4 de outubro de 2024

Cenários do Covid-19 e como enfrentá-lo – parte 1

Divulgação

O artigo inicia uma série sobre cenários de curto prazo da evolução do Covid-19 no Brasil, bem como enfrentá-lo.

Prezados, escrevo o artigo no dia 26/03/20, há mais de 7 dias de quarentena, no meio do turbilhão de enfrentamento contra o COVID-19 na Europa. Desde 02/3 estou em Manchester, Reino Unido. Queria estar em Manaus, perto da família, mas Deus me colocou aqui com a missão de usar as habilidades de pesquisador para identificar cenários e apontar soluções para nosso país, a partir da realidade de vários países e das boas práticas adotadas.

A fase 1 definiu 11 países (incluindo o Brasil) divididos em 2 grupos. O grupo 1 com os 5 países mais afetados pela pandemia: China, Itália, Irã, Espanha e Alemanha. O grupo 2 composto por EUA, Reino Unido, Países Baixos, Austrália e Canadá, considerados os melhores em termos de Segurança do Sistema de Saúde, pelo Global Healthy Security Index 2019 (GHSI2019), um relatório <https://www.ghsindex.org/> que apresenta o desempenho de 195 países em relação a sua capacidade de prevenir, detectar, dar rápida resposta, gerenciar riscos, atender as normas internacionais e gerenciar sistema de saúde. Vale a pena lembrar que esse relatório apontou que nenhum país está preparado completamente para enfrentar epidemias e pandemias, sendo suas recomendações relevantes para o momento atual. 

A fase 2 se concentrou em coletar os dados junto aos ministérios de saúde de cada nação, bem como estudar as boas práticas adotadas ao longo do tempo. No entanto, em alguns países, como o Brasil, há dificuldade em coletar dados precisos e atualizados, por conta disso, adotou-se dados divulgados em tempo real pelo worldometers <https://bit.ly/3dpMErI>, pelo Rastreador do COVID-19 <https://www.bing.com/covid >, criado pela Microsoft, bem como dados da John Hopkins Coronavirus Resource Center <https://coronavirus.jhu.edu/>. O número de novos casos/dia, bem como de mortes/dia foram digitados em planilhas, com valores diários desde o dia em cada país registrou seu 1º caso até o dia 24/03/20, data em que gerou-se as primeiras estatísticas para escrever então os artigos. A evolução diária e semanal foi comparada com o mesmo período de cada país, usando valores acumulados, médias, medianas, desvio padrão e coeficiente de variação, podendo inferir os seguintes resultados:

1º) Entre os 11 países, a Austrália tem o melhor desempenho no enfrentamento. Desde o 1º (25/01/20) de confirmação de 4 casos até o dia 24/03/20, foram 60 dias, em 2 meses, registraram 2317 novos casos e apenas 8 mortes. Para os países que já ultrapassaram 60 dias, China tinha 79252 novos casos e 2943 mortes, os EUA tinham 19367 novos casos e 255 mortes. O Brasil em apenas 30 dias já tem 2554 novos casos e 59 mortes; 2º) Por limitação de espaço, as boas práticas de gestão adotadas pelo governo da Austrália e seus parceiros serão apresentadas no próximo artigo; 3º) O único país que conseguiu reduzir o número de casos novos/dia foi a China, a qual iniciou curva rápida ascendente a partir da 4ª semana, com pico de 29.798 novos casos/dia e 254 mortes/dia, registrados na 7ª semana (dia 12/02/20). No dia 24/03/20 o número de novos casos e de mortes/dia eram respectivamente 47 e 4. Um outro artigo será escrito sobre as boas práticas adotadas pela China; 4º) Levando em consideração os dados dos 5 países mais afetados atualmente (China, EUA, Itália, Espanha, Alemanha e Irã), o primeiro Salto do COVID-19, aqui defino como a ascendência rápida de novos casos em 24h, acontece quando o país atinge valor acima de 500 casos/dia, especificamente entre 750 e 983 casos/dia. Na Itália o Salto do COVID-19 aconteceu na 6ª semana, dia 4/2, saltou de 778 para 1247. Na Espanha, este salto foi na 6ª semana, dia 12/03/, aumentando de 869 para 2086 novos casos/dia; 5º) No geral, o Salto do COVID-19 aconteceu entre a 6ª e 7ª semanas, com exceção da China e Irã que tiveram saltos bruscos no final da 3ª e 4ª semanas. EUA também é exceção por conta da subida brusca ter iniciado na 8ª semana. 

Além disso, a partir da análise dos dados é possível traçar os seguintes cenários de curto prazo do primeiro Salto do COVID-19 no Brasil: Cenário otimista: poderá acontecer na 8ª semana, ou seja, entre 14 e 20 de abril/20; Cenário realista: se dará na 7ª semana (07 a 13/4/20); Cenário pessimista: se dará na 6ª semana, entre 31/03 e 06/4/20.

Outra análise de cenário pode ser feita com base no histórico dos países mais críticos, seguindo a proporção do crescimento a partir da 4ª semana em diante, por conta de ser essa a última semana de coleta de dados. Projetando o acumulo de novos casos da 4ª semana até o final da 7a semana (07 a 14/04/20), pode-se considerar os seguintes cenários:

Cenário Adiós Dios sobre todo: se o Brasil se comportar como a Espanha, poderá registrar um acumulado de até 1.388.646 novos casos; Cenário Arrogant Tio San: se o Brasil se comportar como os EUA, poderá registrar um acumulado de até 390.061 novos casos; Cenário Avere un diavolo per capello: se o Brasil seguir a Itália, o resultado será de até 107412; Cenário da Mediana: se o Brasil se comportar pela mediana dos piores países, teremos um total de até 97107 novos casos; Cenário Chingling: se o Brasil se comportar como a China, o resultado será de até 29099, valendo ressaltar que este país foi o primeiro e que na 7ª semana iniciou o processo de redução dos novos casos/dia. Cenário da Média: se o Brasil se comportar pela média dos piores países, poderá acumular até 22342 novos casos.

Se considerarmos: que sem milagres, vacinas eficazes apareçam a partir de 2021; a capacidade rápida de mutação do COVID-19, capaz de matar também crianças e jovens (já está acontecendo na Itália); que o país começou a adotar medidas muito tarde; que a situação vai piorar quando a doença chegar nas comunidades mais humildes; que o número de leitos totais do SUS disponíveis no país nesse período, seja em torno de 6577, então há uma boa chance do SUS começar a dar sinais de estrangulamento em vários estados a partir da 2ª semana de abril/20. 

Diante do exposto, em nome de tudo que é mais sagrado, pelos nossos queridos idosos, pelos nossos filhos e família, apelo aos empresários, governantes, prefeitos, partidos e simpatizantes, parem de brigar! Governo Federal essa pandemia não vai dar trégua nos próximos meses, apresente um plano de ajuda financeira mais ambicioso para ajudar os empresários e trabalhadores, convoque as Forças Armadas para atuarem junto aos empresários e profissionais da saúde, visando instalar em estádios, escolas ou em outros lugares estratégicos, os hospitais de campanha para atender casos de baixa complexidade, bem como dar apoio logístico aos suprimentos, especialmente de saúde e alimentação. 

Empresários façam doações ou adaptem suas linhas de produção, produzir EPIs, álcool, sabão, etc para a população e profissionais da saúde. Start ups é hora de criar soluções contra o COVID-19, como as que estão acontecendo em vários países, lideradas pela StarupBlink <https://bit.ly/3ansXz1>.

Há tanto o que fazer e aprender, tenhamos coragem, devemos lembrar que um filho teu não foge à luta, quem sabe não sairá do Brasil várias soluções para essa pandemia e sairemos mais forte e unidos do que nunca.

*Prof. Dr. Jonas G. da Silva – Prof. da Eng. de Produção da UFAM. Atualmente, pesquisador visitante do Instituto de Pesquisa em Inovação da Escola de Negócios da Universidade de Manchester (RU). E-mail: [email protected]

Fonte: Jonas Gomes

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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