No Dia Nacional do Extensionista Rural, este artigo revela a geolocalização e o perfil dos principais focos de incêndio ativos e anomalias térmicas ocorridos em Manaus que causaram graves danos ao meio ambiente e contribuíram para a deterioração da qualidade do ar entre agosto e outubro de 2023.
Hoje, 6/12/23, celebra-se o 75º aniversário do Dia Nacional do Extensionista Rural, criado em 1948, oficializado pelo PL 2191/2007 e sancionado como lei 12386 em 3/3/2011. A extensão rural visa assegurar a qualidade da produção no campo e o extensionista rural é o profissional fundamental que auxilia os agricultores, especialmente os pequenos, a superar desafios como acesso ao crédito, treinamento e assistência técnica. Segundo a Asbraer, há cerca de 13690 extensionistas rurais e 1126 pesquisadores atendendo 5007 locais no Brasil <https://www.asbraer.org.br/>. Dessa forma, a Asbraer poderia, em conjunto com UEA, Inpa, Ufam e Embrapa, integra esforços das autoridades federais, estaduais e municipais para auxiliar os agricultores de diversas escalas a adotarem práticas sustentáveis. Esse apoio seria especialmente crucial em nossa região, onde o desmatamento e as queimadas em áreas rurais estão fora de controle, conforme evidenciado no JCAM.
Dos 2274 eventos térmicos considerados intensos ou muito intensos, mencionados na semana passada <https://tinyurl.com/yzsmcsnk>, a maioria (98,11%) ocorreu fora de Manaus: Autazes (487; 21,42%), Itacoatiara (338; 14,86%), Careiro (222; 9,76%), Nova Olinda do Norte (209; 9,19%), Manaquiri (192; 8,44%), Borba (161; 7,08%), São Sebastião do Uatumã (73; 3,21%), Manacapuru (62; 2,73%), Anamã (61; 2,68%), Caapiranga (59; 2,59%) Careiro da Várzea (57; 2,51%), Presidente Figueiredo (56; 2,46%), Maués (49; 2,15%), Urucurituba (46, 2,02%), entre outras.
Este artigo inicia pela capital do Amazonas, de onde emanam as principais diretrizes do Estado. Em termos de número de focos, Manaus ocupou o 15º lugar entre as 29 cidades identificadas, registrando cerca de 43 eventos (1,89%). Desses, 17 (39,5%) ocorreram em áreas verdes próximas a áreas destruídas, 10 (23,2%) em áreas já destruídas pelo desmatamento ou queimadas, 9 (20,9%) em áreas verdes próximas a rios, 4 (9,3%) em áreas verdes e 3 (6,97%) em áreas destruídas próximas a rios.
Os rios ou igarapés preferidos para escoar produtos derivados da destruição da vegetação, como carvão e madeira, são o Igarapé Tiririca e o Rio Preto da Eva. Assim, recomenda-se reforçar a fiscalização e monitoramento nessas vias hídricas.
A média e mediana da Potência Radiativa do Fogo (PRF) dos 43 focos foram de 198MW e 155 MW, respectivamente. Para se ter ideia do poder desses eventos, se essa quantidade de energia fosse gerada com sabedoria, por uma usina solar instalada no interior, com produção anual de 198 MW e eficiência de 15%, ao longo das 8760 horas anuais de produção, ela seria suficiente para abastecer cerca de 174 residências durante um ano inteiro. Isso ocorreria sem poluir o ar, sem gerar desconforto térmico e sem a necessidade de derrubar ou queimar uma única árvore no local.
Agora vem a parte mais esperada, a localização desses eventos. Ao analisar cada um dos 43 registros, percebeu-se que apenas dois (4,6%) ocorreram em um bairro urbano de Manaus, enquanto maioria (95,4%) ocorreu em zonas rurais da cidade.
Os focos identificados em Manaus estão na Zona Leste, no bairro do Puraquequara. Um deles ocorreu em área verde próxima de uma área destruída, cerca de 132 metros da residência do Sítio da Dona Fátima (Lat. -2.95216; Long. -59.84298; PRF=111.4MW), enquanto o outro ocorreu em área verde localizada em um ramal desconhecido, cerca de 580 metros de distância da residência do Sítio da Dona Fátima (Lat. -2.95091 e Long. -59.84805; PRF de 101.2 MW).
Em relação aos focos nas zonas rurais de Manaus, observou-se que a região mais crítica é a Comunidade Bom Sucesso, a 70 km de Manaus, com 32 casos (74,4%): 15 casos próximos ao Igarapé Tiririca com XPRF igual a 266 MW; 10 próximos da Escola Municipal Nossa Senhora do Nazaré com XPRF igual a 176 MW; e 9 casos apontados pelo Google Maps como “Casa Casimiro”, próximo do Rio Preto da Eva, com XPRF igual a 187,63 MW. Aliás, a “Casa Casimiro” também aparece em várias áreas destruídas em Amatari (Itacoatiara) e na cidade do Rio Preto da Eva. Portanto, é preciso uma análise mais detalhada das autoridades para confirmar se esse empreendimento está vinculado com as intensas queimadas e desmatamentos nessas regiões.
Outros sete eventos aconteceram no entorno da BR174, dois na região do Pau Rosa, mais dois em outra região que o Google Maps identifica como “Matel” e três ocorridos em um ramal desconhecido.
Os dez registros com o maior poder de destruição, em termos de PRF aconteceram na Comunidade Bom Sucesso, conforme abaixo:
- Próximos ao Igarapé Tiririca:
R1 e R2: latitude -3.069 e longitude -59.42, registrados cerca de 70 km do centro de Manaus, no dia 04/09/23, entre 12h e 18h, com PRF iguais a 795.6 e 642.3 MW, classificados como fogos muito intensos, incêndios. Nesses casos, os níveis de confiança foram 81% e 84%, respectivamente. R3: latitude -3.069 e longitude -59.439, cerca de 69 km do centro de Manaus, registrado com 81% de confiança no dia 04/09/23, entre 12h e 18h, com PRF igual a 408.9 MW. R4 e R5: latitude -3.07583 e longitude -59.41488 (PRF=326,6MW); latitude -3.07172 e longitude -59.42074 (PRF=265.8MW), registrados com 100% de confiança, entre 18h01 e 23h59 do dia 05/09/23.
Ao analisar os registros 1, 2, 4 e 5, observou-se, pelo Google Maps, que eles ocorreram em uma área destruída de 145 hectares, dentro de um perímetro de 8,09 km, conforme mostrado pela Figura 7, disponível no depósito digital abaixo.
- Nas áreas da “Casa Casimiro”
R6 e R8: latitude -3.087 e longitude -59.382, área verde perto do Rio Preto da Eva, com 74% e 77% de confiança, ao longo do período de 12h e 18h do dia 08/10/23, com valores de PRF iguais a 259.9 e 250.7 MW. E R7: latitude -3.087 e longitude -59.401, com 81% de confiança, entre 12h e 18h do dia 08/10/23, com PRF igual a 254.8 MW. Neste último caso, é importante destacar que o evento ocorreu em uma área com cerca de 161 hectares destruídos próxima do Rio Preto da Eva, conforme Figura 8 disponível no depósito digital abaixo.
- Próximo da EM Nossa Senhora de Nazaré
R9 e R10: latitude -3.124 e longitude -59.438, com uma média de 69% de confiança, entre 12h e 18h do dia 04/09/23, com valores de PRF iguais a 248,9 e 245,8 MW.
Por fim, é preciso melhorar a transparência e a colaboração entre organizações, extensionistas rurais, técnicos pesquisadores para evitar a repetição descontrolada de desmatamentos e queimadas, causadores de altos índices de calor e poluição do ar na região. As descobertas destacam a importância de aprimorar estratégias de vigilância, monitoramento e intervenção como parte de um plano de desenvolvimento sustentável de longo prazo, com foco nas áreas críticas próximas ao Puraquequara, à BR174, à Comunidade Bom Sucesso e às vias fluviais identificadas. Detalhes do estudo com as geolocalizações estão disponíveis no depósito digital da Universidade de Harvard pelo DOI https://doi.org/10.7910/DVN/UOZQ5O.