A nossa Amazônia é a região mais cantada em prosas e versos no mundo, mesmo por milhões de pessoas que nunca estiveram por aqui e não conhecem a nossa realidade. Nas Faculdades onde ministro aulas de Logística, encontro rostos ansiosos para saber como é “lá no sul do Brasil”. Eu mostro, aos meus ansiosos alunos, muitos filmetes que mostram, sob determinados aspectos, as enormes diferenças e semelhanças entre as operações logísticas existentes no mercado brasileiro e que são o grande desafio para as empresas fornecedoras, de qualquer produto ou serviço. Mas, eu sempre me volto às origens da Logística, abordando ideias desde os romanos, passando por Napoleão Bonaparte, Desembarque na Normandia, fato histórico que deu origem à data comemorativa da Logística: 6 de junho de 1944. Naquela oportunidade ficou caracterizada e definida a maior operação logística da história da Humanidade, onde milhares e milhares de jovens, com equipamentos diversos, armamentos, viaturas etc foram reunidos de vários locais do mundo e enviados para as costas da França, no contexto do combate dos Aliados à forças alemãs, na Segunda Guerra Mundial.
Pensadores e historiadores dizem que a Logística é uma expertise militar. Concordo, mas não é exclusividade deles. Vejam o que ocorre com a operação logística de comercializar a nossa soja com os chineses. Por exemplo, de origem nas imensas plantações no Mato Grosso do Sul, a soja é embarcada em caminhões com destino aos portos de Porto Velho-RO. Daí, a soja segue via fluvial pelo Rio Madeira até Itacoatiara-AM e, de lá, segue para Belém-PA e daí, finalmente, para a China. Lembrando que existem portos privados em Porto Velho-RO além do porto público da capital rondoniense. Os alunos ficam boquiabertos. Ainda mais quando os informo que o Rio Madeira não chega em Manaus-AM. Então, eu digo a eles uma das inúmeras definições de Logística: entregar o produto certo, do jeito certo, no prazo certo, no local certo, para o cliente certo e com o preço adequado.
Todas essas variáveis se encontram em toda e qualquer operação de logística no mercado mundial, desde sempre. E onde reside a maior dificuldade de se atender ao mercado consumidor de Manaus? Simples, reside na nossa geografia! E isso torna tudo mais caro? Talvez, dependendo do que você você chama de caro! Então, meus alunos abordam o asfaltamento da BR 319 como solução do transporte de soja, o que, segundo eles, traria uma grande redução do custo da logística. Vou usar essa abordagem como ponto focal desse artigo. Então eu peço a eles para fazermos, juntos, pequenas contas de aritmética: uma balsa de Itacoatiara ou de Manaus carrega a carga de aproximadamente 12.000 toneladas (sabe-se que existem balsas com mais capacidade). Cada carreta carrega, em média, cerca de 8 a 10 toneladas de carga, e isso vai depender das condições das pontes e do tráfego da BR 319. Então, com uma tripulação de 6 pessoas, em média, em um empurrador, transporta-se a carga de 1.500 caminhões de 8 toneladas, do ponto A ao ponto B.
É uma enorme economia, sim. E a “estrada amazônica”, os rios, já estão “asfaltados”. Claro que este raciocínio não é tão simples assim, mas essa ideia é o ponto forte da explicação de preferência por balsas de grande capacidade de carga em transporte de comodities do Brasil para o exterior via Belém do Pará, partindo de Manaus ou de Itacoatiara. Pura aritmética! Claro que este velho professor tem que abordar as condicionantes mais complicadas de se explicar no mundo acadêmico: as nuances da Política ! Então, eu fecho uma aula com a seguinte ideia: Jovens, se o asfaltamento da BR 319 fosse vital para o comércio exterior, via estado do Amazonas, e beneficiasse, de fato, as grandes multinacionais aqui instaladas no Polo Industrial de Manaus, será que a BR 319 seria motivo de tantas brigas e já não estaria asfaltada? Pensem, estudem, e na próxima aula vamos aprofundar o debate. E pronto. Termino a aula com uma pesquisa profunda e um grande diálogo previsto para a próxima aula. Mas, eu já sei, e eles ainda vão aprender que a lógica em que acreditamos é diferente da lógica política e da lógica do mercado. E a vida segue !