19 de setembro de 2024

As mazelas do Carnaval 

Falta liderança, sobram conflitos

Como acontece todos os anos, entre o réveillon e a quarta-feira de cinzas, o país se prepara para, finalmente, acontecer. Ou seja, voltar a funcionar. E é nessa profusão de pontos opostos, do estágio letárgico do Estado e de completa euforia do “carnevale” (carne dada aos vermes) que surge como resultado uma série de situações que geram grandes mazelas sociais, ao tempo em que impulsionam pequena parte da economia do país. 

O carnaval, esse que conhecemos atualmente no Brasil, apesar de toda a evolução que sofreu ao longo de décadas, é uma celebração de origem pagã, originária na Grécia. Na época, os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção. Gregos e romanos incrementaram a festa com bebidas e práticas sexuais, tornando-a intolerável aos olhos da igreja. Na Idade Média o período do Carnaval passou a ser marcado pelo “adeus a carne” que marcaria o período da Quaresma. 

Em terras brasileiras o Carnaval chegou em 1723, através de desfiles de pessoas fantasiadas e mascaradas. Somente no século XIX que os blocos carnavalescos surgiram com carros decorados e pessoas fantasiadas. Sendo o Brasil um país laico e de maioria cristã, muitos não encontram razão para celebrar o politeísmo grego, onde os deuses da fertilidade, a cada ano, causam enormes prejuízos por estas plagas. 

Embora a festa da carne gere um parco aquecimento na economia, as mazelas que o Brasil sofre durante essa época de apologia à luxúria estão aquém de um superávit. O país sofre perda de produtividade, com a paralisação dos serviços nos mais diversos segmentos, na sociedade e na arrecadação de tributos, inclusive.  

Enquanto muitos não trabalham, não produzem riquezas, mas provocam grandes aglomerações e que, somada à bebedeira e ao trânsito nas cidades e estradas, causam centenas de acidentes, muitas vítimas e outras dezenas de óbitos. Tudo isso gera gastos, que o Estado, ou melhor, o contribuinte tem que arcar. 

Acontece quase tudo: o turismo sexual, a gravidez indesejada, as DST’s, abortos, estupros, o atentado violento ao puder, o desrespeito à mulher, adultério e separação. Tudo isso compõe enredos que estão enraizados nessa festa, pois muitas pessoas se aproveitam das promiscuidades incentivadas nos eventos e acham que tudo é permitido, que tudo é liberado. 

Outra ala que traz enormes prejuízos humanos e financeiros vem através das brigas e conflitos, que podem ter origem no álcool ou até mesmo na forma que um homem aborda uma mulher. 

Se há lucro para algumas cervejarias, donos de blocos, clubes ou trios elétricos, os prejuízos para o ser humano e para as cidades vão muito além. Quem nunca foi obrigado a suportar o mau cheiro de urina e fezes nas calçadas? Quem nunca se deparou com as montanhas de lixo pelas ruas, esgotos e bueiros? Quem nunca presenciou o consumo de drogas em via pública e a depredação do patrimônio público ou privado? Mais contas para o contribuinte pagar. É na euforia do Carnaval, o ópio do povo, que a população se embriaga e desvia o olhar da realidade da vida e o utilizam como válvula de escape. 

Enquanto ricos e abastados ilustram camarotes, muitos pobres mendigam as sobras dessa festa e outros trabalham para que ela aconteça. Uma orgia com odor de urina, ornada de assaltos, onde acidentes no trânsito não são fantasias, são cruéis realidades orquestradas por foliões saudáveis nos dias de festa e “cidadãos” doentes em dia de trabalho. Não há harmonia que resista com tantas mazelas. 

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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