9 de dezembro de 2024

Amazônia em novo estágio de genocídio (Parte 2)

As falas de Guilherme Estrella no Webinar Desmonte da Petrobrás e a desmobilização das unidades regionais: impactos econômicos e sociais na baixada santista (22 de julho) foram muito contundentes.

O ex-diretor de Exploração e Produção da PETROBRAS (2003-2012) ressaltou a importância histórica da empresa para o Brasil, fundada em 1953 por um movimento popular, a partir de um fato concreto: o país, para se industrializar e se desenvolver, precisava de energia. Tínhamos um plano político de ver no futuro uma nação soberana e autônoma.

Lembrou-nos que nossa industrialização só se deu no século 20. Desde o início da Revolução Industrial não tínhamos, e nem Portugal e Espanha tinham, carvão mineral. Vivíamos numa sociedade escravocrata, baseada na agricultura.

No bojo da hegemonia norte-americana alcançada a partir do petróleo no século passado e presente até hoje, coube ao militar e presidente Vargas negociar a participação do Brasil junto aos Aliados na 2ª Guerra Mundial, em favor da entrada do país na era industrial com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional.

Estrella nos contextualizou que petróleo e gás natural continuarão a ser fonte de energia pelos próximos 30 a 40 anos; 70%-75% da matriz energética mundial vêm desta fonte e “isso não muda da noite para o dia”.

Não vou discutir aqui neste artigo se a quebra do monopólio da PETROBRAS, provocada pelo Governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), justificada pela possibilidade de atração de empresas petrolíferas estrangeiras, era constitucional, ou não.

Falácia liberal, ou discurso político, tais empresas nunca chegaram.

Mas, presenciamos a partir de 2003, um novo protagonismo da Petróleo Brasileiro S.A. que levou o Brasil à autossuficiência em petróleo e a descoberta do Pré-Sal.

Na Amazônia, neste período, vimos nossa empresa se dedicar a cuidar da floresta e seus ecossistemas, adaptando tecnologias utilizadas no mar, para atravessar um gasoduto por lagos e rios, com zelo, ciência e inovação.

O tamanho do desafio vencido: 663,2 km (trecho Urucu – Manaus), além de um total de 139,3 km em nove ramais para Coari.

São poucas as corporações mundiais, públicas, ou privadas, que se permitem este tipo de investimento de risco.

Mas, o olhar institucional era mais nobre, a Petróleo Brasileiro S.A. tinha uma responsabilidade socioambiental e econômica com a Zona Franca de Manaus: levar energia às nossas indústrias e às nossas populações.

Quem viveu em Manaus, com filho pequeno, no final da década de 1990, sofreu muito com o racionamento de energia… morava no bairro Cachoeirinha e as horas sem energia pareciam ter mais que 60 minutos…

Uma Amazônia sem destino já deixa marcas de um genocídio pela indiferença, embora brasileiros, somos poucos e moramos longe. E daí?

Infelizmente, relembrando as palavras de Estrella, “calçar o gigante que tinha o pé de barro (sem energia) com petróleo”, não foi o suficiente diante das enormes desigualdades sociais no Brasil.

“Somos a 9ª economia mundial e estamos na septuagésima segunda posição quanto ao consumo de energia per capita (indicador de qualidade de vida)”, ressaltou o ex-diretor, comparando o hemisfério Norte de invernos rigorosos e a intensidade do calor de nossos verões.

Estrella toca, então, no cerne da questão que defendo seja a força motriz do momento de turbulência que o Brasil e a PETROBRAS vêm passando na última década: descoberto o pré-sal, ‘calçado o gigante’ com energia suficiente ao desenvolvimento de um plano soberano de país que pudesse saldar a enorme dívida social com o povo brasileiro, processou-se a mudança do marco regulatório das reservas do pré-sal: substituindo o modelo de concessão pelo de partilha (Lei 12.351/2010).

A pergunta que não quer calar: só porque ela é Estado, não interessava e não interessa à sociedade brasileira ter a Petróleo Brasileiro S.A. comandando o desenvolvimento do Brasil?

Com quais finalidades difusas estamos acompanhando na história recente do país: espionagem na PETROBRAS, ‘lavajatismo seletista’, aprovação pelo Congresso Nacional do PL 4567/2016 (originalmente, PL 131/15) revogando a Lei da Partilha, e o comportamento entreguista da “PETROBRAX” na gestão Pedro Parente/Castello Branco?

Se o problema era corrupção por organizações partidárias, é inteligente vender o imóvel, nosso patrimônio, a “joia da Coroa”, nossa Petróleo Brasileiro S.A., pois, o meu inquilino foi um porco?

Continuarão omissos nosso ‘capitão’ presidente e nosso ‘general’ vice-presidente diante do entreguista Guedes que continua comandando absoluto o tema aos interesses financistas?

(Continua)

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

Veja também

Pesquisar