20 de setembro de 2024

AMAZÔNIA DE VERDADE

Cada dia mais a Amazônia se torna um assunto mundial. O fato de estarmos em uma região que compreende um conjunto de ecossistemas com a bacia hidrográfica do rio Amazonas, considerada a região de maior biodiversidade do planeta e o maior bioma do Brasil, faz deste um lugar diferenciado e muito visado, tanto para bem quanto para mal. Infelizmente muitos que falam neste tema tão importante mundo afora não têm noção do que é de fato a Floresta Amazônica, sua realidade e suas possibilidades. Nos últimos dias todos nós ficamos chocados com o desaparecimento e posterior confirmação do assassinato bárbaro de dois profissionais que se dedicavam à causa ambiental na Região: o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira. Mas este crime inominável envolve questões muito mais complexas, que em um Artigo apenas não seria possível esgotar. Este acontecimento trágico exemplifica, dentre outras coisas, a falta de um ‘planejamento de país’ ao longo de mais de quatro décadas, por vários governantes, diante de uma área tão extensa e importante, com uma fronteira tão vasta e vulnerável como a nossa. Não adiantam só medidas pontuais. É preciso haver um projeto de Estado para protegermos aquilo que é nosso. 

Até mesmo em outras partes do Brasil é fácil ouvir a repetição de frases como: “a Amazônia é nossa”; “vamos preservar a Floresta”…, mas até mesmo estes que ‘gritam’ em outras regiões da Nação, muitas vezes, não fazem a mínima ideia do que realmente significa esta área e nem mesmo se interessam em conhecê-la verdadeiramente. Além do fato de que grande parte da mídia nacional estigmatiza há muito tempo a nossa região e os nossos conterrâneos. Não é de hoje, por exemplo, que o nosso Estado do Amazonas sofre um preconceito descabido de outras partes do país, com zombarias e uma visão preconceituosa para com o nosso povo, como se aqui fôssemos ‘menos Brasil’ que os demais entes da Federação. Há muitos aproveitadores do tema Amazônia, que querem apenas se autopromoverem em cima disso, sem fazer nada de concreto em prol do Lugar. Diversos “especialistas”, “ONGs” e vários pseudo-defensores da Floresta tem apenas o intuito de ganhar visibilidade, dinheiro e posar como pessoas ou instituições ‘ecologicamente corretas’, quando muitas vezes isso é apenas fachada. Está na hora de acabar com todo este teatro e de se levar a sério a riqueza incomensurável que temos em nossa Nação. Aqui nós temos um povo valoroso, que cuida da Floresta e merece viver bem, mas que não pode focar apenas em deixar a área toda intocável, pois é preciso cuidar e proteger, ao mesmo tempo em que se devem criar alternativas para que se produza e se alie desenvolvimento à sustentabilidade. Ou seja, fazer uso dos recursos naturais com racionalidade e responsabilidade socioambiental.

São imensas as possibilidades que temos aqui. Investimentos em biotecnologia, em pesquisas de ponta, na bioindústria e na mineração já era para estarem entre as prioridades do Estado brasileiro há muito tempo, de forma macro, constante, planejada e sustentável. Não podemos satanizar o desenvolvimento, como se este fosse antagônico à conservação da natureza. A descoberta de medicamentos que podem significar a cura para várias doenças, a potencialização e produção em grande escala de produtos como o pescado, o cupuaçu, o açaí, dentre outros que são abundantes em nossa terra, além do investimento em turismo e capital humano, são possibilidades reais e que devem ser levadas em consideração. Não dá para estar em uma região tão abençoada por DEUS sem fazer um uso digno e consciente do que temos, prejudicando e atrofiando toda a população. A Amazônia não é composta só por sua fauna e sua flora, mas também por todas as pessoas que fazem parte de sua realidade, direta ou indiretamente.

Neste âmbito, é preciso debater a Amazônia com a sociedade civil, sem dogmas, com clareza e com honestidade. Em 2022 faz 50 anos da criação do Dia Mundial do Meio-ambiente (comemorado em 5 de junho) e está mais do que na hora de se pautar esta Temática com a seriedade que ela merece, acabando com o ativismo radical e oportunista que ainda existe bastante, com vários “sabe-tudo”, que querem ensinar os amazônidas a lidar com a sua própria terra. É até ridículo ver outras nações, que destruíram suas áreas florestais, quererem dizer como o Brasil deve cuidar da sua biodiversidade, uma vez que somos, comprovadamente, um país que preserva e conserva o seu meio-ambiente. É fato comprovado que existem diversos interesses escusos em nossas riquezas naturais, disfarçados de defesa intransigente da Amazônia. 

É preciso estar atento para que as políticas públicas elaboradas e executadas sejam pautadas nos fatos, com consistência, efetividade e com a participação dos povos da Floresta e de todos os cidadãos. Nossas fronteiras não podem ficar desguarnecidas, à mercê de todo e qualquer tipo de tráfico, contrabando e outros crimes. Tecnologia da Informação, ações de inteligência, diálogo permanente, integração com os povos indígenas e arsenal moderno e eficaz para as Forças Armadas estão entre as atitudes indicadas para que possamos aumentar o nível se segurança e paz em toda a nossa terra. Investir na região amazônica (com visão, planejamento e controle) é investir na própria soberania do nosso país, com a garantia da independência e do desenvolvimento a longo prazo. O Brasil tem tudo para ser uma grande potência econômica e ecológica. 

Lisandro Mamud

Lisandro Mamud é administrador, pesquisador em Inovação, Tecnologia e Educação do Núcleo Educotec (Ufam)

Veja também

Pesquisar