O artigo revela o péssimo desempenho do Brasil e apresenta os vinte países que tem sido modelos em salvar vidas da população contra a Covid-19.
Tenho recebido informações colocando o Brasil em uma posição “favorável” em relação a alguns países. Um olhar crítico logo revela: material alarmista, sem fonte confiável, sem metodologia, etc. Em síntese, cálculos tendenciosos ou fora do contexto, que induzem o leitor menos crítico ao erro, ainda mais com o país batendo recordes (65339 novos casos apenas no dia 22/07), mostrando o descontrole da pandemia. Então, qual o desempenho do Brasil em termos de casos fatais, quando comparado com países mais contagiados ao longo dos primeiros 120 dias da pandemia? Por outro lado, quais os países modelos em proteger e salvar vidas preciosas contra a Covid-19 ?
Vejamos os resultados:
1o) Comparação do Brasil com outros 9 países
A comparação levou em conta os seguintes pressupostos:
1a) as principais fontes: o site worldometers <https://bit.ly/3dpMErI> para coletar os valores diários de casos fatais de covid-19; e o Centro de Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas (CMMDI) da London School of Hygiene & Tropical Medicina <https://bit.ly/30N6qtj> o qual publica periodicamente um relatório contendo estimativas de % de casos sintomáticos notificados em países com mais de dez mortes. Esse % aponta o quanto o valor oficial divulgado representa em relação ao total de casos reais existentes em cada país.
1b) análise dos 120 primeiros dias de enfrentamento da Covid-19 em cada país da amostra;
1c) Por limitação de espaço, a amosta aqui contará com apenas 10 países que foram considerados os mais críticos em termos de número total de casos nos primeiros 4 meses da pandemia: EUA, Brasil, Rússia, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha, França, Irã e China.
Ao analisar o valor de casos fatais acumulados ao longo dos primeiros 120 dias de cada país, os resultados foram: 1o lugar) EUA com 95790 mortes; 2o) Brasil com 52771 mortes; 3o) Reino Unido com 38593 mortes; 4o) Itália com 33168 casos fatais; 5o) França com 28289; 6o) Espanha com 27952; 7o) Irã com 9185; 8o) Alemanha com 8428; 9o) China com 4633; 10o) Rússia com 4374 casos fatais.
Este resultado é bem diferente das planilhas fakes disseminadas por simpatizantes bolsonaristas. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados adicionas, pois quando leva-se em conta o número real estimado de casos fatais por um milhão de habitantes ao longo dos primeiros 120 dias, o resultado fica o seguinte: 1o) Espanha (40,80); 2o) Itália (35,14); 3o) Reino Unido (25,60); 4o) França (19,78); 5o) Brasil (8,99); 6o) EUA (6,65); 7o) Alemanha (2,30); 8o) Irã (1,79); 9o) Rússia (0,40) e 10o) China (0,03). Vale lembrar que para chegar ao valor estimado de casos reais, usou-se a média dos percentuais de casos sintomáticos estimados pelos últimos relatórios do CMMDI (19/5; 28/5; 2/6 e 21/6/20).
A média do Brasil é de 23%, ou seja, até jun/20, os números oficiais divulgados representam em média apenas 23% dos casos reais sintomáticos de covid-19 no Brasil. No 120o dia (23/06/20), o número total de casos fatais no Brasil, reconhecido pelo worldometers é de 52771 mortos, em termos reais, pela estimativa do CMMDI, o número real estimado de falecidos é de 229.439, ou seja, 176.668 casos fatais não registrados como falecimento por Covid-19.
Se levarmos em conta o total de 87.052 falecidos por covid-19 até o dia 26/07 (153 dias), a estimativa média seria de 378.487 mortos em solo brasileiro, ou seja, até 291.435 vidas preciosas podem ter morrido de covid-19 e não foram registradas nos números oficiais do país.
A desgraça piora quando vemos presidente e generais do governo dando mau exemplo, tentando mascarar os números ou escondê-los da população, sem contar o mau uso do dinheiro público, gerando alto estoque de cloroquina, remédio sem eficácia comprovada contra a covid-19, enquanto faltam insumos e EPIs em vários hospitais da nação. Lamentável também são os inúmeros casos suspeitos de corrupção que estão sendo encontrados pela PF, pelo MPF, pelo TCU, envolvendo militares do Exército (suspeita de compra superfaturada de insumos para fabricar cloroquina), parlamentares da base de apoio do governo Jair Bolsonaro (Major Olímpio já denunciou que governo está comprando senadores e deputados, e relatou que ofereceram a ele R$ 30 milhões da Portaria 1666), governadores e secretários em vários estados do país.
2o) Os vinte países que mais salvaram vidas
Para responder à pergunta, levou-se em conta os pressupostos 1a, 1b e 1c acima, com a diferença de que a amostra envolveu 108 países, os quais foram analisados por 12 rankings internacionais que avaliam sistemas de inovação, sistemas de seguridade ou de cuidado da saúde, sustentabilidade, transparência, competitividade digital, qualidade de vida, etc. Cada ranking tem score de 0 a 100 pontos, a média, mediana, desvio padrão e coeficiente de variação foram calculados. Para cada ranking, foram classificados apenas os 50 melhores países, e ao cruzar o resultado dos 12 rankings, no final, 48 nações foram selecionadas, usando como critério, estarem presentes em ao menos seis dos rankings aplicados.
Estes 48 países foram considerados como os mais conceituados internacionalmente. Em seguida, para cada um, foi calculado o número real estimado de casos fatais por milhão de habitantes, durante os 120 primeiros dias. Após o cálculo, foi feita a classificação e o Oscar vai para estes 20 países: 1o) Vietnã (0,0); 2o) Taiwan (0,0031); 3o) Hong Kong (0,0070); 4o) Tailândia (0,0086); 5o) Malásia (0,0307); 6o) China (0,0337); 7o) Cingapura (0,0359); 8o) Austrália (0,0379); 9o) Eslováquia (0,0598); 10o) Coreia do Sul (0,0721); 11o) Nova Zelândia (0,0764); 12o) Chipre (0,1572); 13o) Japão (0,2135); 14o) Emirados Árabes (0,2147); 15o) Letônia (0,2800); 16o) Islândia (0,2825); 17o) Malta (0,3401); 18o) Catar (0,3471); 19o) Israel (0,3551) e 20o) Indonésia (0,4221).
Finalmente, quando alguém ignorar os fatos acima e ficar exaltando o número de casos recuperados no país sem levar em conta os falecidos, isso equivale ao comportamento de um capitão/general incompetente que sem preparo, estratégia e tática, perdeu a guerra, e ao retornar, exalta os soldados vivos (feridos), enquanto vira as costas para os familiares de 378.487 que faleceram no campo de batalha, dos quais 291.435 foram esquecidos.
*Prof. Dr. Jonas G. da Silva – Prof. da Eng. de Produção da UFAM. Atualmente, pesquisador visitante do Instituto de Pesquisa em Inovação da Escola de Negócios da Universidade de Manchester (RU). E-mail: [email protected]