Na coluna de hoje vou fazer algumas considerações sobre artigo publicado na imprensa local com o título “IPI e o desmatamento na Amazônia”. Nesse artigo a palavra “desmatamento” aparece 11 (onze) vezes. Isso mesmo, onze vezes aparece a palavra “desmatamento”, e questões ligadas à renda da população que preservou 97% da floresta no Amazonas apenas breves comentários, apenas um sobrevoo bem alto que continua deixando milhares de pessoas, como disse o governador e o IBGE, invisíveis. Em síntese, foi quase 11 a zero para a palavra “desmatamento” contra a palavra “renda”.
Uma goleada cujo vencedor, infelizmente, foi a miséria de metade do estado. No artigo encontrei a seguinte frase do autor: “…outra consequência menos óbvia das mudanças no IPI é o aumento do desmatamento na Amazônia...”. Ora, o próprio autor disse que é “menos óbvia“, mas colocou no título do artigo a palavra “desmatamento”, mesmo a consequência menos óbvia. Deveria ter colocado as mais óbvias no título que ele mesmo citou no artigo, mas o que interessa mesmo, e a mim não enganam, é fazer o link do Desmatamento x Amazônia x Amazonas de forma bem estratégica. Incluir no título o menos óbvio já diz tudo. O autor é totalmente contrário às estradas no Amazonas, veja o que ele diz:
- “…com poucas estradas trafegáveis a economia do desmatamento é menos dinâmica no Amazonas…”. No título temos a palavra “Amazônia”, agora temos a palavra “Amazonas”. Estão vendo porque a BR-319 não sai…
- “…a baixa densidade de estradas atua como uma trava ao desmatamento…”. De novo, estão vendo porque a BR-319 não sai…estão percebendo que uma hora é AmazÔNIA, outra hora é AmazONAS.
Está muito claro que o autor desse artigo quer o Amazonas sem estrada. Tá explicado por onde passa um dos travamentos da BR-319 que é tão importante ao Amazonas e, logicamente, para as indústrias do Polo Industrial de Manaus. Nosso produtor rural luta por boas estradas para escoar a produção, mas o autor do artigo é contra estrada, e por isso temos tanta gente passando fome, dificuldade no acesso a escolas, doente e sem segurança nas áreas rurais. O autor não quer estrada, e logicamente a BR-319 que tanto interessa ao PIM/ZFM está nessa lista, e ainda mandou o seguinte recado às lideranças do Polo Industrial: “...as empresas do Polo Industrial de Manaus, representadas pelas suas entidades de classe, deveriam fazer uma metamorfose no seu posicionamento estratégico. Em vez de ficarem desfrutando dos benefícios fiscais apenas para obter melhores resultados financeiros, elas deveriam ter uma atitude proativa em relação à promoção da bioeconomia amazônica e do desenvolvimento sustentável...”.
Ele ainda complementa dizendo que “…isso aumentaria a legitimidade e coerência da defesa dos benefícios fiscais da ZFM, uma vez que a bandeira ambiental é a principal justificativa para tanto...”. Caso exista, a indústria precisa rever essa parceria com algumas lideranças ambientais que estão contra os interesses da população e da economia do Amazonas. Estão sendo chamados de incoerentes. Acredito que na UFAM e UEA tenham lideranças ambientais mais sensíveis ao ser humano, mantendo a floresta em pé, mas ouvindo a ciência que afirma poder fazer, por exemplo, a integração lavoura, pecuária e floresta. O CADAAM, parceria FIEAM, FAEA e FECOMERCIO já mostrou isso com a palestra de chefes da EMBRAPA.
O artigo tá jogando no colo das indústrias a responsabilidade daquilo que as lideranças ambientais não fizeram ao longo dos últimos anos, ou seja, que foi deixar o setor primário crescer seguindo todas as orientações sustentáveis dos pesquisadores de EMBRAPA e do IDAM. Travaram tudo, e ainda estão travando. E não fizeram esforço para fazer andar as políticas e programas criados no governo do PT, entre eles a PGPMBio (puro extrativismo), PAA e PNAE/mínimo de 30% (que ajudei a construir NT que contempla povos e comunidades tradicionais).
A indústria precisa ficar atenta a esses movimentos dessas lideranças, querem captar mais recursos, mas com os que receberam, e com as políticas e programas que já existem, deixaram metade do povo que defendeu a floresta em pé passando fome, isolado, porque não pode ter estrada. Jogar no colo da indústria o fortalecimento da bioeconomia (aliás, termo “novo” usado para enrolar, pois ela já existe há décadas, nós é que nada fizemos para essa bioeconomia colocar dinheiro no bolso de quem manteve esse patrimônio intocável ao mundo). Já temos indústrias no Amazonas querendo fibra natural e borracha para movimentar a fábrica, isso é pura bioeconomia, mas o que essas lideranças ambientais onde atuam fizeram para colocar essa matéria-prima nessas indústrias?
A borracha tá na subvenção federal e estadual, tem preço mínimo, quantos seringueiros, piaçaveiro e manejadores colocaram pra receber as subvenções? A ideia de substituir a sacaria de plástico pela de fibras naturais foi minha, mas nunca tive apoio do autor do artigo. Isso fortaleceria a tal “bioeconomia”. Temos a PGPMBIO (Política de Garantia de Preços Mínimos da Sociobiodiversidade) com vários dos nossos produtos incluídos, inclusive o pirarucu de manejo, piacava, cacau, borracha etc. O desempenho do Amazonas é péssimo. Dizer que não sabiam da existência eu não aceito, porque estive em eventos e divulguei várias vezes com a maior paciência possível, mas, quando acaba, tudo morre, não anda. No final do artigo, o autor fala que esse “…patrimônio nacional depende de políticas governamentais inteligentes e de lideranças empresarias verdadeiramente comprometidas e engajadas com os desafios do desenvolvimento sustentável da floresta…”.
Bem, políticas já existem, e tem a cara do nosso estado, só querem mais reuniões, reuniões e reuniões, e a pobreza aumentando. Eu não daria mais um centavo se não fizessem andar a PGPMBio, PAA e PNAE nessas comunidades. Por fim, quando lia artigos de setores da indústria vinculando a defesa do Programa ZFM à floresta em pé eu já sabia que viria artigo nessa direção, que está no meu blog Thomaz Rural querendo captar mais recursos para projetos e programas e jogando a responsabilidade para os outros. Isso é brincadeira! Se aparecer recurso, tem que ir direto na conta, no CPF de quem defendeu a floresta em pé, sem intermediários, sem novas consultorias. Isso sim é “…política governamental inteligente…”, sem intermediários.
Sempre estive e continuo aberto ao diálogo, desde que na frente esteja a renda ao povo que defendeu a floresta, renda digna, e não miséria, porque o IBGE apontou em 2018 metade do estado passando fome. Então, temos que rever tudo que já fizemos no passado. Não vi qualquer citação ao ZEE, crédito de carbono, REDD+ e concessão florestal. É urgente a necessidade de união para melhorar a vida das pessoas, porque a floresta sempre esteve e vai continuar em pé, somos responsáveis, enquanto o mundo não foi.