4 de outubro de 2024

Aguardando o determinismo histórico (Parte 10/12)

Sequenciando a abordagem dos temas culturais levados a Congresso por Márcia Tiburi, quando organizadora de eventos do gênero e cuja listagem parcial consta do artigo imediatamente anterior a este (Parte 9), posto nesta mesma estação de escritos semanais, voltamos então a dar-lhe curso, como segue: “Jornada Psicanalítica. Conhecimento e Incesto”; “A Questão de Sócrates” (2006); “II Congresso Escola Família”; “O Olhar, o Pensar e o Agir” (2005). Sabe-se, a notável filósofa teve participação em Bancas Examinadoras de Nível Superior, alcançando ainda a função de Julgadora e Orientadora. Foi, ademais, Promotora Bibliográfica, assinando alguns trabalhos, como “Lobisomem juvenil”; “A filosofia e seus conteúdos desprezados”; “O filósofo Arthur Danto como Andy Warhol”; “Diadorim: Biopolítica e Gênero Metafísico do Sertão”; “Direito Visual à Cidade.” Atualmente se volta para a abordagem de projetos de pesquisa assim: “Filosofia Prática”; “Estudos dos Meios de Comunicação de Massa”; “Indústria Cultural e Cotidiano”; “Pesquisas Culturais e Educação”; Manifestações Sociais e Internet”.

Por fim, acentuadas homenagens, tais como Diploma Mulher/Cidadã Carlota Pereira de Queiroz, conferido pela Câmara dos Deputados; Prêmio Portugal Telecom 2013, com o romance “Era meu esse rosto”; Indicação ao Prêmio Jabuti 2011; “Filosofia Brincante”; da Câmara Brasileira do Livro; e novamente com “Olho de Vidro”, da mesma instituição. Registra outras notáveis atividades profissionais, como Professora Adjunta na Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pesquisadora e Desenvolvimentista no Centro de Educação Filosofia e Teologia; Professora Assistente na Universidade La Salle (Canoas).  

Cabe agora discorrer sobre a figura de outro filósofo brasileiro, marxista, segundo o anunciado aqui proposto de início. No caso Leandro Konder, ou Leandro Augusto Marques Coelho Konder, natural de Petrópolis (RJ) – 03. Jan. 1936 a 02. Nov. 2014. Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e em 1984 obteve ali o título de doutor em filosofia. Advogado criminalista e trabalhista, até a sua demissão dos Sindicados, visto o Golpe Militar/64. 

Era filho do líder comunista e médico sanitarista Valério Konder. Numa passagem de sua vida Leandro revela verbis: “Com 15 anos entrei no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e fiquei lá por mais de 30 anos. Era o Partidão, como era chamado, e depois de 45-50, já estava fazendo campanha pelo papai, quando ardia a seguinte equação sabe-se lá se incógnita, longa e intrínseca: Para nós como poderíamos deixar de ser homens burgueses? É possível, claro que é possível, mas o caminho seria um projeto de criação de bases para um homem não burguês. A sociedade burguesa, tal qual ela está organizada; o capital, que surgiu em torno do mercado, nos deforma”. Diz mais nesse tom, “Tenho consciência de que, desde os tempos em que eu matava as tarefas do Partido, já nos idos de 1950, eu tenho algo de burguês preguiçoso. Mas a clareza de que é possível criar um homem novo se você tiver instituições novas, uma sociedade nova – e isso foi tentado e não funcionou. O Socialismo, por enquanto, não criou isso. Não estou dizendo que não tenha jeito. Não é assim. Sinceramente, espero que tenha. Mas não é fácil. Pode crer que apareça no curriculum de todos nós, não é mesmo?”

Segue-se o histórico da trajetória intelectual de Leandro Konder, mas quando antes coube ali ao final, uma advertência sobre o efeito de natureza cadastral do que pode ser prejudicial na vida de todos, quer dizer o curriculum vitae. Assim, assegura que as revelações no citado item pessoal poderão ser a ponta do iceberg, sendo o elemento mais ostensivo de uma ideologia que nos envolve e nos enlaça nos princípios do mercado capitalista. É mesmo a expressão de um pensar que inculca nas cabeças aquela “mentalidade de cavalo de corrida” a que se refere a escritora Dóris Lessing. Não se deve confessar o elevado coeficiente de fracasso existencial, porque devemos ser competitivos. A propósito, Camões, o genial Camões, autor de tantos poemas líricos maravilhosos, é inacreditável mas não poderia como o fez ter colocado em seu curriculum vitae o verso famoso: “Errei todo o discurso dos meus anos”. (Continua).

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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