Janeiro de dois mil e vinte e três. Numa manhã frienta em Davos, chegaram juntos para o Fórum Econômico Mundial Ajuricaba, Chico Mendes e Pelé. Diante dos repórteres do mundo inteiro, eles pararam para dar uma entrevista. Chico Mendes que parecia ser o chefe daquela comitiva, foi logo dizendo:
— Fomos convidados pela ministra Marina da Silva para contribuir no painel sobre questões climáticas globais.
— O senhor gosta muito do verde, não é senhor Chico Mendes? – perguntou um repórter japonês.
— Eu gosto do preto, do branco, do vermelho, do amarelo. Eu gosto de todas as cores. Mas a minha cor preferida é o azul, a cor do céu – respondeu Chico Mendes.
— Por falar em céu, é verdade que a cor dos anjos estão mudando devido ao aquecimento global? – perguntou um repórter americano.
Foi quando Ajuricaba, visivelmente chateado com aquela pergunta, pegou o microfone e começou a falar:
— Que cor você acha que é a cor dos anjos?
Quando o repórter já ia se preparando para responder, Ajuricaba continuou:
— Vocês têm uma visão muita errada do céu, de Deus, dos anjos… Fala para eles Pelé como é a vida por lá?
— Eu não Ajuricaba, fale você! Eu acabei de chegar e ainda não conheço muito bem o paraíso. Até agora só deu tempo para eu conversar com o Garrincha, o Nilton Santos…
— Por falar em paraíso, o que o senhor acha da imensidão do universo? – perguntou uma repórter da Argentina.
— Eu pensei que você ia me perguntar se eu já tinha me encontrado com o Maradona! – e todos riram as gargalhadas.
— Falando sério senhor Pelé, você acha que a terra é plana? – insistiu a repórter argentina.
— Se a terra é plana eu não sei, sei que vocês precisam fazer alguma coisa para preservar a vida na terra – respondeu Chico Mendes.
— E sobre a floresta Amazônica, senhor Ajuricaba? – perguntou uma repórter portuguesa.
— O maior pecado do ser humano é a ganância. Não se pode tirar da natureza além do necessário para sobreviver…
— E sobre os povos originários, senhor Chico Mendes? – perguntou um repórter alemão com sotaque português.
— Eles são os verdadeiros guardiões da floresta, da cultura, da religião, dos usos e costumes da nossa gente; eles precisam ser ouvidos, consultados, reconhecidos e valorizados.
— E a respeito desse encontro, me digam, o que vocês estão fazendo aqui? – perguntou uma repórter francesa.
— Ora, ora, senhora repórter, não poderíamos ficar de fora dessa partida, afinal não é aqui que se decidem o futuro da humanidade? – respondeu Pelé.
Na mesma sintonia, completou Ajuricaba:
— É aqui que estão os países mais ricos do mundo, o dinheiro do mundo; é aqui que são fechados os acordos econômicos mais importantes do mundo; é aqui que se decide o quanto cada país deve investir em saúde, educação, cultura…
— Pelo amor de Deus, vamos cuidar de nossas crianças – insistiu Pelé.
— Pode me dar uma definição de cuidado? – perguntou um repórter da Holanda.
— A melhor definição de cuidado que eu conheço é a do teólogo brasileiro Leonardo Boff: Diz ele: “Cuidar é uma atitude de preocupação, de responsabilidade, de envolvimento com o outro”; enfim, cuidar é um ato de amor – disse Marina da Silva.
— A verdade nunca foi a primeira virtude de um político! – respondeu para a ministra um repórter italiano.
— Por que você diz isso? – indagou a ministra Marina da Silva.
O clima ficou tenso. Foi aí que uma repórter cubana se meteu no meio dos dois:
— Desculpe o meu colega por incomodá-la senhora ministra, é que nessa entrevista só tem gente que já morreu e a senhora….
— Um momento por favor – interveio um outro repórter e dessa vez venezuelano. E completou: — Como dizia o nosso comandante Hugo Chávez, o paraíso é para todos!
— Lá vem você com essa ideia comunista – protestou Pelé.
— O paraíso é somente para os justos, os honestos, para as pessoas boas de coração – completou Chico Mendes.
E todos foram surpreendidos quando Jean-Luc Godard pediu que os brasileiros famosos dessem uma declaração em conjunto. Marina da Silva adiantou-se e disse:
— “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Pelé, Ajuricaba e Chico Mendes se abraçaram longamente e concordaram positivamente com a frase de William Shakespeare dita pela ministra.