20 de setembro de 2024

“Cada um é responsável por suas escolhas”

Há muito desencanto em relação ao sistema político e ao sistema público em geral. Brasileiros de todos os rincões do país se mostram desapontados com a ineficácia das políticas públicas, a corrupção, a inversão de prioridades, os conflitos entre os Poderes, a insegurança, a violência, o desemprego, a inflação e os privilégios descabidos numa democracia.

Percebe-se o descrédito a respeito de muitas práticas que se tornaram costumeiras, como as verbas pessoais exageradas, o enriquecimento suspeito, os desvios de finalidade e outras atitudes não republicanas. Apesar disso, a vulnerabilidade econômica -ou moral –de muitos cidadãos, os  torna mais facilmente “capturáveis” para práticas maléficas de captação de votos, dentre elas a “compra” -explícita ou disfarçada -de apoio para a eleição de parlamentares e governantes. Assim, aos mais pobres e necessitados se juntam pessoas gananciosas que, mesmo sem precisarem destes “favorecimentos”, se entregam à volúpia do poder pelo poder e/ou do poder pelo dinheiro, praticada por parte expressiva de candidatos e de eleitores. Nesse sentido, as discussões ideológicas, importantes no processo político, costumam ser contaminadas por essas e outras atitudes nocivas e muitas vezes se tornam meras disputas de narrativas acusatórias ou fantasiosas.

Atualmente há segmentos, com boa ou má fé, por ignorância crédula ou ambição desmedida, que se engalfinham em disputas ideológicas, nas quais mais valem as “versões” do que os fatos. Pessoas de direita acusam genericamente toda esquerda por desonestidade e vice-versa –a esquerda contra a direita. A atitude de acusar genericamente o lado adversário por todos os males do país, isentando seu “time ideológico” de qualquer responsabilidade por elas, tornou-se comum no nosso país, especialmente nas redes sociais.  Esta guerra “pseudo-ideológica” revela o fanatismo de uns e o ilusionismo de outros. A disputa política, se torna parecida com a de torcidas organizadas que se ocupam muito mais em ofender os adversários do que debater de verdade os problemas e propostas de solução para os principais problemas do país.

 Enquanto ocorre esse embate faccioso entre defensores dos dois extremos, o famoso “Centrão” aproveita para tomar cada vez mais o espaço das decisões, promovendo um jogo de interesses escusos, como o que se delineou no escândalo das “emendas secretas”, uma vergonhosa prática não republicana, que compromete o próprio múnus da nossa democracia, pela falta de transparência, de critérios claros e alta suspeita de desvios. Ou seja, na prática, a política fisiológica, se aproveita das fraquezas do sistema público e da pobreza da discussão política, vai quase silenciosamente tomando conta do verdadeiro cerne do poder nacional. Não é à toa, que elementos sabidamente corruptos, com provas claras e inequívocas de enriquecimento ilícito, como os ex-deputados Eduardo Cunha e Geddel Lima, dentre outras personagens altamente suspeitas, voltam ao cenário eleitoral com ares triunfantes. Pobre Brasil.

Acredito que a honestidade de propósitos –e de conduta- não é um atributo exclusivo de quem seja de esquerda ou de direita. Facilmente se observa que há políticos sérios de qualquer matiz ideológico, por neles predominar o senso do superior interesse público e do bem comum. Trata-se de uma questão de caráter e de princípios. Neste aspecto, declarar-se de “direita”, de “centro” ou de “esquerda” não representa garantia de bom comportamento na política, atributo que está mais relacionado com a ética pessoal do que com a ideologia, muitas vezes usada como capa de disfarce para as más condutas.

        Chegamos a um ponto em que o resgate ético do nosso sistema político precisa ser priorizado por todos os cidadãos que realmente amam nossa Pátria e que praticam o amor ao próximo, escolhendo seus representantes com muito cuidado. Os embates ideológicos não deixam de ser importantes, pois delineiam visões de mundo e de opções de governança pública diferentes e válidas, desde que fundamentadas na Constituição e comprometidas com a Democracia. No entanto, estes embates somente trarão bons frutos se os valores e princípios da ética de conduta forem respeitados.

        Ao meu ver, nosso país necessita com urgência de uma efetiva reforma de costumes políticos, acabando com privilégios absurdos, como os que subsistem no Senado Federal, remanescentes de um período monárquico, cujas práticas aristocráticas não se justificam numa República. Os políticos não devem se esquecer que representam a população que os elege. Por isso devem prestar serviço público de qualidade e não se apropriar de vantagens em benefício próprio. Por sua vez, os cidadãos precisam cada vez mais se lembrar que todos somos responsáveis por nossas escolhas. Eleger representantes em troca de favores ou promessas individuais significa uma degradação da Política, que não deve servir para outros propósitos do que a defesa dos legítimos interesses da população e a convergência pelo bem comum dos cidadãos.

Ainda nutro a esperança de que os mais jovens –em cooperação com os mais experientes não contaminados pelas más práticas políticas -ajudem no despertar da sociedade brasileira para uma transformação verdadeira do cenário político nacional. E que os políticos sérios compreendam a importância fundamental de romper com os privilégios escandalosos e outras práticas reprováveis como o clientelismo eleitoral e as mentiras da publicidade enganosa. Essas e outras práticas têm sugado o melhor da energia laboriosa e criativa do povo brasileiro, impedindo nosso “país do futuro” de se tornar uma verdadeira e grande Nação no presente.

     Por fim, que nas próximas eleições se priorize o debate claro de propostas de solução, de curto e médio prazo, para enfrentar e solucionar -ou pelo menos minimizar -os graves problemas da população. Que ao invés de mentiras e ilicitudes, haja o resgate da Esperança em dias melhores para nosso amado Brasil. 

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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