Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo (1892-1968), paraibano, foi um importante jornalista, empreendedor e arquiteto dos meios de comunicação social modernos, fato que o tornou mundialmente conhecido como o “Império da Comunicação” no Brasil. Os Diários e Emissoras Associados aglutinaram mais de cem jornais, estações de rádio e de televisão, revistas semanais e diárias.
Filiado à União Democrática Nacional (UDN), que representava a oposição ao governo de Getulio Vargas, JK e João Goulart, Assis Chateaubriand pode participar mais ativamente na política parlamentar brasileira, tendo em vista a liberalização política a partir de 1945.
Assis Chateaubriand envolveu-se na vida política nacional, sendo eleito senador pela Paraíba e pelo Maranhão. Amou e odiou políticos como Getúlio Vargas, Eduardo Gomes e Juscelino Kubitschek. Desses embates políticos nasceu uma de suas mais famosas frases: “Diga ao presidente para não vir com conversa. Para das ordens dentro dos Associados, tem de assumir nossa folha de pagamento”.
A importância de Chateaubriand foi central para a proliferação da imprensa no país. Do Sul ao Norte, de Leste ao Oeste, este empresário-jornalista conseguiu em pouco tempo expandir seus empreendimentos, sua influência política, bem como a ideia de um País moderno, com uma imprensa livre e instituições democráticas.
Defendera a incondicional liberdade de imprensa e de expressão como valores irredutíveis, onde o Estado não poderia intervir, ditando regras de coerção ideológica.
Era também um apaixonado pelas artes plásticas, por essa razão fundou, ao lado de outros eminentes intelectuais de seu tempo, o Museu de Artes de São Paulo (MASP).
Para além da expansão das estações de rádio, de jornais e das revistas por todo o território nacional, incorpora um novo segmento do mercado de serviços dos meios de comunicação de massa no Brasil: a Televisão em cores.
Assis Chateaubriand, como todo visionário, pensou a Televisão como linguagem capaz de processar toda a pujança cultura do povo brasileiro: as artes, as cores, os instrumentos lúdicos, a informação jornalística, o teatro, o cinema, a educação.
A fundação da TV Tupi em São Paulo foi, na verdade, a última grande jogada empresarial de Assis Chateaubriand em termos de inovação tecnológica nos meios de comunicação social em massa.
Tendo em vista a construção do império das comunicações, a sua derrocada era questão de tempo. Nenhum poder econômico ou jornalístico pode durar tanto tempo, a ponto de se tornar perpetuo. De certa maneira, a derrocada do império das comunicações de Chatô já estava anunciada, levando-se em consideração as proporções da expansão em questão.
Barão de Mauá e a família Matarazzo são exemplos de sucesso econômico que acabaram de maneira catastrófica. O Barão sofria pesadas sanções do império que o via como inimigo que disputava seu poder político. O Barão, em certo momento, chegou a ter mais dinheiro que os cofres do próprio governo brasileiro. Já a família Matarazzo pode obter sucesso econômico e empresarial no bojo do processo de transformação da economia brasileiro no início do século XX, onde as exportações significavam positivamente no balanço de pagamentos, podendo assim ampliar suas concessões e empreendimentos.
A situação de Assis Chateaubriand não foi diferente. Pode expandir seus empreendimentos, mas não pode controlá-lo pessoalmente. Mesmo antes de sua morte, muitas de suas empresas de comunicação já mostravam certa deterioração econômica e financeira. Ao depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) teve que revelar para todo o país que, ao contrário do que muitos pensavam, a situação de suas empresas não estavam tão boas assim. O próprio Chatô constatou inúmeras fraudes contábeis e financeiras, que denunciavam, de uma forma ou de outra, a queda do seu império das comunicações.
Entretanto, outro fator pode ser muito bem detectado de forma a identificar a queda do império. No mesmo período, Chatô já anunciava a crise interna de suas maiores empresas, surge o nome de outra importante figura da comunicação no Brasil, o jovem jornalista e empresário Roberto Marinho. A fundação da TV Globo e do fortalecimento do Jornal O Globo são importantes iniciativas que podem se atribuídas à iniciativa e à inteligência de Roberto Marinho que herdou o jornal de seu pai.
Com a total destruição da TV Tupi (incêndio), a TV Globo surge como o mais importante meio de comunicação televisiva do país, tornando-se líder de audiência tomando o lugar que antes pertencia ao conglomerado os Diários e Emissoras Associados de Chatô.
Nesse sentido, a crise anuncia-se nessa direção. Os fatores internos (crises contábeis e financeiras) e os fatores externos (crescimento da TV Globo como principal foco de concorrência) anunciam um período ambíguo que marca, necessariamente, a morte do velho e o nascimento do novo. Assim como registra a importância de dois gênios da comunicação social: Assis Chateaubriand e Roberto Marinho.
Assis Chateaubriand deixou, tomando a perspectiva histórica como fato, uma herança negativa nas empresas da comunicação no Brasil: a concentração e centralização do poder da mídia nas mãos de pouco, a oligopolização dos meios de comunicação fez parte dessa tendência perniciosa que ainda está no nosso cotidiano jornalístico e nos meios de comunicação social.
Entretanto, mesmo de forma contraditória, deixou um legado importante: a possibilidade de se acreditar num sonho e realizá-lo, fazendo com que muitos também compartilhem este sonho. Chatô marca não só um período importante do Brasil contemporâneo, como também anuncia alguns caminhos para o Brasil futuro.