e aperfeiçoar continuamente o plano, adotando soluções baseadas tanto na ciência quanto na sabedoria milenar dos indígenas.

Finalmente, para melhor proteger e se desenvolver com nossas florestas, precisamos adotar um planejamento participativo de longo prazo, com princípios que assegurem que todo o esforço seja aperfeiçoado ao longo do tempo, alinhados com as melhores práticas de gerenciamento florestal sustentável do planeta.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

Veja também

Pesquisar