11 de dezembro de 2024

BR 319: uma necessidade social

A reconstrução da BR-319, única ligação por terra entre Manaus e o restante do país (via Boa Vista) tornou-se um sonho de consumo para quem transita pela estrada. Como parte de um projeto de integração idealizado durante a ditadura militar, os 885 km de estrada degradaram-se com o tempo, inviabilizando a viagem de turistas, moradores e/ou transportadores.

Prioridade do governo Bolsonaro, o projeto de recapeamento visa asfaltar os, aproximadamente, 450 km de terras que dificultam o acesso ágil pela rodovia. A proposta de intervenção na BR já foi discutida em outros governos, mas em todas as ocasiões, aspetos ambientais foram levados em conta nesse contexto. Falar sobre desmatamento e consequências das ações humanas é essencial para a preservação da Amazônia, mas precisamos refletir sobre a atual fase que estamos e buscar formas de prevenção acerca de adversidades que possam surgir em nossos caminhos.

Nos primeiros meses de 2021, o estado do Amazonas atingiu um número alto de casos de Covid-19, levando à superlotação de hospitais e a falta de oxigênios em unidades de saúde. O pânico se espalhou nos principais municípios do estado, onde famílias faziam peregrinação em lugares que disponibilizavam o oxigênio. Houve também mobilização nacional e internacional para a doação do suprimento vital, pois não havia como abastecer os postos. 

Em situação de emergência, foi solicitado aos estados vizinhos, caminhões de oxigênio que iriam abastecer as instituições, sendo enviados rapidamente, pois muitas vidas dependiam dessa agilidade. A transportadora enviou veículos pela rodovia transamazônica, mas por conta do trecho que está sem asfaltamento, muitos desses caminhões atolaram ou não conseguiram ser rápidos o suficiente para chegarem ao destino final.

Muitas vidas poderiam ter sido salvas se a BR-319 estivesse em pleno funcionamento. Claro que não podemos culpar totalmente a rodovia, mas seria de bom tom se a principal via terrestre que liga o Amazonas ao país tivesse pavimentada. O problema poderia ter sido evitado.

O secretário nacional de Transportes Terrestres, Coronel Marcello da Costa, acredita que é possível ter equilíbrio quando falamos da principal rodovia do estado. “O nosso plano é que a BR-319 seja um grande cartão de visitas para mostrar ao mundo o nosso respeito ao meio ambiente. Será um modelo para provar que é possível equilibrar os três pilares do desenvolvimento: econômico, ambiental e social’’, declarou Costa. 

Também é importante mencionar que muitas famílias moram nos arredores da transamazônica, e por conta do sucateamento da estrada, tornaram-se isoladas da sociedade. A pavimentação também irá beneficiar essas famílias, que além de levar recursos básicos como, saúde, alimentação, educação e saneamento básico, irá promover a economia local.

Mas não podemos fechar os olhos para todos os impactos que o recapeamento trará à floresta amazônica. O santuário esmeralda abriga animais em extinção, além de comunidades indígenas, que constantemente sofrem ameaças por disputa de terras. Ter um projeto com essa magnitude sem apresentar um plano de proteção ambiental é regredir no tempo e por em risco o futuro da humanidade. Foi com esse pensamento e trabalhando intensivamente por onze anos que o relatório sobre a pavimentação do trecho da BR-319 foi entregue ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), sendo responsabilidade do IBAMA a análise e liberação para o licenciamento.

Há muitas controvérsias a respeito da repavimentação da rodovia, mas a necessidade social se sobressaiu nos últimos meses. Os dias assombrosos vividos pela sociedade amazonense poderiam ser evitados se houvesse agilidade no transporte de mantimentos, mas o que presenciamos foram vários veículos atolados. É vergonhoso não ter a principal via terrestre Amazonas-Boa Vista asfaltada, onde foi e ainda é necessário que tratores resgatem veículos imersos em lama.

Após esse episódio triste, a pressão pela aprovação do projeto se fez mais do que necessária, como afirmou o governador do Amazonas, Wilson Lima. “Com essa crise, a falta da rodovia mostrou que não é só um problema econômico, mas de saúde pública. Se tivéssemos o asfalto, teríamos conseguido trazer o oxigênio de uma forma mais barata e rápida’’, finalizou Lima. 

Precisamos evitar futuros problemas prejudiquem e arrisquem a vida das pessoas. O Amazonas já é isolado o suficiente para que os meios que deveriam integrar o estado, dificultem mais o processo. São situações como essas que vemos o quão importante e necessário é ter a BR-319 em pleno funcionamento e principalmente, pavimentada.

André Zogahib

Presidente da Fundação Amazonprev Professor Dr. da Universidade do Estado do Amazonas

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