14 de outubro de 2024

As enchentes transbordam o nosso vazio – parte 4

As cidades do sul do Brasil enfrentam frequentemente os efeitos devastadores de chuvas intensas e inundações, que resultam em perdas financeiras bilionárias e, o que é mais grave, perda de vidas humanas que poderiam ter sido evitadas. Isso ocorre, em parte, devido ao mau uso da terra e das florestas, e à falta de preparo das cidades para enfrentar eventos extremos. Nesse contexto, este artigo apresenta o conceito de resiliência, dá acesso ao estado da arte sobre cidade resiliente, bem como introduz o relatório sobre as cidades mais resilientes do planeta.

No artigo da semana passada, lemos que nos últimos dez anos, a região Sul foi a que mais emitiu decretos de emergência e estado de calamidade (7677; 40,6%) por conta dos efeitos das chuvas. E entre os estados mais afetados, estão Santa Catarina (4101) e Rio Grande do Sul (2706). Se fizermos um levantamento das vinte maiores enchentes nesses dois estados desde o século passado, observaremos que estes eventos estão se repetindo ao longo do tempo, deixando rastros de destruição, evidenciando a incapacidade das autoridades de tornar essas regiões resilientes a estes eventos.

Este ano, o Rio Grande do Sul mais uma vez enfrenta graves enchentes. De acordo com dados recentes da Confederação Nacional dos Municípios, as inundações afetaram 475 municípios no estado, causando danos de mais de R$ 11 bilhões, além de 171 mortes, 445 desaparecidos e 693.700 pessoas desabrigadas.

Diante do exposto, levantam-se as seguintes perguntas: “O que é resiliência?”, “O que é uma cidade resiliente?”, “Qual é o estado da arte sobre cidade resiliente?”, “Quais são as cidades mais resilientes do planeta?” e “Quais são as boas práticas destas cidades para enfrentar as enchentes?

Segundo o dicionário on line Michaelis, resiliência significa capacidade de rápida adaptação ou recuperação. Já o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa define o termo como capacidade de superar, de recuperar de adversidades. Assim, uma fácil definição sobre cidade resiliente seria uma cidade com rápida capacidade de se adaptar ou de se recuperar das adversidades.

Neste sentido, preparei um relatório bibliométrico que considero útil para os tomadores de decisão, contendo o estado da arte sobre o assunto, utilizando a plataforma lens.org <https://link.lens.org/wFUoSIqS7wb> e nela escolhendo todas as publicações de livros, dissertações, conferências e artigos científicos, cujo título e o abstract tinham o termo “resilient city”.  Ao analisar este relatório, o(a) nobre leitor(a), observará que:

1) este é um termo novo, com apenas 232 publicações, as quais começaram a ganhar destaque a partir de 2012;

2) as universidades da ásia são as mais ativas em publicar sobre o assunto, com destaque para Universidades Tsinghua, Keio Shohan Fujisawa, Keio e de Hiroshima;

3) os autores mais ativos são Ayyoob Sharifi, Eiko Wataya, Jana Kovâcova, Jan Havko, Lawrence J Vale, Michal Titko,  Rajib Shaw, Thomas J Campanela, cada um com três publicações;

4) Os principais campos de estudo são: Planejamento Ambiental, Geografia, Negócios, Ciência Política, Planejamento Urbano e Engenharia;

5) As três publicações mais citadas são: 5.1) Urban Hazard Mitigation: Creating Resilient Cities < https://bit.ly/3VqTvZX>, com 1264 citações, o qual traz uma conclusão forte sobre a necessidade de se construir cidades resilientes como prioridade nacional; 5.2) Planning the resilient city: Concepts and strategies for coping with climate change and environmental risk < https://bit.ly/4e5nyOd> com 535 citações, cujo ponto forte é um modelo que pode ajudar as cidades a fazer uma transição para se tornar resiliente; 5.3) The Resilient City: How Modern Cities Recover from Disaster <https://bit.ly/45a6UsC>, um livro citado 479 vezes, cujos autores ensinam como cidades modernas podem se recuperar dos desastres.

Em relação aos bons exemplos, recomenda-se a leitura do Resilent Cities Index 2023 <https://bit.ly/3RbwJCS>, o qual apresenta as cidades mais resilientes do planeta, cujas boas práticas relatarei no próximo artigo.

Em síntese, torna-se imperativo que autoridades governamentais e líderes empresariais, enquanto principais tomadores de decisão, somem esforços para tornar suas regiões resilientes frente aos impactos das mudanças climáticas. Este artigo compilou relevantes publicações científicas que traçam caminhos factíveis para alcançar essa resiliência climática por meio de ações estratégicas e fundamentadas. Apenas por meio de iniciativas coordenadas e norteadas por evidências científicas robustas, seremos capazes de construir comunidades sustentáveis e adaptadas aos desafios impostos pelas alterações no clima global, reduzindo expressivas perdas econômicas e preservando vidas humanas a longo prazo.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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