Bosco Jackmonth*
Tendo em conta tudo o que já se abordou largamente a respeito deste assunto, terminamos o último artigo anotando que raramente a raça humana se satisfaz com o que alcançou. Na verdade, a reação mais comum da mente humana a uma conquista não é satisfação, e sim o anseio por mais. A busca de algo melhor, mais palatável a, eis o desejável. Mesmo quando estivermos na posse de novos e imensos poderes, e quando a ameaça da fome, das pestes e da guerra por fim for afastada, o que faremos? O que farão o dia inteiro cientistas, investidores, banqueiros e presidentes? Escrever e se pronunciar sobre amenidades?
O sucesso alimenta a ambição, e nossas conquistas recentes estão impelindo o gênero humano a estabelecer objetivos ainda mais ousados. A partir de assegurar níveis sem precedentes de prosperidade, saúde e harmonia, e considerando tanto nossa história pregressa como nossos valores atuais, as próximas metas da humanidade serão provavelmente a imortalidade, a felicidade e a divindade.
Por inanição reduzimos a mortalidade, a doença e a violência; objetivaremos agora superar a velhice e mesmo a morte. Quanto à miséria abjeta salvaremos as pessoas; temos agora de fazê-las positivamente felizes. Tendo elevado a humanidade acima do nível bestial da luta pela sobrevivência, nosso propósito será fazer dos humanos deuses e transformar o Homo sapiens em Homo deus.
No século XXI, é provável que os humanos façam um lance sério para aquisição da imortalidade. A luta contra a velhice a morte será tão somente a continuação da batalha consagrada pelo tempo, contra a fome, e uma manifestação do valor supremo da cultura contemporânea: a valorização da vida humana. Constantemente somos lembrados de que ela é o que tem de mais sagrado no universo. Dizem todos isso: professores nas escolas, políticos nos parlamentos, advogados nos tribunais e atores nos palcos de teatros. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) pós a Segunda Guerra Mundial – que talvez seja o que há de mais próximo de uma Constituição global – declara categoricamente que o “direito à vida” é o valor fundamental da humanidade. Por se constituir em uma clara violação desse direito, a morte é uma crime contra aquela, e temos de travar uma guerra contra tal.
As religiões e ideologias, durante a História, não santificaram a vida em si mesma. Algo que está acima ou além da existência terrena é que sempre foi santificado, consequentemente foram bem tolerantes com a morte. De fato, algumas delas mostraram-se bastante afeiçoadas ao Anjo da Morte. Uma vez que o cristianismo, o islamismo e o hinduísmo insistiam que o significado de nossa existência dependia da sina do pós-vida, elas consideravam a morte como parte vital e positiva do mundo. É que humanos morriam porque Deus assim decretava, e o momento de sua morte era uma experiência metafísica sagrada e repleta de significado. Quando um humano estava próximo de seu derradeiro suspiro, era hora de convocar sacerdotes, rabinos e xamãs, fazer o balanço de sua vida e assumir seu verdadeiro papel no universo. Tente-se imaginar o cristianismo, o islamismo ou o hinduísmo em um mundo sem mortes – o que seria também um mundo sem céu, inferno ou reencarnação. A ciência e a cultura modernas têm um visão totalmente diferente da vida e da morte
Põe-se a assegurar a História que não pensam nesta última figura como um mistério metafísico, e certamente não a veem como a fonte do sentido da vida. Na verdade, para as pessoas modernas a morte é um problema técnico que pode e deve ser resolvido.
Como exatamente morrem os humanos? Histórias fantásticas medievais descrevem a Morte como uma figura envolvida por um manto negro com capuz, empunhando uma grande foice. Um homem vive sua vida, preocupando-se com isso e aquilo, correndo para lá e para cá, quando subitamente o Anjo da Morte surge à sua frente, bate nos seu ombro com um dedo esquelético, e diz: “Venha!”. E o homem implora: “Não, por favor! Espere só um ano, um mês, um dia!” “Não, Você tem de vir AGORA!” E, é assim que morremos. (Continua).
Advogado de empresas (OAB 436/AM). Ex-funcionário do Banco do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto as agências bancárias locais, comissionado a ordem do Banco Central. Cursou Comunicação Social (Jornalismo); Contabilidade. Lecionou História Geral.