Já contamos nossos mortos aos milhares, país afora. Isolamento, medo e incerteza viraram rotina, assim como as notícias sobre a escalada do desemprego e o desespero de pequenos empreendedores. Mas, em meio às perdas financeiras e ao caos sanitário provocados pelo tsunami do coronavírus, podemos comemorar – e precisamos continuar comemorando – uma vitória importante: a solidez de nossa democracia e a maturidade de nossas instituições, que têm mostrado vigor suficiente para driblar farpas políticas e manifestações goIpistas.
Incentivar conflitos internos, embates federativos e ataques a instituições e liberdades democráticas é mais do que um desserviço ao Brasil. É um desvio injustificável e inaceitável de foco e de energia num momento em que precisamos passar por cima de diferenças políticas para enfrentar o Sars Cov 2, um inimigo invisível, imprevisível e poderoso, que desafia governos, autoridades sanitárias e ciência. Nessa hora, radicalismos de quaisquer espécies são péssimos conselheiros.
Mesmo que pareça óbvio, o discurso de união que especialistas, analistas e tantos líderes repetem como um mantra nessa pandemia não encontra acolhida por parte de quem alimenta a intolerância como visão de mundo. Ainda há quem queira retirar do baú da história fantasmas adormecidos nesses 35 anos de redemocratização. A defesa do autoritarismo, da volta à censura, de ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal surge como uma afronta a uma nação que reconstruiu, com tanta luta, os pilares de liberdades e direitos fundamentais, consolidados na Constituição de 88.
Esses, que não souberam aprender com a história, nem conseguem abrir ouvidos e corações para o sentido de cidadania e solidariedade que a calamidade exige, são minoria, felizmente. Podem fazer barulho, mas não vão abafar a voz das nossas instituições, muito menos colocar em risco a estabilidade democrática brasileira, já testada recentemente em dois processos de impeachment.
Tanto o Judiciário quanto o Legislativo têm sido enfáticos na defesa da Constituição Federal, que norteia direitos individuais e coletivos. Câmara dos Deputados e Senado Federal vêm dando demonstração firme de compromisso e responsabilidade, ao votarem, de forma célere, dezenas de projetos de lei e medidas provisórias capazes de minimizar os impactos da pandemia no dia a dia de empresas e cidadãos. O Brasil tem pressa e a prioridade é salvar vidas e empregos.
Depois que a primeira onda desse tsunami passar, ainda precisaremos de maturidade e equilíbrio político para o enfrentamento da segunda onda – a recuperação econômica e social pós-pandemia. Nesse mundo pós-coronavírus, também não poderá haver espaço para radicalismos e afrontas à democracia. Esquerda e direita, modelos heterodoxos ou ortodoxos deverão ser conceitos ultrapassados diante dos novos fundamentos da economia. No Brasil pós-pandemia, o passado não terá vez – arautos de um passado autoritário, muito menos.
No Brasil do futuro, lideranças de todos os matizes ideológicos terão que se sentar à mesa, junto com representantes da sociedade civil, para decidir qual será a nova dimensão do Estado e da máquina pública. Só a partir daí poderemos construir uma reforma tributária e um plano robusto de recuperação econômica.
Na área política, a lição que tiramos desse tempo de calamidade é que diálogo e transparência precisam dar o tom das relações entre os três Poderes, em todas as esferas. E, nesse novo formato de nação, que pretendemos mais justa e menos desigual, nosso maior trunfo continuará sendo, assim como nos últimos 35 anos, a força da nossa democracia.
*Eduardo Braga é Senador pelo MDB/AM
Fonte: Eduardo Braga