Fico apreensivo com análises superficiais e reducionistas sobre a Amazônia, ou mesmo sobre nosso estado, a maior unidade político-administrativa da região. Nos mapas pode parecer tudo próximo e acessível, como também sobrevoando rios e matas, como se estivéssemos num único e idêntico ecossistema, permeado por uma imensa floresta de trópico úmido. Mas não é bem assim . Fazendo um recorte do Amazonas, com seus 1.500.000 kms de m2 aproximadamente, é possível observar as diferenças entre as sub regiões e até mesmo nas áreas microrregionais. Neste texto , pretendo abordar sucintamente algumas destas diferenciações e porque devemos buscar apreendê-las para não cair na tentação de achar que nossa região é de fácil compreensão. Se sua complexidade não for considerada, o
desenvolvimento sustentável será apenas um enunciado de boas intenções.
Gostaria de lembrar que uma visão ecossistêmica de qualquer porção do planeta implica numa leitura de várias dimensões, não apenas a físico-ambiental, mas também a social, a econômica, a política e a cultural. Todas elas são mais ou menos impactantes da realidade local. Precisam ser estudadas isolada e conjuntamente.
Na Amazônia se evidenciam de pronto aspectos ecológicos predominantes, principalmente a floresta e a bacia hidrográfica. No entanto, a floresta e os diversos rios não são homogêneos. Além disso, abaixo da vegetação há diversas formações de solo, de lençóis freáticos e recursos minerais. Como exemplos dessa diversidade cito o fato de que na maior parte das florestas da região do JURUÁ não existem castanheiras nativas, que são abundantes nas regiões do Solimões, Amazonas, Madeira e Purus. Outro exemplo é o da diferença da composição geológica dos chamados rios de água preta, mais límpidos e os de água marrom, barrentos.
E também as grandes diferenças de solo – e de fertilidade – como a existente entre as terras de vários municípios amazonenses do sul do estado, especialmente as próximas ao Acre e Rondônia e as do Rio Negro. Cito aqui a referência do renomado e saudoso geógrafo Orlando Valverde, que afirmava serem as terras do alto rio Envira, no vale do JURUÁ tão férteis quanto as dos Urais, da Rússia e da Ucrânia. Isto tudo sem me aprofundar nas diferenciações de disposição geológica, de rochas como o cascalho e a piçarra , tão abundantes em determinadas áreas do estado e tão escassas ou inexistentes em outras. Além disso, as diferenças climáticas são expressivas, pluviosidade e temperatura que variam muito conforme a maior ou menor proximidade dos Andes, do Mar ou dos cerrados do Centro-Oeste e da distância da linha do Equador. Todos estes e outros componentes ecológicos, como o do regime dos rios, influenciam diretamente a sociedade e a economia hinterlandina.
Outro aspecto importante a considerar é o da expressiva diversidade antropológica e cultural dos habitantes do nosso estado. A presença humana, que vai da nossa grande capital Manaus, passando pelas médias e pequenas cidades até alcançar os locais mais ermos de comunidades indígenas ou de outras populações tradicionais…Como desenvolver políticas públicas homogêneas para realidades tão diferentes?
E não se trata apenas do tamanho de cidades e municípios e povoados, mas de sua formação sociológica e de sua localização geográfica. Assim, aos fatores socioambientais se soma a complexa questão logística dos municípios que não contam com estradas e que no período de vazante dos rios tem o seu principal meio de transporte – o fluvial – muito limitado e oneroso…Ônus que se estende ao transporte aéreo regional mais caro do mundo!
Até hoje pouco se fez para efetivamente reconhecer e procurar compensar as sequelas de tantas desigualdades associadas aos fatores logísticos da Amazônia. E as politicas públicas – em regra – agravam a exclusão social . Exclusão pela geografia, pela distância, pelo abandono.
Nesta breve abordagem acrescento a ineficácia da governança pública federal e estadual- ao longo de muitos anos – diante dos desafios de promover o desenvolvimento integral do nosso estado. Assim, a falta de conhecimento se associa a falta de planejamento e a ausência de atratividade de investimentos em atividades agroextrativistas, agroindustriais, biotecnológicas e minerais de forma sustentável.Aqui predomina uma gestão pública desconcatenada e que se afasta constantemente dos interesses coletivos, com o predomínio de interesses menores . Tudo isto agravado pela cultura política do paternalismo e do clientelismo que grassa no nosso estado tão rico e com tantas pessoas sobrevivendo abaixo da linha da pobreza.
Mesmo assim não devemos perder a esperança de descortínio de um futuro melhor para nossa gente , numa modelagem econômica que não dependa tanto do Polo Incentivado de Manaus e efetive decisivamente o imenso potencial socioambiental do Amazonas!